A Masmorra

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Shouto não perdeu tempo. Levantou-se da cama e abriu lenta e silenciosamente a porta do quarto. Não podia ser visto acordado a essa hora. Correu até torre leste, subindo as escadas rapidamente. Logo chegou lá. A velha e interditada, masmorra. Desde o "sumiço" de Rei, aquela masmorra suja nunca foi usada novamente.

O bicolor não esperava encontrar o corpo de sua mãe. Ele estava atrás de uma prova. Aquele sonho foi tão real que era praticamente impossível não ser verdade. Com certa dificuldade, Shouto empurrou o portão da masmorra e entrou lá dentro. A luz da lua que entrava pelas janelas com grades era a única iluminação do cômodo.

Assim que adentrou aquela masmorra, uma sensação horrível tomou conta de si. Shouto sentiu uma tontura enorme, que o obrigou a agarrar-se nas paredes para não cair. Assim que a sensação passou, o bicolor caminhou até uma mancha de sangue que estava no chão. O formato dela e o tamanho eram suspeitosamente específicos.

Mais lágrimas escaparam de seus olhos heterocromáticos. Shouto se ajoelhou ali mesmo, despejando tudo o que sentia. Aquela sensação horrível voltou. Nunca em sua vida o bicolor sentira uma dor tão intensa e tão... debilitante. Se sentia frágil, fraco e incapaz. Um terrível sentimento de culpa se espalhou pelo seu peito enquanto derramava mais e mais lágrimas gélidas.

Ele sabia. Sabia que tinha sido ali. Shouto sabia que tinha sido ali, bem ali, que sua mãe perdeu a vida. Não precisava que ninguém o dissesse. Ele sabia. Ele sentia. Enfurecido, levantou-se. Com a mesma pressa que chegou, o bicolor foi em bora. Desceu as escadas e foi andando até os aposentos de seu pai. Pela hora, este já deveria estar acordado - talvez nem tivesse dormido.

O príncipe sabia exatamente onde encontrar seu pai aquela hora. Foi correndo até a biblioteca, onde o viu olhando pela janela, pensativo. Uma raiva enorme tomou conta de si. Para a sorte de Enji, seu filho estava desarmado. Mas se estivesse com sua espada, o executaria sem pensar duas vezes.

- O que faz acordado?- Perguntou com total desinteresse.

- Você... Foi você!- Gritou se aproximando do mais velho e agarrando-o pelo braço bruscamente- Foi você! Foi você, seu filho da puta! Você a matou!

- Como é?!- Questionou irritado.

- Você matou ela! Você olhou em seus olhos e mesmo assim a matou! Seu monstro!- Esbravejou enquanto lágrimas de fúria escorriam pelo seu rosto- Seu filho da puta sádico e doente!

- Me respeite, moleque!- Exclamou empurrando o bicolor para longe de si.

- Você não merece respeito! Você não merece nem metade do que tem!

- Cale-se!- Ordenou o empurrando com força, derrubando-o no chão.

- Você é um monstro, Todoroki Enji. Você não passa disso. Um monstro nojento e repugnante.- Shouto praticamente cuspiu as palavras enquanto se levantava para ir em bora.

- Um dia eu morrerei, e você se tornará igual a mim.- Disse com desdém enquanto sorria sínico.

- Não. Eu jamais me tornarei igual a você. Mas um dia você morrerá, pode ter certeza. E quanto esse dia chegar, eu mesmo farei questão de cuspir no seu túmulo.- Disse indo em bora.

                                                                                                (...)

- Vamos tentar de novo. O que vê?- Indagou tentando não perder a paciência com a criança.

- E-eu vejo u-um homem...- Disse confusa.

- Como ele é?- Questionou curioso.

- E-ele é a-alto, tem o cabelo ruivo e está de armadura.- Respondeu.

- Conte mais.- Pediu intrigado.

- T-tá bem... O homem ruivo corria por entre o campo de batalha. Ao seu redor haviam corpos jogados no chão e pessoas brigando com violência e fúria. O homem parecia temer alguma coisa. Ele correu e correu, até que outro homem surgiu a sua frente. Ele era alto, ainda mais alto que o ruivo. Ele carregava uma espada enorme e usava uma enorme e pesada armadura. As aberturas do elmo permitiam ter uma noção de como era seu rosto. Era um rosto desfigurado, e os olhos, negros como a escuridão da noite. 

- Conte-me mais. O que aconteceu com o homem ruivo?

- O homem ruivo sacou sua espada para enfrentar o outro homem. Eles lutaram bravamente. O homem ruivo resistiu o máximo que pôde.

- E o que aconteceu?

- O homem ruivo morreu.- Disse fitando o chão.

- Avise-o que tudo ocorre como o planejado.- Disse para o seu braço direito. Era um homem baixinho que, assim como todos os funcionários do castelo e como o próprio rei, usava uma estranha máscara em formato de bico.

                                                                                   (...)

- Você deve segurar mais em cima, se não você perde o equilíbrio e derruba a espada.- Disse guiando a mão do esverdeado para cima.

- Assim?- Indagou após colocar a mão no local que aparentava ser o certo.

- Sim. Muito bem. Você está indo bem.- Afirmou dando um sorrisinho fraco.

- Você parece desanimado... aconteceu alguma coisa?- Questionou preocupado.

- Não.- Disse com um sorriso tranquilizante- Está tudo bem.

- Se você diz...- Balbuciou desconfiado.

- Agora, vamos tentar aquele bloqueio que eu te ensinei.- Disse sacando novamente sua espada.

                                                                                 (...)

Endeavor se sentou em sua cadeira, com raiva. Após a discussão que teve com Shouto pela madrugada, ele se vestiu, pegou algumas coisas e saiu sem dizer para onde. O Rei estava aborrecido com seu filho. Ele não tinha o direito de sumir assim, sem nem dar satisfação.

- Meu Rei?- Chamou Hawks, entrando no cômodo.

- O que foi, Hawks? Eu disse para não me incomodar a não ser que fosse para falar sobre o meu filho.- Disse impaciente.

- Infelizmente eu não faço ideia de onde está o seu espermatozoide revoltado. Eu vim falar sobre o guarda que sumiu.

- Já encontraram o corpo daquele incompetente?- Questionou ainda sem muito interesse.

- Eu preferia tê-lo encontrado todo aberto sendo devorado por lobos.- Disse se aproximando do rei.

- O que ele fez de tão mau?- Questionou enraivecido.

- Ele traiu a corte, meu Rei. Ele era um espião do Sul.- Respondeu sério.

- Desgraçado!- Esbrabejou se levantando desferindo um soco na mesa, que por sua vez já estava acostumada com o hábito que o Rei tem em descontar sua ira, apesar de ser um objeto inanimado- Convoque Overhaul para uma reunião.- Ordenou aparentando estar mais calmo.

- Qual o motivo da reunião?-Indagou apesar do motivo já estar aparente.

- Eu quero negar sua proposta e acabar com o nosso tratado de paz pessoalmente. Se é guerra que ele quer, é guerra que ele terá.- Afirmou convicto.

SéculosWhere stories live. Discover now