De Volta à Primavera • yoonmin

Eunju

Durante um momento certamente desagradável, e definitivamente inesperado, Jimin notou em si mesmo uma mudança crucial para que ele conseguisse se manter relativamente calmo depois de atender ao telefone.

Em uma época diferente, como alguns poucos meses atrás, apenas a ideia de ouvir a voz de sua ex-esposa faria um calafrio desconfortável percorrer suas veias. Era triste pensar que uma pessoa que ele um dia amou tanto trazia tanto desconforto e dor, mas, infelizmente, era uma reação normal de seu corpo depois do que tinha acontecido no último inverno. Para sua surpresa, e também seu agrado, daquela vez Jimin não sentiu seu coração parar de bater ao notar que era Eunju o ligando, e nenhuma lágrima escorreu por sua bochecha de maneira indesejada. Ele só ficou mudo, processando em seu cérebro a frase que a mulher havia dito, decidindo se deveria ou não atendê-la.

"Por favor, não desliga".

Jimin quis soltar uma risada debochada. Era como se Eunju pressentisse que sua ligação não era bem-vinda, e que ela precisaria se esforçar para prender a atenção do ex-marido porque, bem, ele esperava que a mulher soubesse o tamanho do erro que havia cometido. Grande parte dele, uma bem enorme mesmo, não queria dar ouvidos ao que ela tinha a dizer. Jimin já estava com problemas suficientes acumulados em sua vida, e não queria algo do passado retornando em um momento tão delicado. Já ia fazer um ano que ele tinha voltado do exército, sua amizade com Taehyung estava em risco, e Yoongi estava claramente o ignorando. Jimin não queria adicionar logo Eunju, uma dor que tinha ficado parcialmente para trás, em seu presente que se tornava cada vez mais conturbado.

Ele puxou ar para tentar falar alguma coisa, mas não conseguia formular nenhuma resposta para "por favor, não desliga". Jimin não se orgulhava de dizer que uma parte dele quis xingá-la pela audácia de pedir para não desligar depois de tudo. Outra parte, uma mais curiosa e menos raivosa, se perguntava se Eunju estava o ligando para falar de alguma coisa que tinha ficado no apartamento antigo, como havia sido com os livros. E mais uma outra parte, uma que honestamente ganhava mais força à medida que o silêncio da chamada se estendia, dizia a Jimin para ele simplesmente fingir que aquilo não tinha acontecido. Ele podia desligar seu celular. Era tarde, ele precisava trabalhar no dia seguinte, e já tinha se preocupado o bastante para ter que lidar com mais aquela merda indesejada.

Mas Eunju foi mais rápida do que seu reflexo e mente exaustos.

— Você ainda está aí? — Eunju perguntou em uma voz calma, mas, mesmo depois de um ano sem vê-la, Jimin ainda conseguia notar a leve insegurança em suas palavras.

— Sim. — Jimin disse, sua primeira palavra desde que ouviu a ex-esposa na chamada. Ele fez uma careta com o tom rouco de sua voz, limpando sua garganta logo em seguida e se ajeitando no sofá como se conseguisse sentir o julgamento de Eunju através do celular. — O que você quer?

— Direto ao ponto. — Eunju disse em um fio de voz, uma risada sem humor saindo como um sopro de seu nariz. Jimin franziu o cenho, preparando um comentário carregado de mágoa e sarcasmo em sua língua, mas decidiu guardá-lo para a possibilidade da ex-esposa começar a ser hostil. Até então, ela parecia neutra. — Você está disposto a me ouvir falar?

— Não, eu não estou, mas eu vou te dar essa chance. — Jimin respondeu com um pouco da raiva reprimida saindo em sua fala, mas não se sentiu mal nem mesmo com o silêncio prolongado de Eunju do outro lado da linha. — Então, eu vou te fazer a pergunta mais uma vez: o que você quer?

— Uma conversa. — Eunju respondeu nem um segundo depois, direto ao ponto, exatamente do jeito que Jimin queria. Ele franziu o cenho com a resposta, pronto para dizer que eles já estavam conversando, mas, novamente, a ex-esposa foi mais rápida que ele. — Ao vivo. Eu quero ter uma conversa ao vivo.