Capítulo 9

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Katrina estava sentada no carro em frente ao endereço que Claudia lhe passara. Roía as unhas, ansiosa. Tomás brincava no banco de trás, distraído, nem tinha percebido que o carro estava parado havia já uns 10 minutos.

O consultório de Claudia não parecia um consultório. Era uma casa bem bonita, com um jardim florido e colorido. Filtros dos sonhos e placas com dizeres amorosos enfeitavam o espaço. Era acolhedor. Katrina respirou fundo, enxugou as lágrimas do rosto e decidiu arriscar.

– Vem, Tomás, vamos ali com a mamãe para a gente conhecer uma amiga da Maria.

Tomás distraidamente olhou para a mãe e percebeu onde estavam:

– Um jardim encantado! Eba! Gostei!! Olha, mãe, tem vários gatinhos. – e foi correndo atrás dos gatos.

Claudia desceu as escadas da frente da casa. Ela era uma mulher linda, nos seus 50 e poucos anos. Os cabelos loiros e compridos ondulavam com o vento, ressaltando o seu rosto redondo e amoroso. Usava uma roupa branca de linho. Aos olhos de Katrina, ela pareceu um verdadeiro anjo.

– Você deve ser Katrina, certo? – disse, estendendo a mão. – Meu nome é Claudia e fico muito feliz que você veio.

– Eu tive que trazer o Tomás, foi bem em cima da hora, não consegui me organizar para deixar ele com ninguém... Também não falamos sobre o custo... eu não tenho...

– Não se preocupe – interrompeu Claudia. – Tomás, vem cá, vou te mostrar um lugar secreto, onde só podem ficar crianças.

Entraram na casa. O salão de entrada era amplo e arejado. Havia poucos móveis e alguns quadros enfeitavam as paredes, tudo com um bom gosto primoroso. Claudia abriu uma porta à direita que dava para um quarto cheio de brinquedos e algumas mesas. Havia lápis de colorir e vários livros também. Tomás adorou e logo entrou para brincar.

– Minha filha está descendo e cuidará do Tomás enquanto a gente conversa. Não se preocupe Katrina, vamos cuidar de você.

Os olhos de Katrina encheram-se de lágrimas. Há quanto tempo não ouvia de alguém essas simples palavras "vamos cuidar de você". 

– Filho, vou ali na outra sala. Você vai ficar bem? – disse baixinho, segurando-se para não chorar.

Tomás assentiu com a cabeça e continuou a explorar aquele quarto fantástico.

Claudia conduziu Katrina para uma outra sala, à esquerda do salão principal. Havia um sofá com almofadas coloridas, uma rede e uma poltrona. No ar, um cheiro gostoso de flores tornava o lugar extremamente acolhedor. Claudia sentou-se na poltrona e pediu para Katrina se sentar.

– Maria me ligou hoje cedo. Me disse que ela tinha dado o meu cartão a você e que talvez você fosse ligar ou não. Ela me contou um pouco da sua história. Então, vou te fazer uma proposta. Esta primeira conversa é para a gente se conhecer, sem custo. Você me fala um pouco de ti e do que estás a procura e eu te falo um pouco de mim e de como é o meu trabalho. Se sentirmos que podemos trabalhar uma com a outra, vemos qual forma será melhor para nós duas.

Katrina acenou com a cabeça, secando com as mãos as lágrimas que insistiam em cair contra a sua vontade.

– Bom, vou começar por mim, está bem? – continuou Claudia. – Meu nome é Claudia e eu trabalho com Gestalt-terapia. Você já ouviu falar?

Katrina disse que não com a cabeça, fitando o chão. Não conseguia olhar para Claudia, pois tinha certeza que se o fizesse começaria a chorar novamente.

– Bom, na visão Gestalt acreditamos que devemos focar no presente e não tanto no passado. Não que o que aconteceu lá atrás não tenha importância. Claro que tem e vamos também observar isso, mas sem que isso se torne o principal. A principal pergunta que eu te farei sempre é: como você está hoje?

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