De Volta à Primavera • yoonmin

Carro

O som do pisca-alerta de seu carro parecia ser diferente dos outros.

Jimin estava parado em um estacionamento vazio, permitindo que o som familiar penetrasse em seus neurônios e, de forma incomum, deixasse-o sonolento. Se estalasse sua língua da maneira certa, seria capaz de imitar seu pisca-alerta com perfeição. O tom era mais grave, combinando com a cor chumbo que pintava todo o exterior do automóvel. Era diferente do carro de Hoseok e Namjoon, que parecia um pouco mais agudo e o dava nos nervos toda vez que ele estava acompanhando seus amigos e era obrigado a ficar parado em um lugar esperando por outra pessoa.

Naquela quarta-feira, Jimin se encontrou com seu advogado apenas para se despedir dele por tempo indeterminado e para pegar seu carro de volta. O cheiro dos bancos de couro o traziam certo conforto, talvez o lembrando de uma época em que sua vida não o deixava tão desanimado. Seus dedos subiam e desciam pelo volante sem parar, mostrando que ele estava completamente perdido em seus pensamentos. A verdade é que estava se lembrando das conversas que teve com Eunju dentro daquele espaço pequeno, pouco mais de dois anos antes, e lembrou-se principalmente das discussões que tiveram antes de Jimin ir para o exército.

As discussões sobre tempo, distância. Francamente, Jimin devia ter adivinhado o que iria acontecer quando voltasse para casa.

Com um suspiro pesado, Jimin desligou o pisca-alerta e deu a ré, sorrindo bobo com a falsa sensação de controle de sua própria vida que dirigir o trazia. Foi bom ter renovado sua carteira de motorista enquanto ainda negociava a divisão de bens com Eunju – ou melhor, com o advogado dela – porque agora poderia se iludir mais um pouco naquele espaço minúsculo. Jimin tinha sentido falta do trânsito caótico de Seul, e de se irritar com outros motoristas mal-educados. A música popular que tocava nas rádios mais ouvidas da cidade também o trouxe um sentimento bom de nostalgia.

Era no mínimo estranho receber mensagens sendo parabenizado por estar oficialmente divorciado quando Jimin achou que passaria o resto de sua vida ao lado de Eunju. No entanto, ele era obrigado a concordar com Hoseok: estava feliz. Feliz? Talvez mais leve, quem sabe. O que importava era que Jimin sentia como se um peso enorme tivesse saído de suas costas, permitindo-o respirar fundo de novo. Os encontros com seu advogado acabariam, e ele poderia pensar muito menos na situação em que sua ex-esposa estava.

Apesar de não se incomodar em andar de metrô para cima e para baixo, naquela época do ano ele só conseguia ficar agradecido por poder estacionar mais perto de onde seus amigos moravam, encurtando a distância que precisava andar para chegar ao seu destino. Mesmo à noite, um suor irritante começava a surgir em seu rosto quando ele fazia muito esforço físico, e o calor exagerado também o dava uma sensação incômoda no estômago. Em seu carro, Jimin podia aproveitar o ar-condicionado por mais tempo, e não precisaria se preocupar em secar seu rosto antes de cumprimentar qualquer pessoa.

Ter seu carro de volta realmente estava ajudando a melhor seu humor.

— Lorde Park Jimin voltou a nos presentear com a graça de sua presença!

Depois de rir fraco com o que tinha acabado de ouvir, Jimin sentiu um par de braços o envolvendo pelo pescoço, e sentiu beijos exagerados sendo depositados na lateral de sua cabeça. De longe, ele conseguia ver Namjoon rindo da cena enquanto ajeitava a mesa para o jantar, dividido entre continuar sua tarefa e se distrair completamente para dar atenção aos dois amigos que estavam se cumprimentando na porta. O calor do abraço de Hoseok trazia a Jimin um conforto sem igual. Era como se estivesse de volta para seu lar, quem sabe.

Jantar com Namjoon e Hoseok era quase como jantar com seus pais. Eles perguntavam a Jimin como havia sido seu dia, se alguém havia o dito algo, se tinha conhecido alguém novo. Para cada resposta positiva, os dois abriam largos sorrisos e diziam que estavam felizes com a informação. Jimin devia se sentir constrangido por ser tratado como se estivesse no ensino médio fazendo novas amizades, mas ele gostava do carinho que recebia do casal, gostava de se sentir amado daquela maneira. Realmente, estar com aqueles dois era exatamente como estar em casa, e Jimin não trocaria aquela sensação por nada.