15°|♤| Testamento conturbado

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— Não sei. Minha mãe falava que tatuagem é coisa do diabo e você têm várias.— disse sincera e Any deu uma sonora gargalhada, divertindo-se com o humor e ingenuidade da garotinha.

—Talvez eu tenha sido um anjo caído em outra vida.— debochou e deu mais uma risada ao ver os olhos arregalados da garota.— Brincadeira. Tatuagens não são do diabo, depende de qual história elas carregam.—deu de ombros e voltou a encarar a garotinha, que agora a olhava com curiosidade.

A garotinha se aproximou a passos lentos e temerosos, ficou perto da cadeira a brasileira e as duas se encaravam amigavelmente. Any tinha um olhar amigável — o que era raro— para a menina, enquanto Alice a olhava com um misto de curiosidade e admiração. Motivos diferentes que transbordavam em brilho nos olhos de cada uma.

— Qual a história dessa ?— apontou para o pescoço e ombro da mulher. Era um lobo e uma caveira, era uma tatuagem agressiva e muito bem feita, que realçava na pele brilhosa da cacheada. Any estava sem seu casaco, e a blusa sem mangas e alças deixava sua pele desnuda e consequentemente suas tatuagens a mostra.

Any olhou para onde o dedo da menina apontava e voltou seu olhar para a mesma, franzindo o cenho ao ver que justamente aquela tatuagem havia despertado a curiosidade da garota.

— Anos atrás, eu e uma pessoa começamos algo.— começou a história e a brasileira tinha total atenção da criança.— Outras pessoas se juntaram a nós, éramos uma família, então decidimos fazer uma tatuagem original para marcar isso.— abriu um sorriso de lado.— O lobo significa inteligência, lealdade, perenidade e outras coisas a mais. A caveira representa poder, força, superação, mas também representa outras coisas não muito legais. Porém, o desenho da caveira só foi tatuado por mim e pela pessoa que iniciou tudo.— deu de ombros.

A caveira representava morte e decadência, e era por isso que apenas os dois tinham.

Alice assentiu fortemente com a cabeça, fazendo os dois coques que havia feito de penteado se moverem e afrouxarem um pouco.

A idosa havia chegado na área externa, mas estava parada na porta, enquanto analisava a brasileira e sua neta com um sorriso no rosto. O brilho nos olhos de Any era natural e algo tão raro, algo que a senhora não via a bons anos.

— E essa ? Qual a história ?— apontou para um desenho no pulso da brasileira, que ate então estava escondido por um bracelete, porém ao mover a mão, o bracelete se deslocou e a garota viu a tatuagem. Any engoliu em seco ao ver a onde a garota apontava, e seu sorriso se fechava gradativamente.

—Essa é uma coroa de louros.— moveu o bracelete, dando mais visibilidade da tatuagem.— É uma homenagem a alguém.— engoliu em seco novamente.

— Para quem ?— perguntou a garotinha desconfiada, enquanto pegava delicadamente a mão de Any e analisava a tatuagem de seu pulso.

— Laurel.— disse simples e a garotinha a olhou com o cenho franzido.— O nome Laurel tem como significado coroa de louros, talento, honra, bondade.— suspirou fundo.— O nome dela tinha haver com realeza, em homenagem eu tatuei isso, para me lembrar do nome dela. É uma forma dela sempre estar comigo, já que eu perdi ela.— abriu um sorriso triste, que foi retribuído pela garota. Alice ainda segurava a mão da mulher, mas analisava o seu rosto.

— Quando perdemos alguém temos que homenagear ?—perguntou, curiosa.

—Não.— disse simples, enquanto analisava a pequena garotinha segurando sua mão e analisando as outras tatuagens que tinha. Até que os olhos cor de mel pararam em uma tatuagem específica, e os olhos encantadores da pequena garotinha havia adquirido um brilho novo.

— Você tem uma lua!— exclamou a garota animada e deu um gritinho. Any deu uma risada baixa e encarou Alice, que parecia entretida em ver suas tatuagens.— Ele tinha um sol no mesmo lugar, vocês combinariam.— disse dispersa.

Principal escolha: A ruína  ♤Now United♤Where stories live. Discover now