Capítulo 7

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O dia estava cinzento e sombrio. Após uma semana à base de remédios para dor e ainda com muito medo ao movimentar-se, Katrina voltou ao trabalho. Lá fora, a chuva caia forte e os pingos gordos escorregavam pela janela do escritório.

Raul, o patrão de Katrina, aproximou-se lentamente e, colocando a mão em seu ombro, a chamou de volta para a realidade úmida da sala.

– Você melhorou, Kati? – perguntou com um suave sorriso no rosto.

– Aham. – respondeu Katrina, disfarçando, envergonhada por estar tão distraída.

– Eu preciso te falar uma coisa Katrina... – hesitou por um segundo e depois continuou – Sinto muito, mas não dá mais. Você é uma excelente funcionária, mas não pode ficar faltando assim.

– É que... a minha coluna... Raul, eu não conseguia nem andar... Realmente foi forte, nunca tinha passado por isso antes. Me desculpa, eu posso tentar compensar os dias que faltei...

– Eu sei. Mas é que não foi só essa semana. Sempre tem reunião na escola do seu filho ou mais sei lá o quê. Parece que está sempre inventando desculpas para faltar...

– Er... quer dizer... Uh... Não são desculpas, mas... – Katrina balbuciava. Tinha sido pega de surpresa. – Er... Você está certo. Eu prometo que vou mudar. Arrumar alguém para me ajudar mais com o Tomás. Não vou mais faltar assim. Você sabe que eu sou comprometida...

– Você é ótima, uma das minhas melhores funcionárias. Mas as que não têm filhos, sabe, é diferente... Me desculpe, querida. Ok? Esse é seu mês de aviso prévio. E vou ter que te descontar os dias que você faltou. Espero que encontre algo rápido.

Katrina assentiu com a cabeça. Olhou para fora, sentindo um nó formar-se na sua garganta. Segurou-se para não chorar. Via as gotas escorrendo na janela. A sua alma pelo menos podia chorar em paz. Sentia-se tão cansada e a vida parecia não lhe dar um segundo de paz.

– Não aguento mais... – disse baixinho, levando as mãos à cabeça. Respirou fundo. Tentou se concentrar. Olhou para as pilhas de papéis que se acumulavam na mesa e, desmotivada, tentou focar no trabalho. Nisso, o celular tocou. Ela olhou de relance e viu que era uma mensagem de Rui.

– Oi sumida

Katrina deu um leve sorriso. Fazia umas três semanas desde aquela loucura no parque e ele nunca mais havia mandado mensagem para ela. O seu coração acelerou. Ela digitou rapidamente.

– Oiii

Ele visualizou. E respondeu.

– O que vai fazer hoje a noite?

– Hoje? Hoje é quinta-feira... rsrs não vou fazer nada...

– Vamos se ver? Estou com saudades...

– Hm... Pode ser... Quer ir na minha casa?

– Opa, quero sim gata ;) Seu filho vai estar?

– Sim, né, ele mora comigo... kkkk

– Hmm, então talvez podemos deixar para outro dia.

Katrina pensou um segundo. Respirou. E digitou rapidamente:

– Quer dizer... hoje na verdade ele combinou de dormir na casa de um amiguinho! Olha que coincidência! Eheheh

– Ah, sério? Uau, deve ser o destino!! Me manda a localização.

Katrina sorriu. A manhã não começara bem, mas o dia estava ficando melhor. Ligou para a sua mãe, para ver se ela podia ficar com o Tomás. Mas ela não podia. Ligou para Maria. Mas ela também não podia. Pensou um pouco, enquanto roía as unhas. Ligou para Leonor.

Fragmentos de VidaWhere stories live. Discover now