07. I'm on fire

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Como a maré, a clientela do Wolfgang Pub funcionava com dias e horários mais ou menos certos para encher ou esvaziar a casa. As terças-feiras, por exemplo, tranquilas e de menor movimento, sequer se assemelhavam aos sábados agitados e lotados. Ainda assim, naquela terça, já passava de uma hora da manhã quando os últimos clientes – um grupo de universitários comemorando um aniversário – fez soar o sininho sobre a porta, dando uma série de tchauzinhos e mandando beijos no ar. Wren riu, diminuindo o volume do som, e suspirou, se vendo obrigada a recomeçar as contas do dia.

Acostumada à rotina, ela sequer ergueu os olhos da calculadora quando Zach apagou, uma a uma, as luzes do salão, deixando-os iluminados apenas pela luz amarela dos pendentes sobre o bar e pelos reflexos arroxeados do neon sob as prateleiras.

– Vai demorar muito aí? – ele perguntou, apoiando na pia atrás dela a bandeja repleta de copos e canecas sujos.

– Não... – ela apertou as teclas da calculadora algumas vezes, separando a comanda referente ao valor lançado, e riu ao encontrar ali um papel que não pertencia àquela pilha – Zach – começou a ler do guardanapo marcado por uma letra redonda. À pia, ele girou a cabeça em sua direção e ergueu uma sobrancelha, curioso ao ouvir o próprio nome –, você é completamente gato. Me liga! – Ela o encarou e sorriu, os olhos brilhando em malícia – Acho que isso é seu, Byrne...

Ele apenas revirou os olhos, rindo.

– É culpa do meu magnetismo animal, Wrenie... – Deu de ombros, continuando a lavar a louça suja. Como previra, ela gargalhou, escorregando para fora de seu banco.

– Aqui – ergueu o papel entre os dedos indicador e médio, sem tirar os olhos das suas íris castanhas. Aproximou-se um pouco mais, passo a passo, até que a mão livre encontrasse o bolso traseiro do jeans surrado dele, agilmente afastando-o e encaixando ali o bilhete – Você não quer perder o número da Taylor... – ela sorriu, falando macio apenas pela piada, e se apoiou no cós da calça dele ao ficar na ponta dos pés e sussurrar em seu ouvido – Ou do Taylor – cravou a provocação, risonha.

Byrne a encarou sobre o ombro com uma sobrancelha erguida, tentando ignorar todo aquele contato físico e o pequeno arrepio que ele lhe provocava.

– Ha-há – fingiu rir, encarando a tarefa à sua frente e encontrando a resposta perfeita para ela na água corrente à sua frente. Com os dedos, espirrou um punhado de água em sua direção.

– Hey!

– Não é você que gosta de brincar? – ele espirrou mais um pouco, rindo, e ela o acompanhou.

– Ah, é guerra que você quer? – Se inclinando para a frente, ela alcançou a torneira, dando um banho nele.

Um banho literal.

O pedaço de metal saíra da parede em sua mão, um jato único jorrando à toda pressão sobre ele. Ela deu um pulo para trás, assustada, e o encarou boquiaberta enquanto Zach tentava, ao mesmo tempo, se proteger da água e tampar o buraco com as mãos.

– Wren, o registro!

Ela correu para fechar a válvula, mas, por mais rápida que tivesse sido, o estrago já tinha sido causado: Zach estava ensopado.

– Eu... Vou pegar alguma coisa pra você se secar – ela praticamente balbuciou, culpada, e desapareceu em direção à cozinha, quase rápido demais para vê-lo concordar com um movimento da cabeça.

Munida de uma quantidade descomunal de papel toalha, ela voltou a tempo de vê-lo afastar do rosto os cabelos negros, encharcados, enquanto analisava o estrago na peça quebrada.

Em Alto e Bom SomWhere stories live. Discover now