Fourteen

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"Charlotte. Charlotte, consegue me ouvir?" uma voz familiar perguntava distante.
Seus olhos se abriram por alguns instantes revelando uma luz branca forte, antes que sua mente fosse transportada para longe dali mais uma vez. Sentia algumas partes do corpo serem tocadas, perfuradas e arderem, mas não parecia ter forças suficientes para demonstrar qualquer reação. Depois do que pareceram dias, ela recobrou a consciência novamente, abriu seus olhos lentamente, sentindo que suas pálpebras pesavam toneladas e uma mão repousava sobre a sua. Jared apoiava a cabeça na outra mão encarando o chão, o quarto à sua volta era extremamente branco e parecia ser grande demais para a cama solitária que o ocupava.
"Onde eu estou?" sua voz soava mais rouca do que ela esperara.
"Charlie! Ainda bem que você acordou, vou chamar a enfermeira."
"Jared, espe-"
"Bom dia, senhorita Studi, meu nome é Judy e eu vou checar seus sinais vitais, tudo bem?" uma mulher alta e esguia disse ao adentrar o quarto.
"Claro. Você pode me dizer o que aconteceu comigo?" 
"Você teve um pequeno acidente, pelo que eu sei, seu braço foi deslocado e o nariz quebrado. Por isto o algodão no seu nariz." disse vendo a outra tocar o mesmo. "Você vai sentir um incômodo no braço esquerdo por alguns dias, tem sorte de não o ter quebrado, o doutor Tiernan disse que terá que usar uma tipóia até que ele volte ao normal. Ah, se sentir um incômodo na sua região pélvica, é por conta do absorvente que tivemos que colocar em você já que começou seu ciclo durante a noite. Alguma dúvida?"
"Há quanto tempo estou aqui?"
"Pouco mais de quatorze horas. Sente alguma dor? Fome?"
"Um pouco de fome e dor de cabeça."
"Vou providenciar algo para que você coma e um analgésico para a cabeça. Seus amigos querem falar com você, estão preocupados. Posso deixar que eles entrem?"
"Sim, por favor." 
"Charlie, você nos deu um susto!" Lauren adentrou o quarto seguida do irmão mais velho da tenente.
"Me desculpem." 
"Papai e mamãe estão se segurando para não virem pra cá. Eu lhes garanti que você estava bem, mas sabe bem como eles são né?" 
"Claro. Depois será que podemos ligar pra eles?"
"Sim, é só me avisar quando quiser que eu ligue."
"O que aconteceu com você, Charlie?" a mulher a observou com olhos preocupados.
"Eu não sei ao certo, minhas memórias estão todas meio que embaralhadas."
"Isto é normal, pelo que o Sam me disse, você provavelmente bateu a cabeça com força." ouviram algumas batidas na porta e a cabeça loira do homem apareceu pela mesma.
"Como é que está a minha tenente favorita?"
"Confusa, Sam. Vou buscar um café pra mim, vocês querem?"
"Eu estou bem." respondeu o capitão.
"Eu quero um, por favor." Jared disse piscando para a mulher que corou levemente antes de sair dali, fazendo com que ele risse.
"Você tem que parar com essas gracinhas, Jared." - a irmã mais nova disse vendo-o levantar os braços em rendição.
"Como se sente?" Sam sentou-se na cadeira ao lado da cama dela.
"Estou bem, só um pouco confusa como a Lauren disse. Pode me dizer o que aconteceu comigo?" 
"Bem, seu amigo fez uma visita ao seu apartamento e quando descobriu que você não estava por lá, ele e seu irmão me ligaram. Eu rastreei o GPS do seu celular, encontrando seu carro numa rua suspeita e depois disso foi fácil te achar." 
"Ele estava lá?"
"Ele quem?"
"O açougueiro, eu acho que era ele. Quer dizer, eu tenho certeza que foi ele quem fez isto comigo."
"Você conseguiu ver seu rosto?"
"Não, a casa estava completamente escura, foi como se ele tivesse coberto todas as janelas com algum pano ou algo assim." 
"Estranho." disse o homem pensativo.
"O que é estranho?"
"Quando entramos no prédio, todas as janelas estavam abertas. Os cômodos estavam bem iluminados quando encontramos você amarrada no centro de uma sala. Consegue se lembrar de alguma coisa?"
"Eu não sei."
"Tente, por favor, é importante."
"Ok." a mulher se forçou a lembrar-se de algo, uma melodia familiar não saía de sua cabeça. "Jim Morrison."
"Como?"
"Eu escutava a voz de Jim Morrison." forçou um pouco mais a própria memória lembrando-se da risada de duas pessoas ao que pouco a pouco mais dor se espalhava por várias partes de seu corpo. Observou partes do mesmo vendo pequenos cortes e uma queimadura no seu pulso, que houvera sido claramente causada por um cigarro aceso.
"Talvez ele estivesse ouvindo música?" Jared se pronunciou no canto do quarto.
"Eles."
"Eles?" perguntou Sam confuso.
"Eu poderia jurar que ouvi duas pessoas rindo enquanto estava inconsciente. Ou quase inconsciente." 
"Nenhum rosto?"
"Não, desculpa."
"Você acha que conseguiria reconhecer a voz do homem?"
"Eu gostaria de te dizer que sim, mas ele mudou a própria voz."
"Como assim?" questionou seu irmão.
"No começo, sua voz era bem baixa e rouca, mas não naturalmente rouca. Era como se ele estivesse a forçando um pouco. Depois, eu acredito que ele tenha usado uma daquelas máquinas idiotas de modificar a voz."
"Merda." 
"Eu queria poder ajudar mais, mas não sei de mais nada." 
"Por que é que você foi praquele lugar sozinha?"
"Os dois policiais, os militares me avisaram pelo rádio que havia um corpo lá."
"Você sabe que a primeira coisa a se fazer neste caso é pedir reforços, Charlotte." 
"Eles me disseram que haviam pedido reforços. Aliás, onde é que estão esses inúteis? Quase acabaram com a minha vida."
"Este é o problema." 
"Como assim, Sam?"
"Não havia polícia militar nenhuma, Charlotte. Era uma armadilha." Jared respondeu pelo homem.
"Mas eu não entendo. Como é que conseguiram ganhar acesso aos nossos rádios?" 
"Ainda estamos tentando descobrir esta parte."
"Não há como rastrear este tipo de coisa?"
"Não sei, tenho que perguntar aos encarregados desta parte. Não é isto o que me preocupa."
"Então o quê?"
"Encontramos o corpo de uma garota na cena do crime." 
"Então havia mesmo um corpo?" 
"Sim. Toma." entregou-lhe uma pasta que continha fotos de uma mulher aparentemente bonita. A garganta desta havia sido aberta, havia um corte profundo em sua barriga, como se esta também tivesse sido aberta, e em suas pernas outros cortes formavam uma frase.
"“Aqui está mais uma vadia, tenente”" leu a frase em voz alta. 
"Ainda estamos procurando a identidade dela, mas pelo que já foi analisado ela provavelmente tinha trinta anos. Não conseguimos encontrar o fígado."
"Por que é que ele levaria o fígado dela?"
"Não sei, Charlotte, eu não consigo entender a cabeça deste cara." 
"Isto é bom."
"Como assim?"
"Ele não parece seguir um padrão. O que indica que ele não tem muita experiência ou técnica quando o assunto é matar pessoas. Ele está ficando cada dia mais desastrado e menos cauteloso."
"Ainda assim, parece que fica cada dia mais violento." 
"Mostre a ela, Sam."
"Me mostrar o quê?"
"Na cena do crime encontramos um gravador." levantou um saco plástico que continha o aparelho pequeno, pegou uma das toalhas de papel segurando o mesmo com esta. "Parece que o nosso assassino gosta de guardar souvenirs." Apertou o play.
"Não, por favor, não!" a voz chorosa de uma mulher implorava e um barulho elétrico pôde ser ouvido. Ela gritou ainda mais alto. Os gritos de socorro e pedidos de piedade duraram vários minutos antes que Sam decidice por fim desligar o aparelho.
"O que a gente vai fazer agora, Sam? Você acha que deveríamos mostrar a fita para os parentes das vítimas anteriores? Quem sabe eles não reconhecem a voz?"
"Esta ainda não é minha maior preocupação."
"Então o quê?" 
"Você é minha maior preocupação."
"Eu vou ficar bem, Sam."
"Não é seu estado físico que me preocupa. Eu acho que fui precipitado ao recomendar que você fosse nomeada tenente."
"Isso é um absurdo!"
"Não, não é. Você sabe que não é, Charlotte. Se fosse um absurdo, você não teria entrado num prédio suspeito totalmente despreparada." fez um sinal com a mão para que ela não o interrompesse. "Eu também acho que está próxima demais do caso para tratá-lo com a seriedade necessária."
"Eu não acredito que estou ouvindo isto de você."
"Só estou te dizendo a verdade."
"É por causa do Larkin, Sam? Você realmente está fazendo todo este alarde por causa de ciúmes? Eu esperava mais de você."
"É a verdade, Charlotte. Doa o quanto doer. Você está íntima demais do nosso maior suspeito pra poder pensar direito."
"Você é louco."
"E você precisa aprender a encarar os fatos."
"Oras-"
"Chega!" Jared exclamou os assustando. "Eu sinto muito, minha irmã, mas tenho que concordar com Sam. Não conheço este tal Larkin, mas eu posso ver claramente a mudança que a presença dele na sua vida causou. Você sempre se focou mais na sua vida profissional e veja só onde chegamos."
"Jared, não é assim."
"Claro que é assim. Desde quando você, logo você, deixou de ocupar as páginas de destaque policiais do jornal para aparecer nas fofocas das colunas sociais? Você tem que pensar no seu futuro, no respeito que merece da população, antes de simplesmente dormir com um mauricinho drogado com tendências psicopáticas."
"Querem saber? Saiam daqui, não estou com cabeça para lidar com nenhum dos dois." 
"Tudo bem, voltaremos mais tarde. Vamos, Jared?" 
Os homens saíram do quarto a deixando sozinha com seus próprios pensamentos. Por mais que ela quisesse negar, sim, era verdade. De uns tempos pra cá não se sentia capaz de se focar no trabalho que tanto batalhou para conseguir como antes. A culpa não era  de Steve, não. A culpa era da própria vida que ela levava. Nunca tivera a oportunidade de realmente aproveitar sua vida, sua juventude, quando adolescente passava tempo demais enfiada nos livros ou tentando compreender a cabeça maluca de seu ex namorado. Nunca tivera a oportunidade de não se preocupar com absolutamente nada. Não antes de estar com Larkin. Quando estava com ele, era como se não existissem problemas em sua vida. Como se ela pudesse passar dias sem trabalhar e sem se comunicar com ninguém. Estar com ele lhe dava uma liberdade que ela não provara em anos anteriores, ela gostava daquilo. Não é como se estivesse perdidamente apaixonada pelo dono dos olhos mais lindos que ela já vira, mas também não era só pelo sexo. Estaria mentindo se dissesse que não gostava dele, claro que ela gostava, não iria pra cama com ele do contrário. Não aceitaria ser submissa a ele se não gostasse do homem, mas a pergunta que não queria calar era: Será que ela gostava dele o suficiente para deixá-lo interferir em sua vida profissional? 
Alguns minutos antes…
Stephen caminhava em passos largos com uma expressão de pânico no rosto. O que havia acontecido com Charlotte? Ele ainda não sabia direito. Quando a encontraram ele pôde vê-la brevemente, ainda dormindo, depois que os médicos a examinaram. Na sala de espera do hospital o clima era no mínimo desconfortável. O tal irmão da tenente o olhava com uma cara nada amigável enquanto cochichava junto ao capitão Hagman.Lauren felizmente o tratava bem, tentando puxar papo com ele de vez em quando. Larkin retornara brevemente ao seu apartamento onde trocou de roupa após um banho rápido e cancelou seus compromissos daquele dia. Não iria arredar o pé do hospital enquanto não visse os olhos amendoados da mulher e tivesse certeza de que ela estava bem. Cumprimentou a recepcionista, mostrando-lhe sua identidade e colando o adesivo de ‘visitante’ na camisa polo que vestia. Mal havia chegado ao corredor próximo aos elevadores quando esbarrou num homem pouca coisa mais baixo que si mesmo.
"Me desculpe." disse amigavelmente.
"Então é você!" o homem disse quando ele fez menção de continuar andando.
"Como?"
"Você é Stephen Larkin." riu sarcasticamente.
"Sim. A gente se conhece?" perguntou, esperava que não fosse um daqueles jornalistas intrometidos.
"Não exatamente. Temos alguns amigos em comum."
"Okay?"
"É engraçado."
"O que é engraçado?" franziu o cenho confuso.
"É engraçado pensar que você" o olhou de cima a baixo com desdém "é o cara que estava cuidando da minha garota enquanto eu não retornava."
"Oi?" mas de que diabos aquele homem estava falando?
"Não vamos nos fazer de bobos, sim? Eu sei que você e Charlotte estavam tendo alguns encontrinhos enquanto eu saí da cidade."
"A tenente nunca me falou de você."
"É porque eu e ela tivemos algumas desavenças há uns dois anos."
"E você pensa mesmo que depois desse tempo todo ela ainda quer algo com você?"
"Acredite em mim, ela quer sim."
"Tenho mais o que fazer do que ficar escutando um lunático dizer coisas que não fazem sentido algum."
"Você é quem sabe, Larkin, mas se eu fosse você iria embora. Está desperdiçando seu tempo. Eu conheço aquela garota melhor do que você imagina."
"Aí é que você se engana." 
"O quê? Vai me dizer que dormiu com ela?"
"O que nós dois fizemos não te diz respeito."
"Então é isto, você dormiu com ela. E daí, Larkin?" gargalhou. "Pra ela você vai ser sempre isso, só mais uma foda. Você nunca vai ser o homem que ela levará pra casa ou apresentará à família e aos amigos. Sabe por quê? Porque por baixo dessa máscara de empresário poderoso, você é so mais um garoto mimado que nunca teve a atenção dos pais. Você nunca será homem o suficiente para a Charlotte. Nunca será como eu." Larkin mal conseguia enxergar algo a sua frente tamanha era sua raiva. Quem diabos esse estranho pensava que era para falar assim com ele? Ou até mesmo para duvidar do que ele tinha com a tenente? O sangue em suas veias borbulhava como há muito tempo não acontecia, tudo à sua frente parecia vermelho e ele queria matar o homem. Esmagá-lo com os próprios pés. Pulou, literalmente, sobre o outro desferindo socos por seu rosto. O homem revidou e logo eles praticamente rolavam no chão tentando golpear um ao outro. Uma voz feminina tentava dizer algo em meio a confusão, mas tudo o que Steve conseguia ouvir eram as palavras do homem ecoando em sua própria cabeça. 
"Parem com isso!" Lauren gritou ao que os enfermeiros separaram a briga. 
"Eu vou te fazer engolir cada um de seus dentes, seu filho da puta!"
"A verdade dói, não dói, Stephen?" 
"Não mais que a surra que eu vou te dar vai doer!" disse tentando se desvencilhar dos braços que o seguravam.
"Anthony? O que é que você está fazendo aqui?" perguntou confusa.
"O que você acha, Lauren?" 
"Não me importa, você sabe que não deveria estar aqui. Por favor, acompanhem-no até a saída." 
"Tenho pena de você, Larkin, pena!" Anthony disse rindo enquanto era quase arrastado pra fora dali.
"Podem soltá-lo. Obrigada" disse aos enfermeiros que logo se afastaram. Ela pegou uma toalha de papel oferecendo-a ao homem que limpou um pouco do sangue que escorria do canto de sua boca. "Pode me dizer o que aconteceu aqui?"
"Quem era aquele cara?"
"Anthony? Um fantasma do passado que deveria ter ficado no passado."
"O que houve entre ele e a Charlotte?" 
"É uma longa história, não sei se tenho o direito de te contar, mas ele não é motivo de preocupação."
"Não é o que parece."
"Confie em mim, Anthony é a última pessoa que a Charlie iria querer ver em sua frente." 
"Espero que esteja certa." sorriu fracamente.
"Eu estou. Apesar que isso não me agrada nem um pouco, posso ver que a minha amiga está totalmente na sua."
"Por que não te agrada?"
"Não sei, muitas razões. Quando olho pra você, você me passa uma enorme confiança, mas depois, quando penso em tudo que já ouvi ao seu respeito, fico com receio." 
"Nem tudo que você ouve é verdade, eu te garanto."
"Queria poder acreditar em você."
"Vou ter que voltar pra casa e me trocar." apontou para a camisa que estava levemente manchada de vermelho. "Pode pedir a tenente para me ligar se tiver alta? Eu não devo demorar muito."
"Claro."
"Obrigado."
"Imagina." ela apertou o botão do elevador.
"E, Lauren?" 
"Sim?"
"Eu ainda vou provar que você está errada."

**

Apesar da relutância dos médicos, Charlotte foi liberada no mesmo dia, Jared praticamente a carregou do quarto que ocupava no hospital até que ela chegasse ao seu próprio quarto em sua casa. Sam deixou o apartamento com a promessa de conversar mais sobre o assunto ‘emprego’ quando ela estivesse descansada. Tomou um dolorido banho, tendo ainda mais dificuldade em vestir as próprias roupas e o irmão penteou seus cabelos longos atrapalhadamente fazendo com que ela risse. Convencer seus pais a não pegarem o próximo vôo para a cidade foi outra tarefa difícil, mas que ela conseguiu cumprir. Por ordens médicas, era recomendado que ela não esbaldasse demais no cardápio, então Jared ficou encarregado de preparar uma sopa de espinafre que a fez torcer o nariz. A campainha tocou ao que eles jantavam e o homem foi atender a porta. Charlotte não se deu ao trabalho de verificar quem era o visitante, mas ao ouvi-lo murmurar algo em uma voz irritada, se virou em direção à porta reconhecendo os ombros largos em frente aos do próprio irmão. Levantou-se da mesa e caminhou em direção aos dois, vendo que Jared quase batia com a porta no rosto do homem.
"Charlotte." ele disse aliviado.
"Steve, entre por favor." lançou um olhar irritado ao irmão que saiu do caminho.
"Fico feliz em saber que você está melhor."
"Obrigada. Vem, vamos conversar no meu quarto." 
"Charlotte!"
"Jared, por favor, coloque a louça na lava-louças, sim?" antes que ele pudesse retrucar ela puxou o outro pela mão em direção ao próprio quarto. "Meu irmão é um pouco ciumento, desculpa." 
"Tudo bem, eu também seria." disse olhando as pernas dela que estavam mal cobertas pela camisola preta que vestia.
"Então? O que te trouxe à minha casa?" sentou-se na cama.
"Só queria mesmo ver como você estava." Observou os objetos ao seu redor tentando memorizar o lugar em que eles estavam, o quarto dela era bem diferente do que houvera imaginado e ainda assim tinha tudo a ver com a personalidade da mulher. Seus olhos pararam sobre um porta retratos que continha a foto dela e de sua família. "São seus pais?"
"Sim."
"Sua mãe é bonita, deve ser de família." aproximou-se dela que riu.
"Obrigada pelo elogio, ou deveria chamar isto de cantada barata? Mas eu e Jared fomos adotados."
"Ainda assim acho que sua mãe é uma gata."
"E meu pai é um atirador exímio."
"Por que é que eu fui mexer com esta família mesmo?" colocou uma das mãos na cintura dela que sorriu sem graça. Um mural de fotos na parede lhe chamou a atenção, mais especificamente uma das fotos neste. Tentou ignorá-la e juntou os lábios aos dela beijando-a desesperadamente. Charlotte franziu o cenho surpresa, mas ainda assim retribuiu o beijo. Sentiu o homem deitá-la na cama cobrindo seu corpo com o próprio e apertando uma de suas coxas com vontade fazendo-a ofegar. 
"Nós precisamos conversar." separou seus lábios dos dele ainda ofegante.
"Eu concordo."
"Pode dizer o que tem a dizer primeiro."
"Eu não acho que possamos ser amigos com benefícios."
"Penso da mesma forma." disse sentando-se ao lado dele.
"Sério?" ele tentou não sorrir, mas tinha certeza que seus olhos demonstraram sua felicidade ao ouvir aquilo. Ela também o queria! 
"Nós precisamos dar um tempo."
"O quê?" a voz dele saiu mais alto do que esperava, sentiu o próprio coração afundar dentro de seu peito e ela viu a decepção em seus olhos.
"Um tempo. Eu preciso colocar minha vida em ordem, preciso resolver alguns problemas no trabalho e não acho que seria justo para nenhum de nós dois investir nisso sozinho."
"E-eu entendo." se surpreendeu ao ouvir a própria voz. Estava mentindo, ele não entendia merda nenhuma. Aliás, tudo o que ele sentia era uma raiva enorme se formar dentro de si, raiva de si mesmo, raiva dela e raiva de tudo ao seu redor.
"Me desculpa." Charlotte disse baixo mordendo o lábio inferior se sentindo repentinamente frágil e com uma imensa vontade de chorar.
"Tenho que ir." não lhe deu a chance de dizer mais nada e quando deu por si já estava dentro do carro, dirigindo sem rumo. Como poderia ter sido tão idiota? Havia sido, mais uma vez, enganado. Se sentia traído e nem ao menos sabia o porquê. Ou talvez soubesse e apenas não quisesse admitir. Anthony estava certo no fim das contas.

Bondage, Discipline, Sadism and Masochism - LEIAM A DESCRIÇÃOWhere stories live. Discover now