Séculos

Uma Visão Preocupante

- Ele está atrasado.- Disse impaciente, se escorando de maneira desleixada na parede de pedra, apoiando a pera direita sobre a esquerda, sem tocar o chão. 

Um homem de estatura mediana entrou no cômodo. Ele usava roupas formais e as mesmas máscaras peculiares que todos os funcionários do castelo eram obrigados a usar. Apesar do rosto e do cabelo estarem cobertos, o homem aparentava ter uma idade avançada.

- Cavaleiros.- Cumprimentou- Vim em nome do Rei informa-los de que sua presença foi requisitada pelo Rei do Norte. Ele partiu em viagem a alguns dias, portanto, a reunião deverá ser anulada.- Afirmou mantendo uma postura séria. 

O homem estremeceu quando teve aqueles olhos ciano olhando com raiva em sua direção. O olhar de Dabi era penetrante, e expressava sua indignação com as atitudes do Rei. A esta altura, o homem temia que o moreno a sua frente resolvesse descontar sua raiva.  Dabi se aproximou lentamente, com o olhar fixo nos olhos do homem a sua frente. Ele o segurou pela gola da roupa, erguendo sua mão esquerda e arrancando a máscara do outro -que no fim, era mesmo um velho. 

Dabi agarrou uma das velas que estava em cima da mesa e a aproximou do lado esquerdo do rosto do velho. O mesmo olhava a chama fixamente. Tinha medo em seus olhos. O moreno sorriu. Era um sorriso assustador e medonho, que certamente causaria pesadelos a qualquer um que presenciasse. 

- P-por favor! E-eu tenho esposa e f-filhos!- Suplicou quase em prantos.

- Ah, não se preocupe.- Disse sem perder seu sorriso psicótico- Eu apenas vou deixar uma marquinha para que o Rei saiba o que acontece quando me põe em segundo plano.

Dabi aproximou o fogo cada vez mais do rosto do outro homem. Logo o cômodo foi tomado por gritos de dor e agonia e um cheiro insuportável de pele queimada. Shigaraki estava escorado na parede assistindo tudo, assim como Toga, que estava sentada na mesa com as pernas na mesa. Essa garota não tem educação? Pensou o mais velho, transferindo sua atenção para uma janela que havia ali. 

(...)

- Você já está empunhando muito bem. Agora vamos testar a sua defesa.- Afirmou empunhando sua espada.

- C-certo.- Disse com um certo nervosismo.

 Shouto avançou, atacando por cima. Midoriya defendeu erguendo sua espada. O peso causado pela pressão imposta pelo mais alto machucava seu braço, então resolveu não enrolar muito e quebrar o bloqueio antes que o bicolor o fizesse. Com uma certa dificuldade, arrastou a espada para baixo, fazendo o outro recuar. Outro ataque veio por baixo, mas também foi defendido. O esverdeado aprendia rápido, mas Shouto teve que admitir, ele leva jeito para a luta.

Desta vez foi Shouto quem quebrou o contato entre as duas lâminas prateadas, atacando novamente com um golpe na alutura da cintura de seu oponente. Como previsto, sua investida foi bloqueada com êxito pelo mais novo. O bicolor, no entanto, não terminou seu ataque por ali. Com velocidade, arrastou sua perna direita pela grama, acertando uma rateira em Izuku. O mesmo cambaleou para trás. Assustado, ele agarrou o tecido das roupas de Shouto, fazendo-o se desequilibrar e cair por cima de si.

Os braços do bicolor se firmaram no chão, mantendo seu tronco suspenso apenas alguns centímetros acima do tórax do esverdeado. Seus rostos estavam praticamente colados. Se encaravam olho-no-olho enquanto sentiam a respiração alheia aquecer os rostos um do outro. Seus corações estavam a mil e o ar parecia faltar. As bochechas de ambos estavam coradas, demonstrando sua vergonha e seu nervosismo. Se sentiam incapazes de desviar o olhar das orbitas alheias. Só queriam estar ali, vivento aquele momento eternamente.

(...)

- E então? Quais são as novidades?- Indagou pondo sua água para ferver.

- Por que você mesmo não vê?

- Como quiser...- Disse se sentando na sua poltrona. Gran Torino fecha os olhos e respira fundo. O vento sopra em seu rosto com força, bagunçando seus cabelos.

Mesmo de olhos fechados, Gran Torino pôde sentir o mundo em sua volta ser desconstruído. O ambiente se alterou completamente. O que antes já fora uma casa de madeira velha e bagunçada agora era um campo de batalha. O céu estava escuro. A neve caía incessantemente e com força. O chão estava coberto por corpos dilacerados. Haviam espadas, arcos, flechas e outras armas largadas no chão. A neve branca era pintada de vermelho pelo sangue derramado no campo de batalha. 

Havia um homem ruivo. Ele usava a armadura real e empunhava a espada flamejante. Gran Torino o reconheceu como Endeavor. Ele se ergueu com fúria e confiança, e então correu em direção a outro homem. Ele era mais alto e mais forte. Sua armadura era escura. Sua espada era pesada e forte. Ele usava um estranho elmo, que logo foi retirado pelo mesmo, revelando sua face queimada e retorcida. Era All For One. Ele olhou para Endeavor, ergueu sua espada e então sorriu. 

Enji gritou em fúria, correndo na sua direção. O som estridente, resultado do primeiro choque das duas espadas ensurdeceu Gran Torino, o arrancando de suas visões e o jogando no mundo real. Estava aéreo a tudo, quando foi chamado pelo grito da chaleira, indicando que a água já havia fervido. Ele se levantou em silêncio para preparar o seu chá. Estava pensativo quanto o que vira. Ele sabia exatamente oque aquela visão queria dizer. Algo precisava ser feito. E rápido. Caso contrário, o Norte estaria condenado. 

Mas não apenas o Norte. Com o triunfo de All For One, nenhum dos Quatro Reinos da Inglaterra estariam a salvo. E, claro, sair do país não seria viável. A não ser que fosse para outro continente, mas viajar em mar aberto assim era loucura. Não, fugir não é a resposta. Este é um problema que deve ser resolvido. E logo.

- O garoto,- Disse, quebrando o silêncio que se instalou na casa- Quanto tempo de viagem lhe resta?- Indagou, virando-se para o espírito, que se encontrava sentado em uma das poltronas da sala.

- Não muito. Logo estará aqui.

- Devo admitir, All Might. Talvez você esteja certo quanto a ele. Mas se não estiver, sinto que precisaremos de um barco.