she said hello

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Suspirou pesadamente enquanto encosta a cabeça na parede de um beco que se escondeu. Podia sentir o vento refrescante mesmo daqui. O sol se faz presente por todo o bairro, iluminando até aqueles que não queriam tal luz. O clima é totalmente agradável, é primavera em Paris. O oposto de Jennie.

Não faziam nem cinco minutos que ela havia deixado a estação de trem cuspindo fogo, não era preciso algum esforço para notar a raiva fluindo por todo seu corpo enquanto caminhava quase afundando os pés no concreto, sequer devolveu um sorriso que uma velha senhora lhe ofereceu ao vê-la. Quanta maldade.

Mas Jennie não conseguia se culpar, não conseguia culpar ninguém além do seu estúpido namorado.

Depois de sua aula de música, ele a ligou e estragou todo o seu entusiasmo com as coisas novas que aprendeu quando veio mais uma vez com o assunto: Quando você volta?

Desde que viajou para Paris ele não passa um dia sem encher sua paciência perguntando quando diabos ela iria voltar. Sempre acabava com a Jennie animada que atendia o celular. Ele não poderia ficar feliz por mim?

Dessa vez embarcaram em uma briga mais tensa, Jennie não poupou palavrões e Kai se perguntou como ela sabia tantos deles.

A conversa, ou melhor, briga, terminou antes de Kai concluir alguma frase que Jennie não prestou atenção.

Seu celular tinha descarregado.

Faziam dois dias que Jennie perdeu seu carregador em algum café perto do dormitório, estava sobrevivendo com uns emprestados da escola.

E lá estava ela, andando pelas ruas de Paris enquanto procurava alguma loja aberta na força do ódio. Depois de umas cinco lojas em que ela quase chutou as portas, achou uma com a plaquinha escrito: Aberto.

Se assustou com o barulinho do sino acima da porta ao entrar, e por alguns segundos se esqueceu de toda sua raiva.

Avistou uma mulher de costas atrás do balcão organizado, e nem esperou mais um segundo ao se aproximar.

- Com licença, você tem carregadores aqui?

Os fios castanhos viraram em sua direção finalmente revelando seu rosto. Seus olhos grandes castanhos miraram os de Jennie com curiosidade, provavelmente por ser a vendedora e querer saber do que ela necessita. A mão da vendedora se ergueu por pouco segundos com o objetivo de tirar alguns fios de sua franja dos olhos.

- Quoi?

Jennie gelou em um mini desespero quando ouviu a palavra em francês sair dos lábios da jovem de cabelos castanhos... Ou loiros? Jennie não sabia dizer ao certo. A musicista sabia pelo o seu pouco conhecimento da lingua - e bote pouco nisso - que isso significava que a vendedora de olhos bonitos não havia entendido o que ela disse.

Seus dedos apertaram a alça da bolsa transversal apoiada no ombro tentando achar um jeito de explicar da maneira menos idiota possivel o que ela estava procurando.

Não deu muito certo.

- Ah.... Carregador... - Levantou seu celular. - Sabe?... Celular. - A vendedora observava a mímica ridícula que Jennie tentava fazer apontando para a entrada do celular como se estivese falando com um povo indígena.

- Ce... lular? - A morena-loira repetiu com um sotaque carregado e se assustou quando a menina de dentes pequenos bateu as mãos no balcão como se sua seleção tivesse acabado de ganhar a copa do mundo.

- Isso!

Mas a animação de Jennie logo se foi quando acompanhou a expressão da vendedora voltar a confusão de antes, soltou um gemido de frustação apoiando sua testa contra o balcão. Ela só queria um carregador para voltar para seu dormitório e dormir pelo resto do dia e a metade do dia seguinte também.

- Pare de zoar com a cliente, Manoban.

Sua cabeça se ergueu imediatamente ao ouvir a voz doce que veio de uma loira passando atrás da vendedora com algumas caixas de jogos em seus braços. Seu corpo pequeno e fino era coberto por um vestido branco com saia rodada até a metade das coxas. Jennie se perguntou se ela conseguia carregar aquilo com facilidade. Ela seguiu para o outro lado da loja.

Só então percebeu o que ela tinha falado, seus olhos voltaram para os da vendedora que havia mudado completamente de expressão. Os olhos curiosos e confusos foram substituídos por um olhar divertido, em seus lábios um sorriso sapeca como se uma criança arteira tivesse sido pega no meio de sua arte.

Jennie fechou os olhos e respirou fundo se segurando para não jogar o seu celular no rosto daquela vendedora.

- Você fala inglês, não é?

Ouviu uma risadinha e então abriu o olhos sendo pega pela visão da vendedora apoiada no balcão, mais perto da musicista.

- Um pouco.

Balançou a cabeça com um ar de riso, mas Jennie se surpreeendeu quando ouviu as palavras que apesar de terem sido ditar em inglês, ainda carregavam o sotaque forte. Então ela é daqui mesmo.

Assentiu sentindo um rubor crescendo em suas bochechas, estava envergonhada de ter gastado suas mímicas á toa.

Nem se deu conta que encarava um espaço vazio aonde a pouco segundos atrás estava a moça de olhos castanhos.

Olhou para trás em buca da desaparecida quando viu um vulto entrando em um dos corredores, não demorou ao segui-lo.

Não era dificil saber onde ela estava pois os coturnos pretos batendo contra o chão faziam um barulho abafado, marcando o caminho para Jennie seguir

Seus olhos seguiram o braço magro se esticando para pegar um dos carregadores pendurados em uma prateleira alta que Jennie com certeza não alcançaria, mas a vendedora o fez com facilidade. Como se ela já soubesse que a musicista não conseguiria por conta própria.

- Obrigada... - Murmurou ao pegar o objeto da mão, que por sinal Jennie percebeu que era enorme perto da sua.

- Olá.

Ela disse Olá.

Jennie levantou os olhos, sem se importar em esconder sua expressão confusa. Mas não demorou para se dar conta de que não tinha cumprimentado devidamente a de olhos castanhos.

Por mais que seu sotaque fosse forte, de alguma maneira ela conseguia pronunciar com a voz suave. Jennie apenas se deu conta da proximidade quando sentiu um perfume invadir todos os seus sentidos, cheirava a flores.

- Olá. - Disse estranhando a formalidade. - Sou Jennie.

A vendedora solta um sorriso gentil e Jennie apertou o carregador entre os dedos. Quantos sorrisos essa garota tinha?

Sua expressão confusa voltou a marcar presença quando se deu conta de que ela apenas tinha assentido e girou os calcanhares, voltando a andar em direção ao balcão com seus coturnos barulhentos.

-Hum... Seu nome?

Jennie perguntou de forma insegura, na maioria das vezes ela não era mas tinha acabado de dar o seu nome para uma completa estranha e a mesma não disse uma palavra.

- Por que não volta aqui amanhã e descobre?

A olhos castanhos diz sem se virar e antes que Jennie possa dizer algo, ela sai de sua vista.

Jennie não iria admitir se perguntassem, mas ela queria muito voltar para descobrir.

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paris | jenlisaWhere stories live. Discover now