Capítulo 36 - Confiando em incertezas

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Começamos a quarta noite otimistas. Com tudo dando certo até então, quase desistimos de pedir para que Andrômeda cuidasse de Teddy. Mas foi vovó quem nos fez voltar a por os pés no chão quanto ao que poderia acontecer.

Nenhum de nós achava boa coisa deixar Teddy ver papai transformado sendo ainda tão jovem para compreender, e esse era sim um risco toda noite de lua cheia.

Seguimos com os procedimentos de sempre. Papai tomou meio cálice de wolfsbane, foi amarrado ao pé do roupeiro, deixamos a janela do quarto aberta e esperamos pela lua.

Estávamos tão tranquilos que não percebemos quando seu brilho começou a escorregar pelo chão. Teríamos ignorado por completo o fato se papai, que conversava animado, não tivesse ficado em silêncio de repente.

— Remus, está tudo bem?

Ele não respondeu a esposa. Parecia estar com dor e sua respiração ficava cada vez mais audível.

Nós sabíamos o que provavelmente estava acontecendo, mas não queríamos acreditar. Não depois de tanto tempo bebendo a poção, não com papai tão debilitado.

Sem conseguir mais se manter de pé, ele se jogou no chão onde pudemos ver que a transformação realmente estava acontecendo.

— Papai... — tentei me aproximar dele.

— Se afasta! — foi a última coisa que sua voz rouca conseguiu dizer antes que ele perdesse a habilidade de falar e os grossos pelos começassem a surgir em seu rosto.

Voltei para junto de Tonks que me abraçou pelas costas.

— A janela! — lembrei tarde demais e atravessei o aposento a fim de fechá-la.

O quarto ficou na mais profunda escuridão com os raios da lua totalmente ocultos, mas não adiantava mais.

Lumus — ouvi Tonks conjurar e clarear o local o suficiente para que conseguíssemos ver papai no chão, completamente transformado.

Tentei me aproximar dele, mas ele se afastou quase temendo meu toque.

— Deixa pelo menos eu soltar sua pata... Quer dizer, seu braço... Você entendeu — eu conseguia sentir meu coração batendo na minha garganta.

Por fim ele me deixou chegar perto e desamarrá-lo. Aquilo servia somente para o caso dele perder a consciência e tentar nos atacar. Não era a situação. Apesar da aparência de um lobo gigante, ainda era a mente de papai no comando.

— Vem para a cama, você vai ficar mais confortável — Tonks se ofereceu para ajudá-lo a subir no colchão, mas ele se afastou e deitou sobre as almofadas debaixo da janela atrás do roupeiro no canto do quarto.

Para ele parecia uma noite normal de lua cheia, mas Dora e eu estávamos com medo. Aquilo sempre exigia demais de papai e ele não estava em condições de se esforçar tanto. Ficamos sentadas lado a lado na beirada da cama olhando o lobo adormecido.

Depois de um tempo ela passou o braço sobre meu ombro e eu envolvi sua cintura com os meus. Não conversamos. Qualquer palavra que saísse da minha boca seria acompanhada por lágrimas. O que eu mais temia havia acontecido. Agora era esperar pela manhã seguinte.

***
Acordei sozinha no quarto de casal. Tonks provavelmente já havia saído para trabalhar, e papai, mesmo fraco devia estar andando pela casa.

Ou talvez tivesse passado mal logo cedo, assim que voltou a forma humana e sido levado às pressas para o St. Mungus sem nem terem tempo de me avisar.

Com aquele pensamento pulei da cama e corri em direção ao corredor quase esbarrando em papai que vinha andando com dificuldade usando uma muleta.

— Você está bem! — o abracei com força.

— Não tanto quanto gostaria, mas vou sobreviver — ele retribuiu o gesto como pôde tentando se manter equilibrado.

— Claro, você passou por tudo aquilo ontem a noite... — olhei para ele falando com urgência. — Quer ajuda para voltar para a cama?

— Tudo bem, filha. Consigo fazer o trajeto sozinho — ele passou por mim e saiu andando devagar. — Se importa de abrir a janela? Deixamos fechada para não te acordar.

Um sorriso singelo apareceu no meu rosto enquanto fui fazer o que ele me pedia.

— Parece que o experimento deu errado mesmo... — me virei de costas para a janela já aberta para observar papai.

— Depois daquela noite tomando Hidromel e jogando conversa fora? Você deve estar de brincadeira.

— Podemos fazer isso em qualquer noite, exceto na lua cheia. Logo essa memória vai se misturar às outras.

— Não com as fotos que você tirou.

Atravessei o quarto e me sentei perto dos pés da cama.

— Queria ter me lembrado de trazer Teddy e vovó para eles saírem nas fotos também.

— Não digo que teria sido ruim, mas precisamos ficar felizes com o que temos.

— Quando você vai contar para o Teddy?

— Não pensei nisso ainda.

— Você só me contou quando eu tinha 11 anos, mas acho que ele vai ficar sabendo bem antes.

— Eu contei ou você escutou minha conversa com sua mãe?

— Quase a mesma coisa, papai — sorri com as bochechas corando.

— É sim — o sorriso em seu rosto indicava que nem de longe ele estava brigando por eu ter sido tão xereta e descoberto alguns segredos que ele queria me contar aos poucos. Papai me chamou para mais próximo e eu deitei minha cabeça sobre o peito dele.

— Essa noite sem lua, tá?

— Vou voltar a tomar o cálice completo de wolfsbane?

— Acho que protegido da lua você não precisa, mas se você se transformar hoje, amanhã toma a dose completa.

— De acordo.

Quase cedi à pressão de deixar papai tomar o cálice completo de wolfsbane, mas ele estava fazendo isso direto desde a última lua. Quanto menor a dose, menos efeitos colaterais.

***
Certamente não foi a cura, ou talvez o método precise ser ajustado. Tudo daqui para frente serão incertezas. Continuem acompanhando e não deixem de curtir e comentar o capítulo!

Livro 6 - Lana Lupin e o Menino de Cabelo AzulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora