Capítulo 35 - Para Ficar Registrado

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O ritual foi basicamente o mesmo. Depois de tomar apenas metade da dose diária de wolfsbane, Tonks voltou a aproximar a cama de casal da janela e eu amarrei o braço direito de papai no pé do roupeiro. Por último abrimos a janela e ficamos esperando a lua surgir no céu.

Dessa vez, a curiosidade em saber o que iria acontecer quase superava o medo de papai se transformar em lobisomem. Acompanhamos com apreensão o caminho feito pela luz da lua e para nosso alívio, mas uma vez nada aconteceu.

Ficamos sem palavras, mas provavelmente estávamos os três pensando a mesma coisa. Ou pelo menos foi essa impressão que eu tive quando papai se pronunciou.

— Por mais maravilhoso que possa parecer, não acho que eu esteja curado.

— Estou fazendo força para não acreditar nisso, pai. Mas é tão incrível ver a lua cheia ser inofensiva para você — comentei enquanto soltava seu braço.

— Sim, é verdade — um sorriso sincero iluminou seu rosto.

— Acho que esse momento precisa de uma foto! Com a lua ao fundo!

Saí correndo do quarto de casal e fui até o meu onde esperava encontrar minha câmera. Mas não estava em lugar nenhum, assim como minha mochila que eu levara no dia anterior para a casa da vovó... E deixara lá. Voltei para avisar que precisaria buscar o aparelho e encontrei papai e Tonks se beijando. Fiz um barulho com a garganta para chamar a atenção.

— Deixei minhas coisas na casa da vovó — disse quando os dois olharam para mim. — Estou indo lá e provavelmente vou ficar para ajudar com o Teddy.

— Se não quiser não precisa, Lana. Mamãe consegue cuidar dele sozinha.

— Sim, Dora. Mas ainda me sinto culpada por ter atrapalhado a rotina da família.

— Eu gostei de ter saído da rotina — comentou papai com a ironia de um Maroto.

Tonks e eu apenas rimos. Despedi dos dois e saí de casa atravessando o vale em direção à casa da vovó.

Eu achei que todas as noites seriam como aquela, mas as coisas foram um pouco diferentes na que se seguiu. O ritual foi idêntico. Papai amarrado, a janela aberta e a luz da lua entrando no quarto. Como ele já estava um pouco melhor por estar ingerindo uma quantidade menor de wolfsbane, não foi preciso que Tonks aproximasse a cama da janela.

Ele mesmo ficou de pé recebendo a luz da lua sobre o corpo. Como eu estava com minha câmera, aproveitei para filmar tudo. Mostraria para mamãe depois.

Assim que percebemos que havia se passado tempo suficiente e papai não se transformaria em lobisomem, o desamarrei.

— Agora a foto que eu queria ter tirado ontem! — mudei o modo da câmera para fotografia. — Vem, Tonks!

Minha madrasta se aproximou ficando do lado do marido passando um dos braços em volta da sua cintura.

— Mas eu vou sair de pijama na foto? Ah, não!

Tonks e eu caímos na gargalhada quando papai pegou a varinha para trocar suas roupas por outras.

— É só um registro nosso, pai... — eu tentava respirar enquanto ria.

— Um registro que merece ocupar a estante.

Acho que ainda não tinha parado para pensar o quanto aquilo significava para papai. Já era a terceira noite de lua cheia e ele ainda não tinha perdido a forma humana. Mesmo sem estar livre da licantropia, significava muito para ele.

— Pronto! — disse ele vestindo uma camisa e uma calça social.

Nós nos posicionamos em frente à janela com a lua aparecendo ao fundo. Com minha varinha fiz a câmera flutuar para aumentar a amplitude da fotografia e deixei a máquina disparar cinco vezes só para garantir. Depois tirei mais algumas da Tonks com o papai e pedi para ela registrar ele e eu.

— Bom, agora vou indo ajudar a vovó — disse colocando a câmera no bolso de trás da calça jeans.

— Hoje não, — papai me puxou para perto dele. — Essa noite você vai ficar com a gente.

— Mas e a vovó...

— Mamãe conseguiu lidar comigo, o Teddy é bem mais tranquilo — Tonks esticou o braço. — Temos uma surpresinha.

Segurei a mão dela e saímos pelo corredor com papai vindo logo atrás. Não podia imaginar que tipo de surpresa me esperava. Tonks soltou minha mão quando chegamos à cozinha e foi em direção a um dos armários de onde tirou uma garrafa de hidromel e três taças. Ela as encheu e entregou uma para mim e outra para papai.

— A dedicação e o cuidado que você tem comigo são presentes que eu jamais imaginei ganhar na vida. Não importa qual será o resultado desse experimento. Muito obrigado por ter ao menos tentado.

— Oh, pai... — meus olhos começaram a ficar embaçados com as lágrimas.

— À sua saúde — papai levantou a taça.

— À família Lupin — ergui minha taça e fui acompanhada por Tonks.

Os dois viraram o conteúdo em um só gole, eu esvaziei o recipiente devagar.

— Ainda com trauma daquele dia, Aluadinha?

— Acho que nunca vou esquecer o dia seguinte.

O show das Esquisitonas, minha primeira vez com bebida e o mal que passei no dia seguinte ainda estavam bem vivos na minha memória.

— Não precisa se preocupar, o antídoto está comigo hoje.

Ri da observação de Tonks lembrando a lição que tive de papai sobre exagerar na bebida com ele escondendo a poção que curava todos os sintomas da ressaca.

— Talvez eu deva aprender a beber sem exagerar...

Dessa vez foi papai quem encheu minha taça e depois a de Tonks.

— Vai por mim, mesmo sem exagero você vai querer essa poção amanhã.

Sorri para ela e notei que papai não tinha servido uma segunda rodada para ele.

— Já parou, papai?

— Não tenho certeza se isso afeta o efeito da wolfsbane. Nunca fiz nada além de me esconder e dormir durante a lua cheia... Bom... Salvo aquela vez em Hogwarts...

— Passado, Remus. Não vai acontecer de novo.

Nos acomodamos nas poltronas da sala e deixamos a garrafa de hidromel sobre a mesinha de centro.

— E você não machucou ninguém. Quer dizer, o Sirius atacou você para defender os outros e o Bicuço causou mais estrago em você do que você nele.

— Por isso não quis voltar a lecionar na escola. Já pensaram se Sirius não estivesse lá?

— Nem quero pensar — minha taça ficou vazia e eu a enchi novamente. Hidromel era suave e doce. Muito bom ao paladar. Nem parecia alcoólico. — E você também deveria deixar de sofrer por coisas que poderiam ter acontecido, mas não aconteceram.

— Você tem razão, mas não é tão fácil quanto eu gostaria que fosse.

— Mantenha seu olhar para o futuro. Tenha o passado apenas como algo que te trouxe até aqui. Fez ser quem você é. Nada mais. O passado não pode comandar sua vida. O que você decide fazer a partir de agora é que conta.

— Olha você me dando conselhos de novo — papai sorriu.

— Vai dizer que eu já te dei conselho ruim? — pisquei o olho para Tonks.

Acabei rindo do tanto que eu me sentia convencida ao aconselhar papai. Ele e Tonks riram também, não sei se pelo mesmo motivo. Foi uma noite muito agradável. Passamos horas conversando até eu e minha madrasta esvaziarmos a garrafa de Hidromel.

Papai realmente havia parado na primeira taça com receio de afetar de alguma forma a eficácia da wolfsbane. Poderíamos ter feito àquela reunião em qualquer noite, mas o fato de ter acontecido durante a lua cheia deixou tudo um pouquinho mais especial. Foi como se a licantropia não fizesse mais parte das nossas vidas.

***
Que saudade desse dia! Ainda bem que tenho as fotos para provar que não foi umsonho. Mas ainda tem muita lua cheia para frente. Espero que vocês continuemacompanhando nossa saga.

Livro 6 - Lana Lupin e o Menino de Cabelo AzulWhere stories live. Discover now