11. Don't let me be misunderstood

57 14 14
                                    


Wren tentou simplesmente suprimir a raiva que sentia. E ela até conseguia, na maior parte do tempo. No entanto, antes que percebesse e por qualquer razão ou motivo, sua irritação voltava, como um zunido insistente no ouvido do qual alguém não consegue se livrar.

Nessas horas, em que o ruído se tornava quase incontrolável, ela precisava repetir para si mesma a decisão que tomara com relação a Byrne. Não o demitiria — ao menos, não pelo motivo que alimentava o seu crescente desgosto pelo rapaz. A burrada de beijá-lo, no fim das contas, partira dela e aquele erro não seria corrigido com um outro. Ela é quem não ia permitir que se tornasse a chefe assediadora que demite o funcionário com quem tentou dormir.

Mas que merda.

Depois de obsessivamente exaurir as possibilidades de se culpar pela situação em que se metera, ela retomava o mantra que vinha repetindo desde a manhã seguinte ao acontecido: ele vende tequila como se fosse água no deserto. Então ela respirava fundo e sorria, terminando de atender o cliente da vez.

E, que grande ironia, tequila era exatamente o que Zachary servia no momento, sob o olhar atento e desejoso de duas garotas que mal deviam ter idade para beber de forma legal.

Ela se afastou, secando alguns dos copos no escorredor. A fotografia do garotinho, sorrindo sobre o bolo de aniversário, lhe veio à mente.

Filho. Da. Puta.

— Você vai acabar quebrando esse copo — a voz, próxima, fez com que ela se assustasse e piscasse para Doyle, recém-chegado e sentado no banquinho mais próximo a ela. — O copo — ele repetiu, notando seu desconserto. — Você está segurando tão forte que vai acabar quebrando.

Ela fitou os nós dos dedos, brancos, e afrouxou o aperto, apoiando o copo no balcão.

— Vai querer a cerveja de sempre? — Ela se pôs a servi-lo assim que ele concordou com um aceno. Quando o fitou novamente, Doyle assistia ao sobrinho, enquanto este cortava limões e sorria, envolvido na conversa com as duas clientes.

— Trabalhar aqui fez bem para ele.

Ela não respondeu ao seu sorriso, apenas lançando um olhar a Byrne.

— Posso imaginar o porquê — resmungou, passando um pano na superfície já limpa do balcão.

O tom amargo de sua voz e a ruga que surgiu entre as suas sobrancelhas não passaram despercebidos por ele, que deu um longo gole da sua bebida.

— Algo errado, menina?

Mais uma vez, Wren foi pega de surpresa e o encarou por um instante antes de responder.

— Não, nada — fungou, reorganizando algumas das garrafas próximas e tentando ignorar a vozinha no fundo da sua cabeça, sem muito sucesso — São só vocês dois? — Ela perguntou, por fim, da forma mais desinteressada que pôde simular — Digo, morando juntos?

— Tecnicamente, sim... — ele tomou outro gole, deixando-a com a impressão de que escolhia bem as próprias palavras — Mas o inferno vai congelar antes que eu me torne o tipo de velho que sai contando a história dos outros por aí, eh? Se quiser saber algo, pergunte a ele — gesticulou amplamente na direção do sobrinho e Wren sorriu, mais por constrangimento que por achar alguma graça na bravata do mais velho.

— Céus, Doyle! Eu só queria saber se você já tinha pedido a sra. Adams em casamento... — provocou, sabendo que aquilo seria o suficiente para desviar o foco dele — Vou lá dentro, qualquer coisa chama o Zachary, ok?

*****

— Ainda não acredito que você e a Vanessa tiveram um filho! — Valentine riu, estirando os pés sobre uma cadeira próxima.

Em Alto e Bom SomWhere stories live. Discover now