Capítulo 8

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Katrina acordou de sobressalto, com o coração angustiado. Tivera pesadelos estranhos. Olhou pela janela, o dia estava amanhecendo. Tentou adormecer novamente quando o seu telefone tocou. Era a sua mãe. O tio havia falecido e o enterro seria no final do dia. Ela desligou o telefone e sentou-se na cama, atordoada. Ficou vendo o sol nascer pela janela do seu quarto pensando sobre a vida e a morte.

Lembrou da noite anterior e sentiu-se mal. Usada. Espreguiçou o corpo lentamente. A coluna estava bem, mas o pescoço com um ligeiro torcicolo. Revirou os olhos. Respirou fundo. Tentou se alongar preguiçosamente.

Foi para a cozinha preparar o café e percebeu que algo estava absurdamente diferente. Pensou um pouco... Era o silêncio! A casa estava silenciosa. Há anos Katrina não tinha um café da manhã silencioso. E por mais que amasse a tagarelice do filho, desfrutou com prazer do silêncio da casa. Mas a sua mente não a deixava em paz nem por um segundo. Incessante. Frenética. Enlouquecedora. 

Lembrou-se dos sonhos que tivera. Não entendia como, depois de tanto tempo, Carlos ainda invadia os seus sonhos. Como ainda conseguia atormentá-la. Deu um ultimo gole em seu café amargo e foi para o trabalho.

De tarde, Katrina foi buscar Tomás na casa da Maria.

– Oi querida, quer entrar? – perguntou a amiga docemente quando a viu descer do carro. As crianças corriam no jardim. A casa da Maria era tipo daqueles subúrbios dos filmes americanos. Perfeita, de cerca branca e flores harmoniosas.

– Não vai rolar mana... Precisamos ir no enterro do tio Marcos. Ele faleceu hoje.

– Nossa... sinto muito... – Maria aproximou-se, abraçando-a carinhosamente. Katrina retraiu-se involuntariamente.

Maria soltou o abraço e olhou para ela, em dúvida. Subitamente, foi como se algo tivesse surgido na mente dela. Ela levou a mão a boca e arregalou os olhos.

– Era aquele...? – Katrina apenas assentiu com a cabeça.

– Preciso mesmo ir. Obrigada que você ficou com o Tomás para mim. Será só mais por este mês... fui demitida...

– Não acredito! E agora?

– Agora eles estão procurando alguém jovem, bonita e que não tenha filhos. – revirou os olhos e deu de ombros. – Mas de boa, nem quero falar sobre isso agora. Na verdade, só quero que este dia acabe logo.

– Aonde vai ser? Eu quero ir, não vou deixar você passar por essa sozinha! – Katrina sorriu-lhe com os olhos cheios de lágrimas.

Tomás viu que sua mãe tinha chegado e veio correndo abraçá-la. Estava feliz, via-se nos olhos brilhantes e no corpo suado de tanto brincar. Katrina abaixou-se, abrindo os braços. Ele veio se jogando em seu colo, como adorava fazer, sempre quase a derrubando. Mas então parou. Olhou seriamente nos seus olhos e perguntou:

– Você está bem, mãe? Suas costas ainda estão doendo? Desculpa, não queria te machucar. Sei que você está cansada de cuidar de mim. Prometo que vou ser um bom menino... – disse docemente.

– Minhas costas estão ótimas... Vem cá, quero o maior abraço do mundo!!! – disse apertando-o. – Não estou cansada de cuidar de você. Cuidar de você é o maior presente que alguma vez eu ganhei. Eu amo cuidar de você, viu? E eu te amo, amo, amo... mais que chocolate! – disse, por entre lágrimas. Tomás sorriu. – E como foi? Dormir na casa da tia Leonor e depois da escola vir direto para cá? Gostou? Eu morri de saudades!

Tomás sorriu.

– Foi bem legal, eu gostei, mas também tava com saudades. – respondeu docemente. – Por isso que você está chorando? Estava com saudades minhas? – perguntou.

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