Capítulo VII

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Capítulo VII

“Que segredo Elizabeth carrega consigo? Será ela semelhante a mim até nisso?”.

Noite em Castlewood.

Deitado na confortável cama do quarto em que se encontrava hospedado, Bruce Wayne, apesar do ambiente altamente propício, não conseguia pegar no sono. Após ter rolado dezenas de vezes sobre o lençol buscando inutilmente uma posição favorável ou um pensamento tranqüilizador que o fizesse dormir, o milionário acabou por sentar-se em meio à escuridão do leito, suspirando. Tocou brevemente o pijama suado e logo depois usou as mãos para esfregar o rosto. Aquele sofrimento parecia ser um castigo ao qual ele estava destinado eternamente...

As feridas não cicatrizam. Pelo contrário, elas se abrem mais e mais, e pulsam como nunca, enchendo meu coração de uma dor insuportável. Se tudo isso constitui algum tipo de punição, qual o motivo? Terá sido por que cacei e matei o homem que tirou de mim as duas pessoas a quem mais amei na vida? Ou será devido à minha gigante estupidez, desperdiçando uma existência que poderia ter sido muito feliz em nome de uma missão insana e autodestruidora?

A resposta não estaria dentro de si, Bruce havia se convencido disso. De nada adiantaria continuar remoendo seu coração, que por diversos anos tomara o formato de um morcego. Era hora de mudar, era hora de esquecer. Seria um esforço sem sentido prosseguir com aquela tristeza devido aos anos que julgara ter perdido, os quais jamais retornariam, assim como sua já extinta juventude...

Mudar... Eis a questão! Como, como mudar?

 

Bruce nem tinha idéia que, a poucos cômodos do seu, o nobre coração de alguém era torturado da mesma forma. Muito atordoada, Elizabeth também havia se sentado sobre a cama, cabeça apoiada sobre os joelhos, olhos mirando um ponto indefinido na escuridão. Não podia dormir, não podia sequer fechar os olhos, pois assim aquela terrível cena voltaria à sua mente, sempre mais horripilante e longa do que da vez anterior...

Emma, você está indo muito rápido, segure as rédeas!

 

Fique calma! Apenas segure as rédeas, eu já estou indo!

 

Meu Deus, Charlotte está indo rápido demais!

 

EMMA, NÃO!!!

 

E em seguida vinha a inconfundível seqüência de sons: o relinchar da égua, o grito abafado da irmã, o baque no chão, o barulho de osso quebrando... E Elizabeth chorava, chorava como se Emma já houvesse morrido um milhão de vezes diante de si, sentindo a mesma dor e o mesmo desespero... Ofegante e soluçando, a lady voltou a deitar, agarrando o macio travesseiro com força, como se este fosse algum objeto especial capaz de dar-lhe paz. Mas ela precisava crer nisso, ao menos se quisesse repousar com a cabeça vazia durante as horas que ainda viriam até o despontar do sol...

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Madrugada. Apesar do horário, a redação do Gotham Globe nunca parecia parar. As luzes acesas, o incessante som provocado pelo digitar em teclados e o despejar de café em canecas impossibilitavam que até o mais exausto funcionário caísse no sono. Em meio a esse ambiente noturno de trabalho, um homem beirando os cinqüenta anos de idade caminhava impaciente pelo local, distribuindo ordens, colhendo informações e apanhando os mais variados tipos de papéis. Aproximadamente de dez em dez minutos voltava à sua sala para discutir com alguém pelo telefone, enquanto aqueles que passavam liam a intimidante inscrição presente numa placa sobre a mesa: “Alexander Knox – Editor-Chefe”.

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