72 - ANY

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Não sei como sobrevivi a duas semanas quase sozinha, mas sobrevivi. Vou guardar essa história para contar com orgulho no futuro.
Se alguém algum dia ousar me falar que está com tédio, eu responderei:

Tédio? Você sabe o que é passar duas semanas sozinha? Não me fale sobre tédio!

Ok, talvez eu esteja exagerando. Mas quem liga?

Estamos na sexta-feira. Sabina chega amanhã e Josh no domingo.

Essa semana e eu Josh nos desencontramos diversas vezes, infelizmente. Quando ele podia me ligar, eu estava dormindo ou tinha saído. Como eu disse, talvez eu tivesse exagerado na questão do tédio. Enfim,  quando saio, não levo meu celular porque tenho medo. E como só fico andando por aqui, não vou muito longe, não vejo necessidade de levar o aparelho.

Só teve uma vez que sai e levei meu celular, foi na única vez em que sai com Noah. A gente foi tomar um sorvete no shopping e Josh me ligou na hora. Brigamos porque ele estava sendo meio idiota. Noah é meu amigo e eu estava surtando ficando sozinha. Sério! Precisava de alguém para conversar. Minhas caminhadas estavam boas, mas não era o suficiente.

Josh disse que eu tinha a mãe dele e Jaden para conversar e eu ri. Sim, eu tinha e eles me salvaram muito nessas duas semanas. Fiquei jogando vídeo game com meu cunhado e ajudei Úrsula na cozinha diversas vezes, mas mesmo assim, precisava espairecer e Noah foi bem vindo.

Cheguei a mandar mensagem para Mark, para comermos algo ou sei lá. Mas ele me pediu mil desculpas, disse que estava fora da cidade, viajando com a família.

Não me arrependo de ter saído com Noah. Porém, minha briga com Josh foi meio chata, fiquei irritada, depois triste e depois irritada de novo. Com certeza ele estava se divertindo lá e eu tinha que ficar em casa? De jeito nenhum! Ele não me pediu pra ficar também, só não gostou de eu ter saído com Noah.

No dia seguinte ele me ligou novamente e a gente se resolveu.

Não gosto de brigar com ele. Ainda mais se estivermos a alguns quilômetros de distância. Minha mente traiçoeira imagina mil cenários, cenários nada agradáveis e eu fico a ponto de surtar.

Felizmente estamos bem agora e ele está voltando domingo.

Daqui a dois dias.

Não vejo a hora.

(...)

Acordo assustada. Um trovão soa e eu me encolho na cama. Vejo a hora no celular e percebo que dormi mais de doze horas seguidas. Mais uma vez, perdi a chamada com Josh.

Bufo irritada.

São oito horas da manhã, o tempo está meio escuro e chove lá fora.

Hoje eu pensei em visitar um lugar que há muito tempo eu não visito. Um lugar que me dá calafrios ao pensar, mas que, de uma certa forma, me faz bem também.

Olho a chuva mais uma vez pela janela, com meus olhos meio abertos e meio fechados e resolvo que ela não vai me impedir. Já arrumei desculpas demais.

Levanto da cama e entro no banheiro, decidida.

(...)

O Uber para em frente ao grande portão cinza velho e eu saio do carro. Sai fumaça da minha boca toda vez que solto o ar. Visto uma calça preta jeans e uma blusa marrom, gola v. Queria ter vindo na hora em que acordei, mas foi impossível. A chuva estava muito forte e me impediu de sair de casa. Agora são quase duas da tarde e eu me encontro aqui, com meu guarda-chuva colorido, fazendo contraste com todo o cenário, uma rosa na mão e com pouquíssima coragem de entrar. Nunca vim aqui sozinha. Não sei o que me deu.

Trust | Beauany - (em revisão)Where stories live. Discover now