Cama

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Jimin acordou no sábado – para sua felicidade e infelicidade – com algumas lágrimas nos olhos, uma sequência de soluços escapando de sua garganta e um peso terrível em seu coração que já não o incomodava havia tempo.

A felicidade veio do fato de agora estar acordado. Um pesadelo inconveniente carregava a culpa por ele estar daquele jeito em primeiro lugar, então, pelo menos, ele não teria mais que lidar com aquelas imagens em seu subconsciente de maneira que ele não tinha escapatória.

A infelicidade veio ao se lembrar de como era acordar com a sensação de que a gravidade estava agindo de maneira um pouco mais forte sobre seu corpo. A dor no peito, a vontade intensa de chorar – em algum momento, aquelas sensações haviam se tornado uma memória mais distante, mas agora estavam de volta para lembrá-lo que nenhum caminho era fácil, muito menos o da melhora.

O ex-soldado deixou seu corpo suado cair sobre a cama com um peso que o fez quicar de volta, apenas para descansar sobre o colchão logo em seguida. Ele olhava para o teto, sua respiração saindo entrecortada, e tentava se lembrar dos detalhes do sonho que havia o deixado daquele jeito. A única imagem clara em seus pensamentos era do final, do momento em que ele não aguentou mais ficar dentro daquele pesadelo e deu um jeito de acordar, mas era aquilo o que mais o assustava.

Um ano antes, Jimin estava em sua base militar com outros soldados, pensando no momento em que voltaria para casa e seria recebido pelo abraço confortável de sua até então esposa. O frio já incomodava sua pele e seus ossos, mas também o ajudava a atravessar aqueles últimos meses restantes com a certeza de que ele seria liberado no início da primavera e sua vida voltaria ao normal. Todos os dias, Jimin murmurava as mesmas palavras quando ele tinha certeza de que nenhum de seus colegas estava ouvindo, "já está acabando", e dava um leve empurrão em si mesmo para conseguir ter forças para continuar ali sem surtar.

Mesmo assim, Jimin não esperava sonhar com o exército um ano depois, ainda mais em uma de suas melhores fases depois que o pesadelo tinha acabado.

O início era um grande borrão. Jimin se lembrava de estar em algum lugar observando todos os outros soldados se divertindo ao seu redor, mas ele próprio não conseguia mover um músculo, não conseguia dar risadas e não conseguia dizer nada. Depois disso, tudo ficou mais claro. Uma voz estrondosa, que ele não conseguia distinguir o gênero, chamou pelo grupo e ordenou que todos se deitassem no chão e começassem a fazer flexões. Ainda no pesadelo, Jimin sentia seus braços queimando com o esforço físico, apesar de, na vida real, não ter mais tantos problemas com aquela atividade em específico. Ele subia, descia, sentia a respiração ficando descompassada e sentia uma dor imensa em seus músculos. Era cansaço. E quanto mais ele tentava se convencer de que conseguia terminar aquela série, mais exausto ele ficava, e menos forças ele tinha.

Jimin quis olhar para o lado para ver se mais alguém passava pelas mesmas dificuldades que ele. Centenas de soldados, todos sem rostos, cercavam-no e faziam flexões sem parar. Ninguém sentia o mesmo desconforto que ele. Ninguém sentia uma vontade intensa de parar, de ir para casa, e fingir que nada daquilo tinha acontecido. Mas aí, enquanto procurava por alguém parecido com ele, Jimin achou um rosto conhecido bem ao lado do seu. Era Yoongi. Toda a felicidade de vê-lo ali chegou e foi embora em um segundo ao perceber como o advogado estava sofrendo. Seu rosto estava vermelho, coberto de lágrimas, e seus braços tremiam com o esforço de subir e descer. Jimin chamou seu nome uma, duas vezes, mas Yoongi o ignorou e virou a cabeça para o lado, como se não quisesse vê-lo.

O desespero crescia em seu peito. Yoongi, o único rosto familiar no meio de um monte de desconhecidos, estava o ignorando. Jimin continuou a chamá-lo, com seus braços ainda fazendo esforço para subir e descer ainda que ele estivesse exausto e quisesse parar, mas, quando Yoongi o olhou novamente, seus olhos estavam aterrorizados. Não era só um rosto vermelho, não eram apenas lágrimas. Ele sentia pavor de alguma coisa. E então, quando Jimin piscou de novo, não era mais Yoongi ali. Era ele mesmo. Foi nesse momento que o ex-soldado finalmente parou de fazer flexões, sentando-se no chão terroso e olhando ao seu redor. Ninguém parava, ninguém ligava. Todos continuavam fazendo o que tinham que fazer, e ninguém se sentia sufocado como Jimin sentia.

De Volta à Primavera • yoonminOnde as histórias ganham vida. Descobre agora