Capítulo 35

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AVISO DE GATILHO: Depressão, alcoolismo, pensamentos depreciativos e suicidas.


Era como uma goteira. Começava bem pequena, um pingar aqui e ali que quase não parecia importante, então ela evoluía. A gota que antes caia dia sim, dia não, agora caía todos dias. Depois passa a ser de hora e hora. Até que em um momento, o balde está cheio demais e toda a água transborda, inundando todo o chão.

E era exatamente assim que Taehyung se sentia.

Ele sabia que tinha sido pequenas coisas, pequenas doses de apreensões, palavras maldosas, ações mesquinhas e preocupações com o futuro que o fizeram ter aquela recaída.

— Tae? Está tudo bem?

O moreno tomava um longo banho, contudo há vários minutos não se ensaboava ou deixava a água levar a sujeira embora, somente estava sentado no box do banheiro, fitando as gotas que insistiam em cair no mesmo lugar. Quanto tempo para desgastar o chão? Quanto tempo para abrir um buraco e estragar tudo? Quanto tempo para tudo acabar?

— Tae, eu vou entrar.

Claro que ele vai entrar, pensou Taehyung, escutando o outro virar a chave e abrir a porta — Seokjin tinha uma chave extra —, e procurá-lo com o olhar até o encontrar dentro do box. E agora ele vai fingir que está tudo bem, mas está arrasado.

— Ah, aí está você! — Seokjin deu um fraco sorriso. — Eu preparei um delicioso café da manhã para nós dois.

E aí está ele... Fingindo que o problema não existe. Taehyung suspirou fundo. Não o culpo... Também não queria existir.

Seokjin sorria enquanto buscou a toalha e levantou o moreno do chão, secando-o com cuidado e carinho — o rapaz conseguia sentir aquilo —, entretanto tudo parecia novamente sem cor, sem gosto e sem vida. Um ano e meio jogados no lixo porque não sabia colocar sua cabeça no lugar e se controlar quando algo dava errado. Sinceramente, Taehyung por vezes sentia que merecia aquilo tudo o que lhe acontecera. Se não fosse tão fraco, poderia ter tudo naquele momento.

O café da manhã era o seu favorito — torta de morango com pêssego —, contudo não tinha gosto nenhum na sua língua. Seokjin era um excelente confeiteiro, mas não conseguia bater a depressão que parecia novamente se alastrar no corpo do moreno.

Taebaby... Come um pouquinho — pediu o mais velho. — Por favor?

— Eu... quero dormir — Taehyung falou, fitando a mesa. — Estou sem fome.

— Se você comer um pouquinho, você pode voltar para a cama.

— Não quero comer, Jin.

— Um pouquinho só? Por favor? — o mais velho pediu uma outra vez. — Vai te fazer mal ficar sem comer.

Taehyung quis gritar falando que não se importava, que talvez fosse mais fácil morrer dessa maneira, porém não tinha forças, pois todas elas foram sugadas no ato de se levantar da cama naquela manhã.

Por isso, o rapaz levou o garfo a boca e comeu alguns pedaços da torta que foram o suficiente para Seokjin não mais insistir, somente levando-o para o quarto para deixá-lo dormir.

— Não chore por mim — Taehyung disparou quando Seokjin já fechava a porta. — Eu não mereço.

O mais velho suspirou fundo e caminhou para o lado do namorado, beijando-o a testa com carinho.

— Você merece o mundo, anjo — garantiu o confeiteiro.

O moreno sabia que não merecia nada, que era um fraco por voltar a beber, por deixar tudo transbordar, porém escutar aquelas palavras de Seokjin ajudava um pouco, mesmo que minimamente, ajudava.

SeesawWhere stories live. Discover now