Capítulo 13

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Além do grande lago circundado por uma pista de chão batido que as pessoas normalmente usavam para práticas esportivas, havia um caminho levando para uma parte mais alta do terreno onde uma casa, com extenso terreno em volta, abrigava diversas obras de artes.

Somado a esse espaço, havia muitas árvores pelo lugar tornando a iluminação vinda dos pequenos postes quase inútil dificultando bastante às buscas.

Com esperança de que Eduardo tivesse fugido dali sozinho, todos gritavam o nome de Luiz enquanto andavam.

No entanto, nada além do barulho dos animais soltos pelo parque, principalmente aves, incomodadas com a movimentação, era ouvido.

Nem mesmo com o reforço de uma equipe com cinco policiais o grupo obteve sucesso.

— Estou começando a concordar com o porteiro. Não tem ninguém aqui — falou Layla segurando um bocejo.

— Talvez cachorros ajudassem na busca — comentou Greg. — Vocês têm cães farejadores para isso?

— Acho que sim — dessa vez o bocejo veio com vontade. — Desculpa...

— Normal, já está perto de amanhecer — respondeu o perito com um sorriso no rosto. — Você trabalha só no turno do dia?

— Sim. A não ser quando temos um caso que exige hora extra, mas são raros. Nesses casos temos escala de plantão — Layla olhou para o perito. — E você?

— Turno da noite. Sara e Grissom também.

— Bom, isso explica a disposição de vocês.

Os dois estavam caminhando de volta para a entrada do parque do museu. Não estava sendo nada eficiente tentar encontrar evidências de onde Luiz poderia ter estado naquele lugar enorme sem um cão farejador. Seria como procurar agulha no palheiro.

— Greg, eu vou molhar um pouco o rosto para espantar o cansaço — disse Layla quando os dois passaram ao lado de uma estrutura que parecia uma casinha de bonecas com duas portas.

Acima de cada uma estavam placas onde se lia: masculino e feminino. Os banheiros estavam trancados, mas entre as duas portas havia uma pia. A perita se aproximou e abriu a torneira.

Por mais que ela tentasse não molhar os longos cabelos era quase impossível segurá-los e fazer o que queria. Um par de mãos a surpreendeu de repente quando Greg segurou suas madeixas.

— Obrigada — ela olhou para ele pelo canto do olho e sorriu se deliciando com os efeitos da água gelada logo em seguida. Quando se deu por satisfeita, Layla fechou a torneira.

— Isso parece sangue — disse Greg assim que soltou os cabelos dela se agachando não muito longe da pia.

A perita tirou três fotos com a pequena câmera que trazia e Greg colheu uma amostra com o swab que tirou de um dos bolsos com fecho de seu casaco.

Os dois voltaram a caminhar, porém agora prestando mais atenção ao ambiente do que antes.

— Está ouvindo? — ela apoiou a mão direita no peito de Greg fazendo-o parar de andar.

— Parece zumbido de abelha, mas em menor quantidade...

— É mais provável que sejam moscas... — Layla começou a andar na direção do som e Greg a seguiu.

— Latões de armazenamento de lixo — Greg apontou para uma estrutura de cimento sem porta que interrompia a cerca viva que margeava todos os caminhos do parque.

Os quatro barris de plástico estavam muito bem tampados.

Os peritos vestiram suas luvas de látex e destamparam um por um. Estavam sujos, porém vazios.

Não era dali que vinha o zumbido. Enquanto cobria a abertura do último, uma mosca pousou na mão direita de Layla.

— É uma Calliphoridae... — ela olhou para Greg.

Sem querer perder tempo procurando uma entrada para contornar a estrutura, a perita se apoiou no topo dela e em um impulso conseguiu alcançar a superfície.

Layla ficou parada olhando para a parte de trás da construção. Havia uma clareira não muito extensa dali até o muro alto que cercava todo o parque.

A entrada para o local, uma interrupção na cerca viva, estava apenas alguns metros à sua direita.

— Encontrou alguma coisa? — Greg tinha feito o mesmo que ela e subido na estrutura.

— Luiz... — respondeu ela quando seus olhos encontraram os dele.

Qualquer esperança de encontrar a criança viva não existia mais.

Layla pegou a câmera e dali de cima começou a fotografar. Cada vez que o flash clareava a cena ficava mais evidente a crueldade.

A cabeça quase separada do corpo. A poça de sangue onde ele estava deitado. A inocência de não saber o que estava prestes a acontecer assim que aceitou o desafio proposto por um estranho.

— Vocês o encontraram? — perguntou Grissom, que vinha seguido por Sara e Samara.

— Sim — Greg respondeu. Layla havia parado com as fotos.

— Droga! — praguejou Sara.

— Reúnam os policiais, e peçam para avisar o legista — Grissom deu a ordem para Sara e Samara enquanto se aproximava de Greg que já havia decido da estrutura e ajudava Layla a fazer o mesmo.

— Tem um lugar por onde entrar mais pra frente — ela passou a manga do casaco pelo rosto secando a lágrima que teimou em escorrer o mais rápido que pode. Não queria demonstrar fraqueza diante dos outros.

— Greg, termine de tirar as fotos — pediu Grissom.

Ele segurou de leve a mão de Layla, pegou a câmera e se afastou.

— Me desculpa... Eu... — a perita estava com medo de ser repreendida por Grissom pelo seu comportamento e tentava se justificar. — A gente não tem muito disso aqui. Geralmente periciamos acidentes de transito, assalto, alguns assassinatos, mas raramente sequer ouvimos falar da vítima antes de acontecer. Nós conversamos com o Luiz na delegacia... — sua voz falhou. Ela não conseguia continuar.

— Se acalme. Não tem nada de errado com você e nem com o seu trabalho — o perito falava em um tom de voz muito suave e compreensivo. — Eu também queria tê-lo encontrado com vida, mas estamos lidando com um assassino de sangue frio sem medo das consequências.

— Espero que os outros tenham conseguido prender ele — os olhos de Layla tornaram a se encher de lágrimas, mas ela não evitou que caíssem dessa vez e tentou sorrir.

— Gil! — Greg gritou da cena no crime. Os flashes já haviam parado o que indicava que o perito não estava mais tirando fotos.

Atendendo ao chamado, Grissom e Layla saíram em busca da entrada alternativa e chegaram à clareira onde Sara, Samara, Cristiano já observavam a cena a espera do legista.

— O que você encontrou Greg?

O perito indicou uma mancha na parede um pouco acima do corpo de Luiz.

Os raios de sol que aos poucos transpassava entre as árvores com o raiar do dia iluminavam a marca de uma mão muito bem gravada sobre atinta da parede do muro do parque.

Cinco dedos com digitais bem nítidas gravadas com sangue.

Esconde - EscondeWhere stories live. Discover now