Capítulo 18

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Telma passou a semana na casa de Katrina e as duas encontraram no colo uma da outra o alento e a força para seguirem a nem sempre fácil jornada da vida.

Elas se conheciam desde pequenas. Cresceram na mesma rua, num tempo em que ainda se brincava na rua até escurecer e onde não havia telefones celulares. Brincaram de faz de conta, de queimada, amarelinha e de polícia e ladrão. Foram para as primeiras festinhas juntas e estavam juntas quando cada uma deu o seu primeiro beijo.

Katrina observava Telma brincando no parque com o Tomás. Via nessa nova Telma uma nova mulher. Nem a amiga de infância, nem a doida dos últimos anos. Havia uma serenidade no ser, na forma como ela se movia ou falava que chamava a atenção de Katrina.

Era como se Telma tivesse desistido de lutar, desistido de se esforçar a ser quem não era, de ser quem os outros esperavam que ela fosse e finalmente era apenas ela. Uma linda e incrível mulher, com uma contagiante alegria de viver.

Katrina sempre sonhara com o príncipe encantado e apaixonava-se por qualquer menino que tivesse uma conversa boa. Já Telma era mais rebelde e gostava de testar os limites. Era a que, quando iam nas festas, adolescentes, queria mais se divertir do que procurar namorados.

Apesar do tempo distantes, a amizade delas retomou do mesmo ponto, como se nunca tivessem se estranhado.

– Sabe, Kati, tenho pensado muito no que você disse. Talvez não seria uma possibilidade completamente louca eu decidir ficar com esse bebê... – disse Telma, sentando-se no banco ao lado de Katrina.

– Eu também acho...!! – exclamou Katrina, feliz. – A sua família pode te ajudar financeiramente até você se readaptar a essa nova realidade. E eu estou aqui também.

Telma sorriu, colocando a mão na barriga.

– Não sei. A minha mãe vai surtar se eu realmente decidir levar adiante toda essa loucura... – e soltou uma gargalhada contagiosa. 

Katrina não se segurou e riu junto. Riram por um bom momento, por várias coisas e por coisa nenhuma. Riram tanto que os olhos de Katrina se encheram de lágrimas e a barriga começou a doer.

Secando os olhos e respirando fundo, Katrina olhou de volta para os brinquedos, procurando Tomás com o olhar. Encontrou-o conversando com um outro menino no parque. Ele era gentil, educado e carinhoso. Logo saíram os dois correndo, brincando.

Ela pensou como os últimos meses andara pesada e distraída. Deixara-se engolir pelo medo. Respirou fundo novamente e compreendeu, com gratidão, que a volta de Telma trouxera cor novamente para a sua vida.

– Era essa a cor que estava faltando... – murmurou baixinho.

– Quê? – perguntou Telma.

– Nada... estava pensando numa coisa aqui... – sorriu,  e acrescentou. – E a sua mãe pode até surtar, mas, depois, com certeza ela vai te apoiar. Ela te ama, não ama? Além disso, tomar essa decisão vai apenas mostrar o quanto você realmente mudou e que pode assumir essa responsabilidade. Não foi isso que a tua mãe sempre quis? Que você fosse responsável?

– Sim – Telma riu –, assim como ela sempre quis que eu tivesse uma carreira brilhante e não desperdiçasse toda aquela educação cara que ela me proporcionou.

– Mas um filho não impede que você tenha uma carreira.

– Ah, tá... e qual é a sua carreira, mesmo? – e as duas deram mais uma gargalhada.

Depois do parque, Katrina, Tomás e Telma foram na sorveteria. Quando entraram, Leonor estava sentada em uma mesa com Rafa, acompanhados de Rui e uma garota. Quando Rui viu Katrina quase se engasgou com o sorvete que comia.

Fragmentos de VidaWhere stories live. Discover now