III - O Segredo de Zara

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No dia seguinte, ele foi ao quarto da irmãzinha e deu-lhe um beijo no rosto enquanto ela dormia. Arrumou-se no horário e tomou café da manhã com sua mãe. Aproveitou para conversar com ela.

— Meu tempo está ficando mais apertado depois que as aulas começaram na Universidade. Eu gostaria muito de poder conversar mais com você e a Sophia.

— Também queria muito e aquele assunto sobre você não ter conhecido o seu pai.

— Por favor, não gosto de falar sobre isso.

— Por isso mesmo. Acho que a ausência do seu pai deixou você mais inseguro para encarar a vida. Tudo vai mudar daqui por diante e algum dia você vai precisar se virar por conta própria... Mas pode contar comigo para o que precisar.

— Vou conseguir superar isso. Vamos mudar de assunto. Conheci uma garota. O nome dela é Zara e mãe... Acho que estou apaixonado pela primeira vez de verdade.

— Cuidado, meu filho para não se machucar. Você ainda é muito jovem.

— Tá bom. Vou devagar e nem sei se a coisa é real. Sabe como sou inseguro.

— Se dedique ao curso e vai tranquilo com o namoro. De qualquer modo, desejo boa sorte com essa garota. Eu conheço os pais dela?

— Não. Ela é da Costa Leste. Ninguém a conhece e eu acho que ela é meio misteriosa.

Eles sorriram um para o outro. Depois, deu um abraço apertado nela e saiu. Lorena ficou surpresa com a mudança de comportamento do seu filho, observando o sorriso bobo que não saía mais do rosto dele. Sabia o que estava acontecendo e sorria, lembrando-se de como era bom ser jovem, e ter as alegrias do primeiro amor.

Quando sentou no ônibus, Nícolas pensou em como seria encontrar-se com Zara na sala de aula, depois dos acontecimentos do dia anterior:

"Será que ela realmente sente algo por mim? Ou aquele foi apenas um encontro passageiro? Zara corresponderá ao que eu sinto por ela?", Ele suspirava, lembrando-se das feições dela, sua inteligência, a voz macia...

O jovem chegou mais cedo na faculdade e foi para a sala de aula. Sanches chegou todo agitado e, assim que viu o amigo, notou que ele estava diferente. Curioso, começou a indagá-lo sobre o que estava acontecendo, mas Nícolas nada disse; se manteve distante o tempo todo.

Ele preferiu não contar nada do que aconteceu para Sanches até que o namoro ficasse estável. O amigo iria querer saber detalhes que ele não estava disposto a falar, talvez nem acreditaria e ainda, de quebra, iria tirar sarro dele o dia todo.

— Chegou cedo, amigo. Sempre me espera no pátio até todos entrarem. O que houve?

— Nada demais. Estou aqui sentado, refletindo sobre a vida.

Ficaram conversando até que o doutor Glein entrou na sala de aula. Ele cumprimentou a todos e começou a aula daquela manhã, sobre a Teoria da Relatividade. Os alunos observavam suas explanações atentamente, no entanto Nícolas olhava para a carteira vazia ao seu lado. Onde ela estaria? Será que estaria fugindo dele?

Mas, para seu alívio, depois de algum tempo Zara chegou, atrasada, com um jeito aéreo. Sorriu para o garoto e se sentou quieta. Nícolas também ficou sem palavras e sorriu de volta.

Na hora do intervalo, ele correu pelo pátio da faculdade atrás de Zara, até encontrá-la.

Ela estava tomando um suco de laranja sentada à uma mesa sozinha, enquanto em uma mesa próxima, os outros alunos a observavam fazendo comentários sobre a possível origem dela. Coisas de jovens que não tinham o que fazer. Pois se quisessem saber mais sobre ela, era só perguntarem. Como Nícolas fez. Demorou, é claro, mas o fez.

Os Filhos do TempoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora