Twenty Five

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"Ora, não seja tão sensível, Charlotte. Quem vê você gritando assim nem acredita que é a policial durona que você finge ser." sentiu as mãos do homem em seu cabelo.
"Steve, por favor…" a mão dele se chocou contra o lado esquerdo de seu rosto.
"Eu pensei que já tivesse te dito pra me chamar de senhor." a tenente sentiu um líquido escorrer pelo canto de sua boca "Agora, voltemos a onde estávamos." ele colocou a ponta da faca na base do pescoço dela "Temos um longo caminho a seguir, não podemos perder tempo." na cabeça dela tudo o que tinha acontecido entre os dois passava como um filme, fazendo com que as lágrimas caíssem com ainda mais força de seus olhos.
"Não!" gritou ao senti-lo rasgar a blusa que vestia, a deixando completamente exposta.
"Sim!" a risada que ele deu foi completamente estranha "Sua roupa atrapalha o meu propósito final."  Studi fechou os olhos com força por baixo da venda se forçando a não entrar em pânico. Houve um momento de silêncio antes que ela voltasse a sentir a respiração dele próxima demais do seu rosto. Encolheu o corpo sentindo medo e nojo ao mesmo tempo, se sentindo completamente estúpida por ter se colocado naquela situação. "Nós dois sabemos o quanto você gosta de sentir dor, então vou te deixar feliz por alguns instantes, que tal?" antes que ela tivesse abrindo a boca o punho dele parecia ter atravessado seu estômago, tamanha a força colocada no soco que lhe atingiu ali. A mulher se forçou a não gritar, não daria esse gostinho a ele, apenas prendeu a respiração mordendo o lábio inferior com força. "Não, não, não. Você sabe o quanto eu adoro ouvir os seus gritos, não os esconda de mim, minha linda." o próximo soco atingiu suas costelas e parte do seu seio direito, ainda assim ela permaneceu calada. Os socos doeram, mas o que mais lhe incomodava naquele momento era a maldita cólica que estava começando. ’Ótima hora pra ficar menstruada, Charlotte’. "Já que não vai gritar por bem, vai ser por mal." a mão grande dele apertou a ferida no joelho com força e, dessa vez, ela não conseguiu se segurar.
"P-por favor, pare. E-eu juro que se parar agora e me deixar ir embora não vou at-trás de você." sentia o próprio corpo perder as forças.
"Parar por quê?" seus dedos percorreram o contorno do sutiã de renda que a mulher usava "Nós ainda nem começamos a nos divertir direito, tenente. Não tem graça acabar a festa antes de ela ficar realmente divertida." 
"Tire suas mãos de mim!" a voz dela soou mais forte.
"Tirar?" apertou um de seus seios com força "Eu pensei que você adorava quando eu colocava minhas mãos em você," a respiração dele estava perto demais da sua boca "e dentro de você." ela cuspiu nele que riu "Você sabe o que acontece com garotinhas más, tenente. Agora terei que te punir." 
"Não!" se sentou sobre os quadris dela, vendo a mulher ao seu lado sorrir e lhe entregar uma faca mais afiada do que a que já tinha em mãos.
"Fique quieta e aceite o seu castigo como a boa escrava que você é." passou a faca entre os seios dela que apertou os dentes gemendo de dor "Você gostou da minha outra mensagem, linda? Naquela vadiazinha da casa abandonada?" continuou fazendo cortes leves sobre seu colo "Oh, como eu queria ter me revelado naquela época. Mas você ainda estava desconfiada demais pro meu plano dar certo." ao atingir seu estômago os cortes se tornaram mais fundos "Não se mexa muito, senão vai estragar o que estou fazendo."
"P-pare…"
"Ainda não." observou o que escrevia sorrindo, a mulher de pé ao seu lado acariciava os cabelos de sua nuca antes que ele a afastasse com um empurrão um pouco forte demais. Charlotte sentiu a mudança no ar, mas deduziu que esta tinha sido causada por uma janela aberta. "Agora me diga, você sentiu a minha presença todas aquelas vezes em que te assisti dormir?" subiu com a maldita faca pelo corpo dela antes que a lâmina pousasse sobre seu rosto.
"O q-quê?"
"Não finja-se de besta." saiu de cima dos quadris dela ficando de pé ao lado da maca "Vai querer me convencer que não me sentiu te tocar assim" seus dedos percorreram a extensão do corpo dela "enquanto dormia?" sorriu mesmo sem saber que ela não o via. Ela inspirou rapidamente. "Bem, devo te dar um desconto, você sempre teve o sono muito pesado. Me lembro daquela vez em que terminou com o Sam e chorou até dormir. Você estava linda com aquela blusa turquesa." o coração dela estava quase saindo pela boca e a sensação de pânico tomou conta de si "Eu realmente acho que ele não te merecia. Ele nunca poderia ser pra você o que eu sou." a ponta do nariz gelado dele passou pelo rosto da mulher confusa. 
"Steve-senhor, por favor, pare com isso. Está me assustando." tentaria apelar para o lado humano dele, quem sabe assim ele a deixaria ir
"Me desculpe, linda. Tudo vai acabar em breve" o que ele quis dizer com aquilo? Charlotte sentiu o sangue escorrer por todas as partes de seu corpo e fungou um pouco. "Pra quê as lágrimas? Estou fazendo isso por você." apertou uma das feridas na barriga lisa dela que gritou "Pensei que não teria nenhuma outra reação."
"Seu filho da puta!" o segundo grito lhe rendeu um soco no rosto
"Já disse pra parar de ser mal educada, Charlotte." ela sentiu a superfície em que estava deitada se mexer gradativamente e, em alguns instantes, estava numa posição vertical na frente do homem. Ele apertou seu rosto com força, aproximando os lábios da orelha dela. "Diga que me ama." 
"N-nunca." gritou quando sentiu os dedos dele apertarem um de seus braços que também estavam cortados. A tenente não tinha percebido isso antes.
"Diga." 
"Não!"
"Charlotte…" pressionou o corpo contra o dela que sentiu um calafrio subir pela sua espinha "Diga. Que. Me. Ama." 
"Eu te odeio!" fez menção de dar uma cabeçada nele, mas percebeu que havia algo prendendo o seu pescoço à mesa. Se amaldiçoou mentalmente. 
"Se não vai dizer por bem, dirá por mal." rasgou a outra perna da calça dela que ficou imóvel. Fez um sinal para a mulher parada no canto do cômodo para que ela lhe trouxesse o que precisava. Subiu pelo corpo da tenente deixando que ela o sentisse perto de si e parou de frente ao seu rosto. "Existe uma técnica que eles usam em interrogatórios russos para obrigarem os interrogados a abrirem a boca. Vamos ver se funciona com você." Studi gritou quando a faca enferrujada de ponta um pouco torta perfurou o topo de sua coxa "Preparada pra dizer que me ama?" 
"Eu espero que você queime no inferno!" 
"Resposta errada." a faca percorreu a extensão da coxa chegando próxima ao joelho "Diga."
"N-não." se sentia prestes a desmaiar a qualquer instante.
"É fácil. Diga ’Eu te amo senhor Larkin. Obrigada por me castigar’." torceu a faca dentro dela.
"E-espere até eu sair daqui, Larkin. Vou acabar com a sua raça." o homem riu fraco.
"Aí é que está o problema." beijou os cabelos dela "Você não vai sair daqui, tenente." ela sentiu uma picada no braço, mais uma, e entrou em desespero.
"O q-que é isso?"
"Só uma coisa pra te fazer ficar mais calma." lá estava a mão dele lhe tocando os cabelos novamente "Pra que eu possa fazer o que eu quisercom você." antes que ela tivesse a oportunidade de retrucar, seus músculos relaxaram e ela sentiu-se ser dominada por um sono mais pesado que uma manada de elefantes.
"Amy." disse olhando para a mulher desacordada com nojo.
"Sim…" a outra tapou a boca antes que dissesse o nome dele.
"Já te disse" deu um tapa forte no rosto dela "para me chamar de mestre." 
"D-desculpa, mestre."
"Guarde suas desculpas inúteis pra você mesma. Agora me ajude a colocar a mesa em sua posição inicial." ela assentiu com a cabeça o fazendo rapidamente "Ótimo." 
"O que fará agora?"
"Isso não é da sua conta. Vem aqui." em menos de cinco segundos ela estava em sua frente "Me beija." fez menção de beijá-lo nos lábios "Não, idiota, no pescoço." obedeceu calada. A empurrou pelos ombros a obrigando a ajoelhar. "Anda rápido sua lesma. Já sabe o que fazer." 
"Sim." desafivelou o cinto dele com pressa, tirando seu membro semi ereto de dentro das boxers que ele vestia e o colocando em sua boca.
"Isso." seus olhos viraram-se brevemente, em seguida ele observou a mulher ensanguentada ao seu lado. Esticando uma das mãos, pegou um pouco do sangue que lhe escorria pela barriga manchando o rosto da outra com este e sorrindo. Ela fez o que pôde para retribuir. Segurou sua cabeça, enterrando seus dedos por entre os fios de cabelo dela e estocando com tamanha força que ela estava quase engasgando. Quase. Amy sentia uma enorme dificuldade em respirar, mas sabia que pro seu próprio bem era melhor que ficasse calada. Em poucos minutos ele havia atingido o ápice e seu gozo se juntou ao sangue que manchava o rosto dela. 
"Não se limpe." abotoou suas calças, afivelando o cinto novamente. "Me espere no quarto ao lado, você sabe como, tenho que falar com o outro idiota." ela concordou com a cabeça "Anda!" deu um pulo ao ouvi-lo gritar e sumiu dali em alguns instantes. O homem se apoiou na mesa, quase deitando-se sobre a tenente e observando seu rosto de perto. "As coisas que eu faria com você se não fosse uma vadiazinha suja,Charlotte." virou-se para a câmera ainda ligada sorrindo antes de se aproximar desta a desligando por completo.
No celeiro, Steve se sentia entrar em mais desespero a cada cinco segundos. Seu corpo doía pela posição em que estava, sua mente estava cansada implorando para que ele dormisse e o sangue seco em seu supercílio o incomodava. Sabia que não podia descansar, não podia fechar os olhos por um minuto, tinha que se soltar e parar com aquela palhaçada. As cordas pareciam impossíveis de serem rompidas, seus braços já não tinham tanta força quanto antes e tinha certeza que seus pés não o levariam muito longe uma vez que tivesse se libertado. Focou a própria mente em tentar escapar, espantando a imagem de uma Charlotte sendo brutalmente torturada de sua cabeça, se sentia a pessoa mais fraca da face da terra. Era tudo sua culpa. Tudo. A escuridão do local apenas piorou as coisas, como é que havia escurecido tão rápido? A luz fraca do computador não era muito útil uma vez que a câmera havia sido desligada e a tela estava completamente preta. Um vento gelado entrava pelas frestas da madeira velha e, em alguns instantes, ele tinha certeza que todos os tipos de animais venenosos estariam ali consigo. ’Deixe de ser idiota, Stephen. Que se fodam as cobras e aranhas. Se solte, seu imbecil.’ sentiu uma leve ardência ao perceber que o movimento de seus braços fazia com que a corda arranhasse sua pele com força. Congelou ao ouvir a porta abrir e o homem adentrar o local segurando um par de lamparinas sorridente. 
"Ora, não pare por minha causa, Stephen." colocou as lamparinas no chão de cada lado do corpo dele que o observou com o cenho franzido "Não finja que não estava tentando se soltar antes de eu entrar." Steve fez menção de avançar sobre o homem que riu "Gostou do show? Ah é, tenho que tirar isso aqui pra ouvir a resposta." 
"Seu filho da puta. Eu juro que vou te matar!" gritou ao que ele retirou a mordaça.
"E eu pensando que ouvir a tenente gemer de dor era algo que te deixava duro. Vejo que meu trabalho foi em vão."
"Por que não me solta e briga como homem, hein? Seu covarde." 
"E onde está a diversão nisso? Você mais que ninguém deveria entender que a graça está na parte em que mantemos o controle total sobre as nossas vítimas. Bem, no seu caso sobre as putas que dormem com você, mas deu pra entender."
"Encosta nela de novo e eu arranco a pele do seu corpo!"
"Faz-me rir, Stephen." sentou-se no chão "E sobre encostar na tenente, isso eu vou fazer, e muito, por quanto tempo me der na telha. Nem você, nem ninguém, vai poder me parar." passou a mão pelo cabelo levantando-se inquieto "Tenho algumas ideias para ela, quero que me diga qual delas acha a mais interessante." 
"Foda-se!" 
"Oh, Stephen." atingiu o meio das costas dele com um pedaço de madeira "Vocês dois se merecem. Dois nojentos sem o mínimo de educação."
"E v-você não é nem um pouco nojento, certo?" disse ofegante "Já se olhou no espelho? Você é ridículo."
"Tem sorte de eu não poder fazer o que realmente quero com você, Stephen. Muita sorte." lá estava ele circulando o outro daquele jeito predatório que tanto incomodava Larkin "O que acha que deveria fazer com a tenente? Arrancar suas unhas com um alicate? Ou talvez os dentes? Ela ficaria ainda mais feia sem dentes." parou na frente dele "Aliás, o que diabos viu naquela mulherzinha? Pequena demais, quadris estreitos demais para o tamanho de seu traseiro, ela é toda desproporcional. Francamente, um homem do seu nível se rebaixar à esse ponto é de dar pena." 
"E quem é aquela mulher que te acompanha? Sua irmã?" riu "É bem a cara de coisas como você estuprarem a própria irmã."
"Ah! Aí está a palavra que me fugiu da mente." sorriu inclinando a cabeça de uma forma assustadora "Talvez eu deveria fazer isso com a Charlotte, que tal? Não seria a primeira vez que ela seria usada enquanto dorme. Garota lerda."
"Não se atreva!"
"Ou o quê? Você vai me bater?" gargalhou "Acho que está superestimando demais a sua posição, Larkin. Tem sorte de eu não te obrigar a fazer isso com ela várias vezes seguidas." 
"Seu porco nojento!" cuspiu na direção do homem sem acertá-lo "Eu te castro, está me ouvindo? Eu mato você e aquela piranha!"
"Não haja como se Charlotte fosse uma virgem. Uma vez a mais ou a menos não faria nenhuma diferença, Stephen." colocou a mão no queixo "Não é como se você tivesse tirado a virgindade daquela imbecil, não é mesmo? Oh, se você soubesse como realmente aconteceram as coisas naquela noite." 
"O q-quê?"
"Deveria perguntar a tenente o que aconteceu com o Aaron. Ah, como eu sou tolo, nunca vai poder perguntar isso à ela. Os mortos não falam." Steve sentiu as lágrimas rolando por seu rosto antes que pudesse pará-las "Não chore, Larkin. Pense pelo lado positivo. Você não iria querer se casar com ela, certo? Charlotte é apenas um passatempo. Nem você mereceria que uma pessoa como essa fosse a mãe dos seus filhos." o amordaçou novamente e pegou as lamparinas "Deixarei que deduza por si próprio o que estarei fazendo com a sua tenente durante toda a noite. Bons sonhos." ao dizer aquilo ele saiu dali deixando pra trás o moreno e seus pensamentos aterrorizantes.
A ideia de um futuro sem ela o perturbava mais do que ele gostaria de admitir, naquele momento ela praticamente o sufocava. Não podia deixar que aquilo acontecesse. Se ele já havia se imaginado com ela vinte anos no futuro vendo seus filhos adolescentes crescerem e aprontarem enquanto os dois fingiam não saber? É claro que ele tinha imaginado. Céus, ele sabia que a queria pra sempre desde a primeira vez em que se viram. Não ligava se era um pensamento prematuro ou completamente idiota. A queria para si e ponto final. Sentiu a falta de ar piorar ao imaginar aquele monstro a violando. Tirando proveito de seu corpo tão frágil da forma mais suja do mundo. Acima de tudo, não se perdoaria se aquilo acontecesse. Conhecia alguns homens adeptos à somnophilia*, mas em sua mente essa era uma das formas mais grotescas de se obter um orgasmo. Ouviu um grito vindo da casa, grito esse que provavelmente havia vindo da acompanhante do assassino, e sentiu vontade de rir. A filha da mãe havia sido cúmplice em tudo aquilo, merecia sofrer e gritar. Merecia morrer. O grito dado foi único, Steve não ouviu mais nenhum barulho vindo da casa ou do computador. Seus olhos começaram a pesar, por mais que tentasse se manter acordado e continuar tentando escapar estava claro que não o conseguiria fazer. Caiu no sono dentro de alguns instantes.
Amy sentia o corpo todo doer. Literalmente. O rosto pulsava, o gosto do sangue em seus lábios a incomodava e sabia que um lado da face estava inchando gradativamente. O vento frio em suas pernas expostas pelos shorts jeans a incomodava, mas as marcas arroxeadas por esta eram ainda piores. Vestir aqueles malditos shorts apertados demais só piorava a sua situação. Um líquido escorria por suas partes íntimas e ela não precisaria tirar a roupa para saber que este era sangue. Observou o homem dormindo ao seu lado coberto pelo lençol de algodão. Deus, ele era tão bonito. Teve uma enorme vontade de abraçá-lo, deitar por cima de seu peito ouvindo os batimentos de seu coração enquanto ele dormia. Ainda bem que não era uma pessoa impulsiva, só Deus sabia o quanto ele odiava ser tocado quando dormia. Estava surpresa por ele a ter deixado permanecer na cama após transarem. Geralmente a situação era bem diferente. Sorriu com aquilo. A felicidade dele era a felicidade dela, e se pra ser feliz ele precisasse matar três, quatro, cinco ou mil pessoas, que as matasse. Amy não se importaria nem um pouco. Levantou-se indo em direção ao banheiro, após fazer xixi percebeu que, sim, havia sangue escorrendo por entre suas pernas. Olhou-se brevemente no espelho, vendo um hematoma se formar ali e os lábios inchados sujos de sangue seco. O sangue da tenente estava misturado ao seu e, por mais que quisesse, sabia que não poderia limpá-lo dali. Ele ficaria furioso. Mirou o seu reflexo apertando os olhos e tentando entender o porquê de alguém como ele se interessar numa pessoa como ela. Havia passado tanto tempo sendo rejeitada por todos ao seu redor que aquilo simplesmente não fazia sentido algum. Ainda bem que ele havia se apaixonado por ela. Sorriu pegando o pequeno pacote de comprimidos em sua bolsa. Aquela não era exatamente a droga favorita dele, mas esperava que ficasse feliz com o que ela trouxe. 
"Se não quiser dormir no chão é melhor vir se deitar agora." a voz sonolenta dela a despertou de seus devaneios e ela obedeceu rapidamente. 
Steve despertou ao ouvir um gemido vindo do alto falante do computador. Charlotte provavelmente havia acordado. A luz fraca do sol indicava o começo de um novo dia. A continuação de um pesadelo do qual ele nunca poderia acordar. A imagem na tela mudou do preto para a figura da mulher deitada na maca. Ele pôde observar que ela tremia com força e sua voz havia se tornado um pouco rouca ao que ela tentava ralhar com o homem de pé ao seu lado. Este vestia uma blusa preta e jeans azuis, diferente da roupa do dia anterior, e Larkin se perguntou mentalmente se o casal vivia na tal casa. A porta do celeiro se abriu, a mulher de cabelos castanhos estava completamente acabada. A pele extremamente branca de seu rosto havia absorvido um tom roxo beirando o preto que indicava a punição recebida por ela na noite anterior. Não sabia como diabos aquela mulher ainda estava conseguindo sorrir. Ela colocou uma garrafa de água perto do computador, sentando-se no chão de frente para a tela e parecendo esperar sua próxima ordem. O homem próximo a tenente disse algo no ouvido dela que fez com que ela se debatesse. Em seguida, deferiu socos sobre o rosto dela e, a cada um desses, Steve se via gritando contra a mordaça. Seus gritos transformados em gemidos abafados. O homem torceu uma das mãos dela, causando um barulho perturbador e lhe socou a cara mais algumas vezes. A mulher sentada virou-se brevemente pra trás sorrindo de lado. Ficou ainda mais desesperado ao ver que Charlie havia parado de se mexer por completo. Não podia estar morta. Forçou-se ainda mais contra as amarras, sentindo as cordas arranharem com força as feridas anteriores e percebeu que suas pernas estavam quase se soltando das outras cordas. Moveu-se violentamente, vendo as cordas afrouxarem e sentindo lágrimas que misturavam tristeza à alegria molharem seu rosto. Quando a morena se levantou, cessou os movimentos, não querendo que ela percebesse as cordas frouxas. Viu na tela o homem chamá-la com uma das mãos e ela saiu quase saltitando dali. Sentiu o estômago embrulhar ao vê-los sorrindo e, praticamente se comendo ao lado de uma tenente possivelmente morta. 
Amy retornou brevemente ao celeiro, levando o computador e se encarregando de arrumar tudo para que os dois saíssem dali de vez. O ouviu pedi-la para se certificar que a mulher estava mesmo morta. Abaixou-se próxima ao rosto da tenente que, em sua opinião, poderia estar bem pior e não a ouviu nem sentiu respirar. Levantou-se sorridente entregando à ele o pequeno pacote que havia comprado especialmente para aquele momento. Ele sorriu, envolvendo-a pela cintura e colocando a mochila sobre um dos ombros. Apontou para a arma que havia ficado na mesinha próxima à maca, ele deu de ombros a puxando pelos cabelos e beijando seus lábios brevemente antes de sorrir com vontade pra ela de novo. Seguiram em direção à velha garagem da casa, observando o Jaguar mal estacionado em frente à essa, e o homem lhe entregou a mochila montando-se na moto branca. Colocaram os capacetes, Amy sentou-se atrás dele o abraçando e sentindo o cheiro másculo que emanava de sua pele, o ronco do motor da moto e a poeira feita por essa na estrada de terra a fizeram sorrir feliz. Finalmente o teria só para si. 
Larkin escutou atento aos barulhos fora do celeiro, o ronco de um motor se afastando da casa o fez sentir um pouco de esperança e seu coração começou a bater acelerado. Esperou alguns minutos, ou horas, antes de começar a tentar se soltar novamente. As pernas se livraram das cordas, flexionou-as por alguns instantes sentindo o sangue circular de maneira normal novamente, e ele começou a chutar a madeira à sua frente com força. Não havia calculado precisamente se aquilo o ajudaria de alguma forma ou não, mas preferia tentar do que morrer ali daquele jeito. Tinha que ajudar Charlotte. Não fazia ideia de quanto tempo ficou ali, chutando a madeira sem parar, antes de sentir a corda que o prendia ceder um pouco. Mais chutes seguiram aqueles, e mais outros, e outros. Quando por fim, a corda se moveu novamente, dessa vez mais rápido do que ele esperava, Steve sentiu o próprio corpo colidir de maneira dolorosa com o chão. Gemeu de dor, viu que agora desfazer os nós que prendiam seus braços à madeira não era tão difícil assim. Soltou-se, massageando os pulsos feridos e tirando a mordaça. Respirou fundo antes de tentar sair dali. Caminhou com cautela pra fora do celeiro, colocando olhos e ouvidos em alerta para qualquer movimento. Franziu o cenho ao ver seu carro na porta da casa que parecia estar prestes a cair por completo. Tentou se mover dentro dessa em silêncio, mas era praticamente impossível o fazer. A madeira quase podre do chão fazia um barulho insuportável a cada passo que ele dava. Subiu as escadas observando seus passos tornarem-se silenciosos a medida que chegava mais e mais perto do segundo andar. Um corredor pequeno o aguardava ali, respirou fundo mais uma vez preparado para socar a cara de quem quer que aparecesse em sua frente, duas das portas estavam abertas e uma delas, a última, fechada. Ao passar pela primeira, viu um quarto vazio com uma cama de casal antiga e poucos móveis distribuídos pelo cômodo. O segundo quarto fez com que ele quase morresse do coração. Charlotte estava neste, deitada sobre a maca e os ferimentos em seu corpo pareciam muito piores do que ele havia imaginado. O cheiro de sangue era mais forte do que qualquer um que ele houvesse sentido antes. Não entraria ali ainda, tinha que se certificar que o lunático não estava na última porta. Abriu-a rapidamente vendo que atrás dessa tudo o que havia era um banheiro vazio. Onde estaria o casal? Não se importava. Agora tudo o que importava à ele era tirar a mulher dali em segurança. Voltou ao cômodo em que ela estava, tentando não se desesperar ainda mais. Aproximou-se dela, percebendo que sua respiração fraca poderia ser considerada inexistente, checou seu pulso e os batimentos também eram fracos. Pelo menos ainda estava viva. 
"Charlotte." chamou em voz baixa sem obter resposta. Continuou a chamando enquanto desamarrava seu corpo da maca. A sensação de dèja vu foi insuportavelmente dolorosa. Tirou a última amarra, que a prendia pelo pescoço e encostou seus lábios no rosto dela sentindo o gosto metálico de seu sangue na ponta da língua. "Charlie, por favor, acorda. Por favor." a chacoalhou levemente pelos ombros vendo seus olhos, agora sem a venda, mexerem-se lentamente e sorriu
A tenente sentiu-se despertar, mas preferiu fingir que ainda estava inconsciente. Todo seu corpo doía, seu joelho latejava e aquela maldita cólica a torturava. Antes estivesse morta. Ouviu alguém lhe chamar baixinho sem reconhecer a voz, sua cabeça estava uma bela bagunça, a pessoa tocou-lhe o rosto levemente antes de a chacoalhar e ela sentiu medo. Será que aquele maluco não havia se cansado das brincadeiras idiotas? Por que é que ele não a podia simplesmente deixar em paz? Era pedir demais? Suas pálpebras pareciam estar permanentemente coladas, teve que fazer uma força maior do que imaginava para abrir os olhos e, quando o fez, desejou que os tivesse mantido fechados. O rosto de Steve estava próximo demais do seu, sentiu as lágrimas fazerem seus olhos arderem e um grito inesperado sair de sua garganta. Ele se afastou rapidamente a observando preocupado, Charlie estranhou as feridas em seu rosto mas aquilo não a impediu de gritar novamente quando ele tentou se aproximar. 
"Hey, tá tudo bem." disse calmo tentando chegar perto dela
"Sai de perto de mim! Sai de perto de mim!" gritou desesperada, percebendo que agora poderia mexer seu corpo como quisesse
"Charlie, por favor, me escuta. Nós temos que sair daqui antes que ele volte." a abraçou, colocando-a sentada, e ela entrou em pânico. Sentia nojo, medo e se sentia confusa. Não queria que ele a tocasse, não queria gostar do seu toque. Que tipo de pessoa doente ela era? Seu corpo a estava traindo. Não havia outra explicação.
"Não me toque!" o empurrou com os braços cortados sentindo as pequenas feridas a incomodarem.
"Não faz assim." se separou dela a olhando nos olhos - Não me afaste de você. Estou tentando te ajudar. 
"Você é louco! Tire as mãos de mim!" deu um tapa na mão dele que estava sobre seu rosto "Por que não me matou hein? Por que é que você fez isso comigo?" a última frase doeu mais nele do que se ela o tivesse estapeado 
"Eu sei que você está um pouco confusa agora, mas acredite em mim quando digo que nunca faria isso. Foi ele".
"Ele quem, Larkin?" gritou "Você é um desgraçado, nojento. Não vai nem conseguir admitir seu próprio erro? Tire as suas patas sujas do meu corpo." o empurrou novamente chorando, olhou pra mesa ao seu lado vendo o seu ticket pra fora dali a esperando.
"Charlie…" antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela havia destravado a arma e a apontava pra ele com a mão esquerda. 
"Consigo atirar com as duas mãos, seu merda." mal conseguia enxergar o rosto dele através das lágrimas.
"O que você está fazendo?" franziu o cenho confuso sentindo o coração doer ao vê-la naquele estado.
"Por quê? Por que não me matou?" 
"Eu nunca faria isso." 
"Não." apertou a arma contra a cabeça dele "Minta. Pra. Mim." 
"Acha mesmo que se eu quisesse te fazer algum mal eu teria a soltado?" 
"Não me importa. Você é um doente feito todos os outros. Você é nojento." 
"Por favor."
"Cale-se." tentou se levantar ainda apontando a arma pra ele, no momento em que seus pés tocaram o chão e ela se levantou suas vistas escureceram e perdeu o equilíbrio do corpo.
"Vai com calma." a abraçou pela cintura.
"Tira essas mãos imundas de mim." ignorou a dor em seu corpo "Eu vou sair daqui nem que tenha que te matar. Acredite, eu mataria. Vai na frente." apontou a arma na direção da porta "Não tente nenhuma gracinha senão eu juro que atiro em você." 
"Charlotte..."
"Anda!" gritou e ele obedeceu ainda sentindo a dor no peito
"Você tem que acreditar em mim, eu não fiz nada. Por que é que estaria aqui se tivesse feito isso com você? Você não está em condições de andar. Pare com isso e me deixa cuidar de você."
"Se eu ouvir a sua voz mais uma vez, Larkin," arrastou a perna tentando se apoiar com a mão, que ela tinha certeza que estava quebrada, numa das paredes "eu vou explodir essa sua cabeça. 
"Ao menos me deixe te carregar até lá embaixo." 
"Não olhe pra mim! Não me toque! Esse é seu último aviso." ele concordou virando-se pra frente e prosseguindo lentamente tentando não prestar atenção aos gemidos de dor vindos dela acompanhados de fungadas baixas. Descer as escadas nunca foi tão doloroso pra mulher, nem mesmo quando ele a havia jogado de uma escada ela tinha sentido tanta dor, evitou olhar para o próprio corpo não querendo ver o resultado da loucura dele ali. Sua mão tremia com o peso da arma, mas ela não daria o braço a torcer. Respirou aliviada quando desceu o último degrau, sentindo-se fraquejar novamente e observando o emaranhado de cabelos castanhos no homem à sua frente. Sempre pensou que os cabelos deles eram negros. A dor no peito da tenente estava começando a superar a de sua perna latejante. Pigarreou antes de se pronunciar. "Fique aqui dentro, eu vou sair daqui e é melhor que não me siga. Não subestime a minha mira só porque estou desse jeito." caminhou de costas até a porta, vendo os olhos dele se encherem de lágrimas e se perguntando o porquê de ele estar tornando sua fuga tão fácil. Talvez fosse aquilo que ele queria no fim das contas. Destruí-la por dentro e por fora e a deixar jogada como um brinquedo velho no chão. Em sua pressa de sair dali, ela tropeçou caindo sobre a terra do lado de fora da casa e gemendo. Por instinto, ele correu até onde Charlotte havia caído na intenção de ajudá-la. 
"Sai de perto de mim!" gritou entre gemidos "Você está se divertindo com isso não está? Me ver agonizar até a morte te deixa com tesão, seu verme?" fechou os olhos com força.
"Charlie..."
"Não me chama assim! Nunca mais." arrastou o corpo na direção do carro dele. O barulho de um motor o fez ficar em alerta. Levantou-se rapidamente observando quarto carros se aproximarem da casa.
"Nós temos que sair daqui! Ele voltou!" deu um passo na direção da mulher que tentava abrir a porta do carro com a mão machucada.
"Não se aproxime!" o barulho das sirenes chamou a atenção dela que tentou se levantar sem sucesso "Socorro!" gritou ao ouvir o barulho dos pneus derrapando sobre a terra.
"Charlotte!" Steve tentou uma última vez se aproximar e ela deu um tiro no ar.
"NÃO CHEGA PERTO DE MIM!" 
"Charlie?" a voz de Anthony ao seu lado a surpreendeu e a maneira com a qual ele a olhou fez todas as dores piorarem "O que aconteceu?" 
"Ele fez isso comigo, Ant. Olha o que ele fez comigo." soluçou ainda apontando a arma para o outro. 
"Coloque as mãos atrás da cabeça e ajoelhe-se!" a voz de Sam atrás do homem os surpreendeu, Larkin a olhou confuso e como se pedisse ajuda "Anda, Larkin! Acabou." ele obedeceu ainda olhando para a mulher. Sam o jogou no chão, algemando suas mãos atrás das costas.
"Abaixe a arma, Charlie." a mão do agente tocou a sua delicadamente.
"Por que isso aconteceu comigo, Ant?" 
"Eu não sei, pequena, mas eu juro que vou descobrir." 
"Preferia que ele tivesse me matado." abraçou o homem com os olhos ainda grudados no outro deitado sobre o chão.
"Fica quietinha ok? Esses machucados tão muito feios, acho melhor esperarmos os paramédicos aqui mesmo." tentou secar as lágrimas dela em vão
"Ele me disse que era ele."
"Ele quem?"
"O açougueiro. É ele." apontou pro homem que agora estava sendo erguido. Sam e Anthony trocaram um olhar nervoso.
"Charlie -" antes que ele dissesse mais alguma coisa ela já havia desmaiado
"Stephen Larkin" a voz de Sam era quase um sussurro no ouvido dele que não tirava os olhos preocupados da mulher agora inconsciente "Você está preso pelo assassinato de Luna Goldman, Sarah Brown, Luke McNeil, Rachel Castro, Blair Anderson e pela tentativa de assassinato e sequestro de Charlotte Studi. Você tem o direito de permanecer em silencio; tudo o que disser poderá e deverá ser usado contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Se não puder pagar um advogado, será assessorado por um defensor público." os paramédicos a colocaram numa maca franzindo o cenho ao olharem o estado em que seu corpo estava "Você entende seus direitos?" virou-se para o homem que parecia segurar o riso
"Você está muito feliz, não está?"
"Eu?" se fez de bobo
"Sim. Agora pode ter a Charlotte toda pra você. Pena que não vai funcionar bem assim, não é mesmo? Porque nós dois sabemos que nem a sua amizade pode oferecer à ela." riu "Você é patético."
"Levem esse verme daqui." o empurrou na direção de uma das viaturas.
"Agente Murphy." um dos policiais disse saindo de dentro da casa.
"Sim?" Anthony segurava a mão da mulher que estava sendo colocada na ambulância.
"Eu acho que você vai querer ver o que encontramos."

*Somnophilia: a ‘síndrome da princesa adormecida’, uma parafilia do tipo predatória na qual a excitação erótica e facilitação ou obtenção de orgasmo são causadas por e dependem de carícias eróticas num indivíduo dormindo e que podem também levar ao despertar deste mesmo. Incluem penetração ou sexo oral, mas não envolvem violência

Bondage, Discipline, Sadism and Masochism - LEIAM A DESCRIÇÃOWhere stories live. Discover now