— Quando estou perto de você, Amber, eu sinto paz — disse ele, encarando um ponto qualquer na parede atrás de mim. — Você me acalma.

Meu coração foi na boca e voltou. Céu parecia afetado por algo e sua voz denotava uma angústia que não estava ali antes. Por incrível que pudesse parecer, senti um sentimento de pena se apoderar de mim.

James era uma alma. Uma alma amargurada e valiosa para Jesus. E ele estava ali. Da maneira dele, mas estava procurando certo alívio para as suas angústias.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei depois de Céu mergulhar em um silêncio profundo.

Mesmo estando ao meu lado, ele parecia está a quilômetros de distância dali.

— Sempre acontece... — respondeu, apenas.

— Você quer conversar? — perguntei, clamando internamente por sabedoria divina.

Ele me olhou novamente e sorriu fracamente.

— Não. Mas, obrigada por perguntar. — Ele hesitou, o que era novidade, já que ele era sempre tão cheio de atitude. — Se importa se eu só ficasse aqui por um tempo?

Ergui minhas sobrancelhas, surpresa com a mudança de comportamento tão repentina.

— Tudo bem — concordei.

— O que você estava ouvindo? — ele apontou para os meus fones jogados sobre o cobertor.

Meus ombros relaxaram, e a tensão foi se esvaindo. Diferente de antes, agora não sentia apreensão alguma por tê-lo ali.

— Minha playlist favorita — respondi.

— Posso ouvir? — Céu perguntou, mudando de posição e se sentando ao meu lado.

Afastei-me, dando-lhe espaço. Ficamos lado a lado, com as costas apoiadas na cabeceira da cama. Olhei pelo canto dos olhos para o seu braço musculoso roçando o meu e engoli em seco.

O que meus pais pensariam se entrassem aqui e nos vissem assim?

Jesus estava vendo, com certeza!

"O Senhor sabe que não há más intenções aqui, né Jesus?"

— Você está bem? Quando me dei por mim, Céu me encarava.

— Sim! — Estendi um fone a ele e coloquei o outro no meu ouvido.

Quando peguei o meu MP3 player, foi que percebi o quanto estava trêmula ao tê-lo tão próximo a mim. Eu odiava admitir, mas meu corpo reagia incontrolavelmente quando se tratava de James Bonde e o infeliz já havia percebido isso.

Reprogramei a playlist e a primeira música a tocar foi "Cansado" do Projeto Sola.

Céu se ajeitou no travesseiro atrás das costas dele. Parecia concentrado nos primeiros versos do hino.

"Atrevo-me a chegar
Depois de tanto andar
Com feridas nos pés
E chagas no coração"

"Pesado o fardo é
Vergonha e aflição
Miserável sou
Recorro ao teu perdão"

"Cansado venho a ti
Imploro o teu favor
Tem compaixão de mim
Sou pobre e pecador"

De repente, cada palavra parecia estar falando não só com ele, mas comigo também.

Eu havia saído do caminho. Estava mentindo com tanta facilidade, que meu coração se partia sempre que percebia para onde estava indo.

Lágrimas brotaram dos meus olhos ao perceber o quão pecadora eu era, tanto quanto o homem ao meu lado. Eu era uma hipócrita!

O dono do morro da Luz e a missionária cristãWhere stories live. Discover now