— Com as máquinas que temos e ajuda extra, acho que em algumas horas teremos os resultados — Mirian estava animada.

— Vamos deixar vocês trabalharem então — anunciou Grissom.

Eles já estavam se despedindo quando Mirian se lembrou de estar com um resultado para entregar.

— Lembra o frasco que você trouxe para eu analisar? Tinha traços de cetamina dentro dele.

— A mesma droga detectada no sangue da primeira vítima — Layla olhou o papel e depois entregou para Grissom. — Obrigada.

— Por nada — respondeu Mirian. — Vejo vocês mais tarde — ela voltou para o laboratório onde estava acompanhada por Greg.

Os dois peritos ficaram sozinhos na recepção.

— Layla, eu sei que você deve estar cansada e queria me levar para o hotel para poder descansar também, mas será que eu poderia te pedir para irmos a mais um lugar?

— Claro Grissom, eu não estou tão cansada assim. Talvez alguma coisa para comer e um café cairia bem, mas não é a primeira vez que viro a noite por conta de um caso — ela sorriu se esforçando para esconder o cansaço com aquele discurso. — Aonde você gostaria de ir?

— Ao necrotério.

— Verdade. Ainda não tivemos tempo de ir lá. O corpo da primeira vítima ainda está com o legista — Layla foi saindo da recepção com Grissom em seu encalço. — Imaginei que vocês quisessem dar uma olhada.

— Imaginou certo!

Os dois entraram no carro e a perita dirigiu pelo estacionamento do hospital na direção contrária em que tinham entrado e tão logo ganhou a rua, seguiu para o IML.

Ao entrar no prédio, eles descobriram que o doutor Túlio estava terminando a necropsia no segundo menino morto. A perita apresentou os dois homens um ao outro e eles mantiveram uma distância da mesa para evitar respingos de sangue já que não usavam roupas de proteção.

— Esse menino morreu devido a um corte profundo que dividiu suas carótidas e cortou o fluxo sanguíneo para o cérebro — o inglês do legista estava bastante destreinado, mas era suficiente para eles manterem a comunicação.

— Foi uma navalha — disse Layla. — Tudo indica — continuou ela olhando pra Grissom.

— Doutor Túlio, o senhor notou alguma fratura óssea recente em algum dos dois? — falou o perito de forma clara e lenta.

— Na verdade notei sim. Enquanto examinava percebi que as pernas de Maurício estavam um tanto maleáveis e com um corte descobri que os ossos foram quebrados horizontalmente — a última palavra custou um esforço extra no do legista para ser pronunciada em inglês. — Mas o ferimento era post-mortem. Tirei uma radiografia dele para deixar arquivado. Se importaria? — ele olhou para Layla e apontou para a gaveta em sua mesa.

A perita a abriu, encontrou as radiografias e ligou o painel sobre a mesa onde encaixou a película escura com a imagem das tíbias e fíbulas das duas pernas do menino com um espaço onde deveria haver osso.

— Os garotos encontrados em Las Vegas, também tiveram membros lesionados após serem mortos. Uma clavícula, de um menino que praticava natação, um pulso, de outro que praticava vôlei e a perna do último que praticava basquete. Todos post-mortem.

— Vamos tirar uma radiografia dele também — anunciou Túlio. — Me esperem aqui, por favor.

O legista transferiu o corpo para uma maca menor com rodinhas e saiu por uma porta lateral indo em direção à sala de raios-X no porão do prédio.

— Quer se sentar? — perguntou a perita apontando para a cadeira em frente à mesa do legista.

— Não, obrigado. Fique à vontade.

— Obrigada — Layla virou a cadeira de frente para o perito e se acomodou. — Grissom, agora falando sobre as fraturas uma coisa me ocorreu. Lembra quando entrevistamos Edward e ele disse que o Maurício se gabou por ganhar destaque no time de futebol depois que um colega quebrou a perna?

O perito cruzou os braços sobre o peito.

— Foi informação demais, sem necessidade. Como se ele precisasse falar aquilo.

— Isso me lembra de uma das mães em Vegas que falou sobre o filho estar muito feliz por ter acabado de ganhar uma vaga na equipe de natação. Ela comentou que o garoto que ocupava a posição antes havia sofrido um acidente de carro e quebrado o mesmo osso que foi lesionado no filho dela.

— É possível que seja o padrão dele. Crianças que estavam felizes por conta de colegas machucados impedidos, mesmo que temporariamente, de executar suas atividades normais.

— Esse seria permanente — Túlio estava entrando na sala de necropsia empurrando a maca. Aos pés do cadáver estavam as radiografias. — Ele levou um golpe que rompeu o ligamento das vértebras na região lombar.

— Post-mortem? — perguntou Grissom.

— Vamos descobrir.

Túlio colocou o corpo do menino de bruços de volta na mesa de necropsia e fez uma incisão no local da fratura se guiando pela radiografia.

— Sim — ele expôs o local para os peritos olharem. — Sem tecido hemorrágico ou qualquer sinal que indique a reação do corpo ao ferimento.

— Se nossa suspeita estiver correta, deve haver alguma criança paraplégica que teve ou tem contato com o Luiz — ponderou Layla. — Mas vamos perder o foco principal de analisar as evidências se formos nos ater a esse detalhe agora.

— Talvez o próprio Edward nos diga — comentou Grissom.

— Quando o confrontarmos com as evidências, podemos perguntar — concluiu a perita.

— Posso liberar os corpos? — perguntou Túlio.

— Por mim tudo bem — respondeu a perita. — Grissom?

— Sim, ele já nos disse tudo que tinha para dizer — ele sorriu brevemente. — Obrigado doutor Túlio. Foi um prazer em conhecê-lo — disse o perito apertando a mão do legista.

— Obrigada Túlio. Até outro dia — Layla se despediu sorrindo.

Esconde - EscondeWhere stories live. Discover now