— Eu... — ele começou a falar. — Eu... sinto muito pelo seu pai, de verdade, eu sinto. — Ele baixou o olhar para a grama a seus pés.

Não tive resposta para sua lamentação, pois ela me parecera sincera, e ultimamente eu só o via como um inimigo. Um silêncio perturbador se instalou entre nós, e o único som que ouvíamos era os dos animais na floresta.

— Acho melhor voltar para o acampamento — ele disse se virando para sair.

— Howard — o chamei por impulso. Ele parou se virando para me olhar com curiosidade.

As palavras que eu ia dizer se desfizeram no ar quando abria a boca novamente. Foi quando eu percebi o quanto eu estava quebrada.

— Algum problema? — Howard perguntou parecendo preocupado.

— Não é nada — suspirei. — Desculpa, pode ir.

Howard me olhou intrigado, entretanto decidiu se retirar. Antes que ele chegasse perto da árvore mais próxima, voltei a sentir a dor no peito. Não queria ficar sozinha, e no entanto, não queria voltar para o acampamento.

— Howard — o chamei novamente. Ele se virou no mesmo instante. — Você pode ficar aqui, comigo? — perguntei antes de perder a coragem.

                       ★★★

Lembro-me do dia em que assumi o lugar de meu pai em nosso clã; lembro-me de que dois dias depois, minha mãe pediu-me que aceitasse Howard como um de meus guardas pessoais. Ela disse que, o fato dele ter sido treinado desde os sete anos no acampamento das montanhas do sul, o qualificavam como um guerreiro de confiança.

Realmente ela estava certa. Howard se mostrou o melhor guerreiro que já havia visto, e mesmo seu poder não sendo tão grande como os de alguns Drak, ele o fazia se tornar letal. Soube depois de algumas semanas que ela mesma o trouxera do vilarejo das montanhas do sul, o que me fez questionar o porquê dela ter feito algo do tipo com alguém, que claramente não era tão mais velho que eu.

Sempre imaginei que se ela colocasse alguém para cuidar de mim — como ela disse —, seria alguém mais velho, mais sábio, alguém como Bert, e no entanto, fui eu mesma que optei por Bert, já ela, escolheu alguém jovem e não tão experiente, apesar de todo seu treinamento.

Quando descobri a que família Howard pertencia, todas as peças do quebra cabeça se encaixaram, principalmente quando minha mãe ficava sabendo de todos os meus movimentos.

Howard Riagáin, filho de Mihangel Riagáin, que é primo de minha mãe e consequentemente, sobrinho do meu avô materno. O pai de Howard era primo de minha mãe, a mesma família fria e calculista. Portanto, Howard era a pessoa certa para ser o espião de minha mãe. Além do que, era seu pai o comandante dos exércitos e do nosso vilarejo do sul.

Entretanto, Howard não era ninguém inconveniente, muito pelo contrário, ele sempre ficava calado, falava somente quando questionado sobre algo, e sempre obedecia sem reclamações. Seu único defeito era a lealdade à minha mãe, no entanto, eu pretendia mudar isso.

— Por que Meliha iria querer atacar logo agora? — Howard perguntou enquanto encarava o lago à nossa frente.

A noite tinha chegado finalmente, era possível ouvir as vozes de nossos guerreiros no local onde o acampamento fora montado, até mesmo uma fraca luz de uma fogueira, onde provavelmente algum animal estava sendo assado — se a caçada tivesse sido bem sucedida.

Estava a alguns centímetros de distância de Howard, ambos sentados na grama rasteira a beira do logo. Meus olhos se mantinham focados na água que refletia o brilho das estrelas no céu noturno.

Laços de Gelo e Sangue Where stories live. Discover now