— Você nasceu aqui?
— Nascida e criada — respondeu ela.
— Quando você decidiu se tornar perita? — perguntou ele tomando um gole do café.
— Eu me formei em Ciências Biológicas e pela influência de muitos seriados e filmes sobre investigação me interessei pela área, — ela sorriu.
— Agora você sabe que a maioria deles não condiz com a realidade, não é?
— Alguns dão até raiva de ver, mas se fossem totalmente fiéis, não sei se daria tanta audiência — ela bebeu mais um pouco da sua xícara.
— Imagino que a passagem de tempo em cada processo é o que traria mais tédio para os telespectadores.
— E se descobrissem que nem todo caso tem aquela conclusão bonitinha com todas as respostas?
— Isso também seria bem frustrante — concordou Grissom. — Mas continue. Você se formou e se interessou pela área...
— Acabei conhecendo a entomologia forense através e um professor e fiz um curso de especialização. Quando apareceu a oportunidade de prestar concurso para perita criminal me inscrevi e por sorte passei para uma vaga aqui na cidade mesmo.
— E quanto ao seu inglês? Quando aprendeu?
— Nem consigo me lembrar. Meu pai e minha avó são americanos e se mudaram para cá quando meu pai ainda era muito novo. Mesmo assim eles me ensinaram bastante e quando tinha idade suficiente, fui matriculada num curso. Acho que foi quase na mesma época que comecei a frequentar a escola regular.
— Você conversa com eles em inglês?
— Não muito. O resto da família não se interessou em desenvolver as habilidades e não se sente confortável quando não entende a conversa.
— O fato de ter começado a praticar tão cedo pode explicar sua fluência.
— Obrigada — ela sorriu. — Mesmo assim, eu tenho dificuldade com vocabulário, coisas do dia a dia...
— Isso se resolve com um pouco de prática — afirmou ele. — É comum vocês investigarem esse tipo de caso aqui?
— Nem os casos são comuns, nem a gente investigar.
— Como assim?
— Essa cidade é suficientemente pacata. Crimes acontecem, mas não tão bárbaros e misteriosos. Normalmente o culpado é descoberto rapidamente ou se entrega.
Layla tomou um gole de seu chocolate que já ocupava apenas metade da xícara.
— E quanto à investigação, essa é a primeira vez que eu participo de uma oficialmente. Renato e eu só recolhemos e processamos as evidências, o que já requer uma boa parte de nosso tempo, pois atendemos também algumas cidades vizinhas.
— E a Samara?
— Ela era perita também, mas se tornou investigadora faz um tempo. Já tem dez anos que ela trabalha com a polícia — Layla comeu o penúltimo pão de queijo e indicou ao perito para que ficasse com o último. — Como dividimos o apartamento, às vezes eu ajudo nas investigações dela. Extraoficialmente.
— Você pretende seguir os passos da sua amiga?
— Ainda não parei para pensar no assunto, mas tenho vontade de trabalhar em um lugar maior.
— O laboratório de criminalística de Las Vegas seria grande o suficiente para você?
Layla ficou sem reação olhando para Grissom tentando assimilar o que tinha acabado de ouvir.
— Gostei de ver você em ação. Encaixaria perfeitamente na minha equipe — continuou ele sorrindo antes de terminar seu café.
— Seria uma honra trabalhar com vocês em Las Vegas... — depois que terminou a frase ela desejou ter dito algo melhor, mas foi o que o seu estado perplexo diante do convite deixou sair.
— Somo do turno da noite, mas sei que você consegue se adaptar.
O perito percebeu que Layla estava pronta para aceitar seu convite, mas não conseguiria verbalizar naquele momento. Era uma grande decisão para ser tomada de uma hora para a outra.
— Fique com isso — ele pegou um cartão de dentro do bolso. — Nesse número você fala direto comigo.
— Ligarei em breve — a perita sorriu e ao guardar o cartão percebeu que seu celular havia recebido uma mensagem. — O advogado do Edward chegou — ela terminou o chocolate e se levantou.
Grissom também se colocou de pé e a seguiu em direção ao caixa da padaria.
— Vou passar antes no hotel para pegar a Sara — Layla estava abrindo a carteira quando o perito a impediu.
— Por favor, — ele entregou o cartão dele para atendente.
— Não Grissom... Pode deixar que eu pago — a perita ainda estava com o próprio cartão na mão.
— O convite foi meu — ele sorriu digitando a senha na máquina.
Ela sorriu de volta enquanto a transação era finalizada. "Em Las Vegas eu retribuo", pensou.
***
Nota: Essa história se passa em 2005. O pão de queijo foi declarado patrimônio cultural e imaterial do estado de Minas gerais apenas em 2019.
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Esconde - Esconde
FanfictionO assassinato brutal de uma criança choca os moradores do interior de Minas Gerais. O que os policiais não esperavam é que o rastro do criminoso viesse de tão longe. Trabalhando junto com os peritos do Laboratório Criminal de Las Vegas, Sara Sidle e...
Capítulo 17
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