Novamente... "Ele"!

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Capítulo IV
Novamente... "Ele"!!!

Acordei de forma tão esplendorosa, sorridente, pensando na noite maravilhosa e nas novas amizades que eu fizera. Não havia feito um show à parte como da outra vez na Eclipse, com Milan e seus amigos, pois tomei cuidado em não me esbaldar no álcool. Afinal, eu queria dessa vez lembrar de tudo que fiz. Liguei para o número do apartamento que Tony havia alugado e que dividia com Simona, mas ninguém atendia. Achei maravilhoso saber que ele estava fazendo uma pós graduação em História exatamente em Praga. "Como um brasileiro iria querer fazer faculdade de História na República Tcheca, tendo França, Portugal, Espanha e Itália tão mais comuns e fáceis na questão do acesso, da língua?..." Pensei, lembrando-me de uma das conversas que tivemos na boate. Vieram-me as palavras dele na mesma hora: "O lugar-comum não me apetece, lindinho. Adoro ousar, o desafio, o mistério, a sedução." Aquela frase já era a resposta que eu buscava nos meus pensamentos. Tony tinha uma desenvoltura para fazer amizades, para falar com todo mundo, achei aquilo incrível. Eu também tinha certa facilidade para isso, mas não com tanta proeza. Eu queria reencontrar meu novo amigo e claro, me decidi a buscar algo interessante naqueles três meses em que iria ficar na Europa, como turista. Pela primeira vez refleti sobre tudo o que eu ainda queria viver e ficar numa vida pacata em Brasília parecia algo mais distante na minha lista de prioridades. Desisti de tentar ligar para Tony, acreditei que deveria estar num sono profundo. Eu e minha mania de acordar cedo, acho que era mais costume por causa do trabalho no Brasil, incomodando logo de manhã um amigo que acabara de fazer. "Não seria elegante", refleti.
Mais uma vez Ingrid voltava a me irritar ao telefone e o dia apenas começando. Ela queria já pensar em um jeito de me incluir como funcionário na agência de Henri. Adorava a personalidade da minha irmã, mas ela tinha esse hábito de querer fazer planos para os outros, sendo que eu não queria fazer tais planos naquele momento. Não me via morando na Europa, porque eu adorava viver no Brasil, adorava estar na zona de conforto, era tão mais fácil. Desconversei sobre suas pretensões e tratei de me livrar logo dela, pois estava morrendo de vontade de falar com meus pais e com Kassandra. Eu adoraria tê-la ali comigo, porque ela sim me entendia, fora a cumplicidade que tínhamos conquistado após anos de amizade. Liguei primeiro para meus pais, que ficaram meio sem jeito de dizer que eu tinha feito uma loucura ao ceder aos caprichos de Ingrid. Eu sei que foi uma gostosa loucura depois dos dias que já tinha vivido ali. Eles meio que entenderam quando expliquei-lhes que eu precisava daquele tempo, daquelas situações. Eles não entendiam que lá no Brasil, no trabalho, na vida cotidiana, eu tentava esconder uma feminilidade que queria explorar. Eu lutava para equilibrar os dois lados, mas o lado feminino estava ali, gritante e isso muitas vezes era motivo de preconceitos, de discriminação e meus pais sabiam disso, mas nunca havíamos conversado sobre esse detalhe de uma forma mais aberta. Ingrid sabia disso e intuitivamente me colocou naquela situação, na cultura daqueles países mais abertos, menos provincianos. Encerrei a ligação com meus pais e tratei de ligar para Kassy. Dei sorte de ela estar em casa, claro, porque ela vivia na rua, trabalho, correria, enfim. Fui saciado após ficar um bom tempo ao telefone, tendo a certeza de que a agência de Henri ganhou um débito um tanto "gordo", se o caso for telefonemas para o exterior.
Eu bem que estava gostando, sabe, da vida tranquila de Ingrid. É claro que era esse o tipo de vida que ela almejara, ao se casar com aquele anjo de candura. Somente desfrutando do bom e do melhor. Mas não poderia me acostumar àquilo. Afinal de contas estava apenas tirando umas férias e, mesmo que eu decidisse porventura viver na Europa, certamente não seria às custas de meu cunhado. Iria trabalhar normalmente como sempre fiz. Mas pelo menos por enquanto eu iria aproveitar...
Eu ainda estava morrendo de vontade de ligar para Tony, porque sabia que nossa amizade seria para sempre. Pensei novamente sobre a decisão dele em fazer faculdade na República Tcheca. "Ai! Mas logo ali? Em Praga? Para aprender as coisas em tcheco? Bom, há gosto pra tudo, não é?" Pelo menos foi maravilhoso tê-lo encontrado. Nos demos tão bem. As meninas também foram ótimas. No começo tiveram ciúmes, pois achavam que eu estava intressado em Tony de outra maneira, mas logo viram que era totalmente amizade mesmo. Afinal eu e Tony gostávamos da mesma fruta e fizemos uma linha "Irmãs Coragem" em busca do amor de final de verão em Praga. As meninas riram muito quando falei isso para elas na casa noturna. Gostei delas... Mas encontrar um brasileiro, gay, decidido, imponente, sem medo de desbravar o mundo, bem ao meu estilo, aí sim, foi "super". Novamente o telefone de Tony só chamava. Fiquei imaginando se ele tinha dado realmente o número verdadeiro.
Desisti de querer ligar para ele, até porque imaginei que estavam descansando um pouco mais que eu. Para eles a noite foi uma loucura. Eu aproveitei à minha maneira e poupei energia. Então teria o dia inteiro para aproveitar...
Desci bem rápido para a piscina do hotel, o sol lindo a brilhar, um calor diferente, que eu não sentia nem nos tórridos dias de verão no Rio, muito menos em Brasília. Todas aquelas pessoas espremidas, se banhando... Um horror! Tantas pessoas torrando ao sol, gente bonita e gente feia. Crianças correndo para lá e para cá, um dia típico de domingo, se eu estivesse num dos inúmeros clubes que havia em Brasília. Não imaginava que havia tantos hóspedes ali. Fiquei em pânico. Achei uma cadeira reclinável e bem confortável com um guarda sol que parecia minha cara, todo no arco-íris, para, pelo menos, ver aquele burburinho. Eu descobri naquele exato momento que o hotel abria a parte da piscina e do restaurante para as pessoas da cidade nos fins de semana. Por isso tanta gente! O jeito era aproveitar um pouco para recuperar as energias antes de sair e explorar novamente o mundo ao redor. Meus pensamentos estavam voltados em ligar para Tony e ter um novo encontro com Milan, que havia me convidado a passear de barco pelo rio Moldava. Eu estava numa ansiedade só!
De repente, comecei a notar algo melhor, à medida que meus olhos visualizavam o outro lado da enorme piscina. Fiquei ali mesmo na confortável cadeira de praia, deslumbrado com uma visão dos deuses. Minhas atenções eram para um grupo de quatro pessoas onde o "príncipe" dos belos olhos azuis, que eu vira uns dias atrás, conversava amigavelmente. Não resisti e fiquei a fitá-lo. Dessa vez ele estava de frente para mim, em pé, short branco e camisa regata azul clara. Era alto, com certeza tinha mais de um metro e noventa. Branco como um algodão. Não era musculoso como um troglodita, mas tinha braços e pernas bem trabalhados, com certeza numa academia de ginástica. Aquele cabelo castanho-escuro contrastava com os olhos azuis. E aquele sorriso que ele deu ao ouvir algo como se fosse uma piada... Que sorriso lindo! Nossos olhares finalmente se cruzaram de forma mais picante. Eu estava quase perto de um infarto! Sabia que aqueles olhos lindos tinham me notado naquela noite e que estavam me notando de novo, dessa vez sob um sol de rachar. Ele sentou-se, tentando disfarçar a timidez após a troca intensa de olhares. Percebi sua desatenção à conversa quando uma das pessoas à mesa cutucou-lhe o braço. Ele, sem graça, voltou a falar com os outros que pareciam ser os mesmos rapazes da outra noite. Sem perder tempo, dirigi-me até uma parte linda do parque aquático do hotel, que parecia mais um pedaço do Caribe com belos coqueiros ornamentais, bananeiras e plantas exóticas, sentando-me a uma mesa com temas tropicais. Algumas pessoas caminhavam pelo local para fugir um pouco do estresse da piscina. Fiquei folheando uma revista de moda, esperando que alguém me interrompesse...
- Nossa, essa parte do hotel é a que eu mais curto... - gelei dos pés à cabeça ao levantar a vista. O belo rapaz estava ali, sentado à minha mesa, falando num inglês perfeito. Quase gaguejava ao tentar responder, mas tive de ser altivo.
- Não vejo muita graça aqui, mas é legal. - respondi, tentando mostrar futilidade diante do comentário, rezando por dentro para que a conversa durasse eternamente.
- Você é dos trópicos, não é? Acho que é por isso que não se encantou com esse pedacinho do paraíso. Eu adoro isso aqui. - disse ele, meio sem graça.
- Vai ver é isso... - tomei coragem antes de continuar - Você está hospedado aqui também?...Você é tcheco, não é? - quando vi a outra pergunta já havia saído.
- Tenho que estar aqui. Meu pai é dono disso tudo. - fiquei perplexo!
- E eu falando mal do seu jardim... Meu Deus, que ridículo! - disse, sem jeito.
Isso foi o estopim que eu buscava para dar continuidade à conversa. Acho que já nos conhecíamos em outra vida porque, nossa! Ficamos a conversar durante toda a tarde, sem incômodo algum. Ele explicou-me mais coisas sobre Praga que me deixaram encantado. Falei-lhe sobre meu país e de como éramos hospitaleiros, festeiros... É claro que ele já sabia dessas coisas.
- Que coisa, hein? Estamos aqui nessa conversa e nada de nos apresentarmos - repliquei, com o desejo de saber seu nome.
- Não seja por isso. Muito prazer, me chamo Jan. - ele fez questão de escrever o nome no chão para mostrar que o "j" é pronunciado como "i" e que por isso era pronunciado "Ian". Para mim não importava a pronúncia. O nome só vinha a complementar aquela beleza estonteante. Eu não perdi tempo e elogiei o hotel, o nome, enfim, tudo que dizia respeito a ele... Jan começou a esboçar um sorriso antes de falar:
- Ei, espere um pouco! É elogio demais. Acho que eu não pude ainda expressar que você é muito simpático. Não sei por que deixei de ir até a varanda do restaurante naquele dia. Nossa, queria muito te conhecer ali mesmo, mas meus amigos nem largavam do meu pé!
- Eu notei. Você não imagina como fiquei sem jeito. Foi um mico daqueles!
- Mas, e seu nome? Vou ficar sem saber mesmo, né? - perguntou ele, fixando aqueles olhos azuis como duas águas-marinhas bem no meu rosto... - Já te disseram que sua pele tem uma cor linda?... - pelo amor de Mãe Dinah!... eu gelei com aquele comentário, mas continuei imponente, sem me derreter muito.
- Me chamo Yuri, e "gracias" pelo elogio à minha cor. - queria avançar nele ali mesmo, beijar aqueles lábios tão lindos, mas me contive e continuei:
- Aqui é bem mais fácil expressar sem muita hipocrisia a opção sexual, não acha? Pelo menos foi o que deu pra perceber...
- Na Europa tudo é um pouco mais fácil. Mas no Leste Europeu as coisas estão melhorando agora. Nem sempre foi assim e pra muitos ainda não é. Meus pais, por exemplo, são hiper antiquados, então não consigo abrir muito da minha vida, se é que você me entende. Mas eles sabem que eu vejo a pessoa e não o sexo, sei lá, é meio louco. Eu te achei interessante e você é do mesmo sexo que eu, mas tem um ar muito andrógino em você. Desculpa, a gente mal se conhece e eu já estou querendo criar teorias da atração... - disse ele, ficando vermelho, sem graça. Eu o interrompi para tentar passar meu ponto de vista.
- Eu já tive mais facilidade de me expressar e mostrar minha orientação, mas foi depois de me impor muito. Dá pra notar pelo meu estilo né? - expliquei, arrancando um sorriso maroto de seus lábios.
- É... e eu fiquei vidrado nesse seu estilo... desde aquela noite, sabia? - ai, meus sais! Isso me paralisou. Um "deus grego" daquele me dizendo isso? Era para matar qualquer um do coração.
- Você tá me deixando sem jeito, Jan. - respondi em suspiro.
- Acho que ainda nem comecei a te deixar sem jeito... - antes que ele continuasse, eu o interrompi.
- Olha, fiquei pasmo com tudo, estou arrasado por saber que seu pai é dono de tudo isso, mas não pense que, porque você é mais um dos riquinhos da cidade, eu vou ficar suspirando aos seus pés. Ah, não. Nem pensar! - é claro que eu joguei essa para me fazer de difícil, mas iria lutar com unhas e dentes para ter ele ali, na palma da minha mão.
- Pode deixar que eu não vou usar essa parte como arma de seducão. Eu tenho minhas próprias armas para seduzir alguém...
- Nossa!... E como tem... - dei uma pausa. - mas vamos parar com esse papo meloso? Já cansei disso aqui sabia? - Jan franziu a testa. É claro que ele não havia entendido. - É que já estamos a horas nesse jardim. Eu estou simplesmente faminto! - eu parecia estar numa loucura sem ter palavras para me expressar naquele momento. Mas eu amei a objetividade do tcheco.
- Eu também estou faminto, mas é por esses lábios... Posso prová-los? - ele se aproximou mais um pouco e eu notei que não havia mais ninguém ali perto. O que eu estava esperando? Nada.
- Eu vou arrancar seus lábios, com a fome que estou. - Jan riu e pegou levemente na minha cintura, seus olhos olharam os meus de uma forma nunca antes em minha vida inteira. Não compreendia nada daquilo ainda, mas nossos lábios se tocaram, nossas línguas se entrelaçaram. Foi um beijo tão gostoso, tão intenso. Acariciei sua nuca, senti seu corpo ficando quente, eu não queria largar ele, não desejava me livrar daquela teia. Que beijo delicioso. Após aquele longo e perfeito beijo ainda demos umas três beijocas até nos darmos conta de que estávamos na área caribenha do parque aquático. Olhamos para o lado e então nos sentimos um pouco embaraçados porque duas mulheres olhavam para nós com um ar de riso, mas não um riso de deboche, um riso de encantamento. Mesmo assim fiquei super inibido. Mas não larguei do meu lindo de olhos azuis. Não mesmo! Elas que lutassem para beijar um igual... Ele se afastou um pouco mais e pôde ver meu rosto resplandecente. Seu sorriso mostrava que o beijo não fora um desastre.
- Não sabia que o Brasil tinha lábios tão gostosos... mas ainda não saciei minha fome. - ele deu um leve sorriso, bem maroto. - Você ainda vai ficar muito tempo em Praga? Eu não queria te passar a impressão de que só quis te beijar e pronto. Não sei o que aconteceu naquele dia lá no restaurante, mas desde aquele dia que fiquei nessa vontade de encontrar você de novo. Sabia que eu procurei por você? Perguntei aos recepcionistas sobre você. Mas não sou um psicopata tcheco, tá? - eu dei uma gargalhada quando ele finalizou com essa frase. Além de lindo, perfeito, tinha um senso de humor bem no estilo que eu adorava num homem. Ele continuou, após uma pausa, me olhando. Eu emudecido, ainda sem entender nada do que acabara de acontecer... - quero te ver mais vezes, te conhecer melhor. Enquanto você estiver aqui em Praga. Será que vai rolar?
Procurei as palavras certas para me recompor, pois eu também não queria me entregar de bandeja, mesmo que aquele fosse meu desejo mais louco. Finalmente falei:
- Olha, Jan, eu não esperava algo tão cinematográfico assim. Um beijo delicioso desse no primeiro encontro. Você tem um jeito de que sai pegando todas e todos por aí, porque foi tão fácil eu deixar você me beijar... - o que era que eu estava falando? Estava enlouquecendo por ele. Continuei, controlando a respiração. - Mas vou te dar uma chance de me mostrar que a República Tcheca tem uma joia que desejo apreciar mais um pouco. Será que vai rolar?
- Só depende agora de você, porque, por mim, já está rolando. - Jan olhou para o relógio de pulso e franziu a testa, como que querendo dizer algo não tão agradável. Então, falou o que era:
- Olha, eu estou bem atrasado para um compromisso, uma reunião daqui a pouco com meu pai e os sócios daqui do hotel. Eu tinha esquecido! Mas valeu a pena eu ter esquecido, sabia? Vou deixar meu telefone com o recepcionista para ele te entregar, OK? Em qual quarto você está?
- Tá bom, Jan, eu te entendo. Afinal quem está de férias aqui sou eu e não você. Não vou te atrapalhar, tá bom? Vou pegar seu número, claro! E, eu estou no 605. Mas corre logo, senão vou te segurar aqui e te acorrentar àquela mesa. - eu e ele demos uma gargalhada, parecendo dois adolescentes que riam de qualquer coisa. Dois adolescentes apaixonados, é claro.
- Vou ter comida e bebida acorrentado assim? Pelo menos isso, não é? Bom, tenho que correr agora, senão tudo vai por água abaixo. - completou.
Eu?! Bem, eu tive que me conformar, não é? O rapaz praticamante voou dali sem ao menos combinar um novo encontro, apenas que me procuraria novamente, deixando até o número dele! Claro que eu não poderia esperar mais que aquilo. Afinal aquele fora só o primeiro de muitos encontros que ainda teríamos. Por isso não fiquei nem um pouco decepcionado com sua fuga.
Fiquei ainda ali, vendo-o se distanciar, ainda se virando para me dar um tchau. Eu acenei de volta bem no estilo dos concursos de Miss Universo. Ele desapareceu em meio à área da piscina. Fiquei ainda uns minutos ali no jardim caribenho, sem acreditar no que estava acontecendo, mas crendo que seria algo bom. E fora algo maravilhoso. Só aquele beijo, aquele toque, aquele cheiro já valeram por toda a viagem. Eu teria que agradecer à Ingrid com muitos beijinhos por tudo o que ela planejara. Enfim, me recompus de tantos pensamentos e devaneios. Fui em direção ao restaurante, ansioso por uma boa refeição, mas, ao passar pelo hall, para ver se Jan realmente havia deixado o número dele com o recepcionista, tive uma surpresa ao ver que Tony e Simona me aguardavam eufóricos.
- Onde você estava, criatura? Andamos por toda aquela piscina imunda e nada. - perguntou Tony, logo que me aproximei para cumprimentá-lo.
- Estava lá naquele jardim tropical. Vocês deveriam ter me procurado lá.
- Mas ainda bem que você nos achou! Agora temos que correr, amore, porque vamos passear em Bratislava. Você vai adorar!
Fiquei sem entender nada, então indaguei:
- Bratislava?!... Pelo amor das deusas, o que é isso?! - foram inevitáveis as risadas dos dois.
- Desculpa... Bratislava é a capital da Eslováquia. Lembra que o nome era Tchecoslováquia? Aí o país pacificamente, depois de um plebiscito, se dividiu em dois: República Tcheca e Eslováquia. - explicou Simona.
-Ai, caiu a ficha agora. Nós vamos para outro país, é isso?
-Isso mesmo, lindíssimo! Vai correndo arrumar tudo. Você não imagina o tempo que estamos perdendo. E outra, vamos de trem! Por isso, "run"! - finalizou Tony, me pedindo para correr para meu quarto, pois eles iriam me aguardar a fim de irmos à estação do trem e curtir uma aventura bem diferente, em outro país.
E tinha que pensar rápido... Meus sais! O que é que eu ia fazer? Tony e Simona estavam realmente dispostos a me raptar dali. E meu "deus grego"? E o lindo Milan? Eu tinha marcado de passear com ele à noite. E provavelmente ele já estaria na cozinha do hotel e iria querer falar comigo caso eu fosse ao restaurante. Que maravilhosa e deliciosa decisão eu teria que tomar. Nem imaginava isso, pois no Brasil eu nem tinha tempo e nem queria mais viver amores, depois que terminara com meu ex-namorado de forma bem catastrófica. E agora que eu e Jan tínhamos nos conhecido de verdade... Tudo bem que ele saiu correndo sem nem ter tempo de marcar um novo encontro. E eu não sabia se iria vê-lo novamente por aqueles dias, mesmo ele dizendo que queria se reencontrar comigo. Ai, eu não poderia sair de Praga logo naquele momento crucial. Tony me tirou do meu longo pensamento:
- Ei, amore, acorda! Que cara é essa?! Eu aqui falando e você numa linha bem distante. O que houve? Está acontecendo algo?
- Tony, acho que precisamos conversar... - puxei ele para um canto do hall, deixando Simona meio confusa.
-Você está louco, menino? O que tu queres dizer? - perguntou Tony. Parece até que ele já esperava a notícia.
- É aquele gato que eu te disse! Estávamos lá no jardim no maior papo. E ele é tudo!!! A gente se beijou. Eu estou até agora me tremendo de emoção!
- Mas você vai de todo jeito com a gente... O "zeus" vai ter que esperar. Ou a princesa de Mônaco vai ficar o resto do dia à beira da piscina esperando ele voltar? Você veio para explorar os locais ou ficar suspirando por príncipes que podem virar sapos? Vamos conhecer uma cidade diferente! É bom porque ele não fica tão dono de si. E sua passagem já está comprada. Claro que haverá pagamentos depois, mas por enquanto é por minha conta... - Tony foi bem resoluto na sua resposta e me convenceu naquele momento. Se Jan quisesse realmente se reencontrar comigo, ele que me procurasse. Não sei se essa era a atitude correta naquele momento, mas eu iria viajar sim para Bratislava. Mas... refleti sobre o encontro à noite, com Milan. Novamente meus pensamentos foram interrompidos por Tony.
- E aí, vamos ou não?... Vai te arrumar, Yuri!
Já no quarto, me arrumando, eu refletia sobre tudo que estava acontecendo ao mesmo tempo comigo. Parecia um furacão de emoções, de novidades, descobertas. Eu não tinha saída... Teria que ver meu Jan de novo num outro dia. Também iria ver Milan num outro dia. Nossa, eu estava bem na fita, não?! Se bem que Milan estava na lista para ser um amigo e não um grande amor, apesar de ele já ter sinalizado de forma discreta que queria mais que uma amizade de verão.
Mas, era impossível fazer essa desfeita com Tony e Simona. Pelo menos, quando eu voltasse, poderia averiguar se os sentimentos de Jan iriam continuar os mesmos ou não, e se Milan ainda iria estar afim de me levar para passear de barco no rio Moldava ou iria ficar chateado por eu não ir ao passeio que ele planejara. Deixei uma mensagem na secretária eletrônica do telefone de Milan, nem passei pelo restaurante do hotel para não dar de cara com ele e ter que explicar porque não iria para nosso encontro à noite. Pelo que Tony e Simona tinham explicado, nós não iríamos voltar de Bratislava no mesmo dia, então, eu poderia estar perdendo dois coelhos com uma cusparada só... Mas eu não tinha certeza de nada em relação aos dois. Pincipalmente em relação a Jan. Eu realmente queria fazer esse teste e ver se ele ainda iria procurar por mim. Peguei o telefone dele com a recepção do hotel e deixei o número do meu celular. Eu não sentia o que iria ocorrer dali para a frente, mas eu iria pagar para ver.
- OK, crianças, "let's go"! - disse, puxando os dois pelas mãos a fim de pegarmos um táxi para a estação de trem. A capital da Eslováquia nos esperava.

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