IX

31 3 8
                                    

    Quando Camdem parou e pensou no que havia feito um misto de raiva e medo subiu por seu corpo!

    O que diabos ele tinha acabado de fazer? Largou tudo que tinha, coisas que talvez ajudassem ele a sair dali, não apenas isso, mas talvez o ajudassem a sobreviver a aquilo ali, pois afinal um esgoto sem nenhuma possibilidade de luz como aquele poderia ter muitos buracos traiçoeiros prontos para fazê-lo cair e se machucar talvez muito gravemente, não só isso como também aquilo era um maldito esgoto, provavelmente cheio de doenças e talvez com alguns animais venenosos ao qual ele preferia evitar, se pudesse ver. Mas porque ele havia feito aqui? Essa era a questão que passava por sua cabeça repetidas vezes sem cessar, em um momento ele estava perfeitamente tentando prestar atenção no mapa que estava nas mãos da mulher, mas então do nada ele se virou, deu as costas para ela, andou até uma esquina no esgoto e BUM!! Estava correndo no escuro! Não se lembrava se tinha sido silencioso mas achava que sim, pois afinal a mulher não deu falta dele e pareceu não ouvir ele correndo, bem que quando parou para pensar melhor talvez tenha começado a correr depois, pois afinal não teria como os passos de um homem do peso dele não ecoarem como o som de tiros dentro de um quarto fechado. Mas se tinha uma coisa que ele sabia era que, de certa forma que ele não sabia como, em algum momento ele não estava mais em si próprio, pois afinal ninguém sai correndo por corredores escuros fazendo um barulho infernal sem perceber que o faz, mas ele fez, e não percebeu até o momento que parou, ele não se sentia cansado e nem estava com respiração ofegante, o que indicava que talvez não houvesse corrido muito ou já estava se preparando para parar a algum tempo quando voltou a si. Mas como? Como? Como ele saiu de si? Porque? Que perguntas infernais! E não só essas mais outras também viam em sua mente em segundo plano como: "Eu não tropecei, não esbarrei em nada? Nessa escuridão do caralho?". Isso seria impossível para uma pessoa na situação dele, ele não enxergava no escuro e conhecia zero por cento do lugar para não ter caído em algum lugar ou dado de cara com uma parede! E questionando aquilo ele se lembrou no ônibus, onde havia ido parar o ônibus? Porque ele não encontrou mais vestígio de mais ninguém além dele? E com os esses questionamentos uma voz dentro de Camdem explodiu com furor "MAS QUE INFERNO, QUE PORRA TODA É ESSA?", a mesma voz interna que fez a pergunta não saberia responde-la e com fúria desse fato Camdem fez algo que não fazia desde criança, fechou o punho esquerdo, o colocou na boca e mordeu. Uma mordida lenta e dolorosa que fazia toda a raiva ser transformada em força tanto para a mandíbula dele quanto para a mão que fortemente se mantinha fechada. Então repentinamente parou, ainda sentindo raiva de si mesmo, abriu a mão sentindo a dor que havia quando flexionava os dedos, sentiu alguma dor leve em todos os dentes da frente, respirou fundo e seguiu decidido a não pensar em respostas sem pergunta, decidiu apenas pensar em seu objetivo, sair dali.

    Os passos dele eram exatamente do tipo ao qual Rose teria ouvido se ele tivesse corrido, altos como tiros, ecoavam, mas Camdem não sabia qual distância o som conseguiria alcançar, se chegasse aos ouvidos de Rose provavelmente ela iria atrás dele, então não seria melhor parar e esperar ser encontrado? Não! Era melhor ele tentar encontrar qualquer caminho de saída sozinho a voltar para a companhia dela, afinal qual era a daquela conversa sobre 15 de novembro, sobre pessoas sumindo em dias chuvosos de tempos passados, era uma lenda, e o fato de todos os três estarem sérios enquanto ela era contada confirmava que provavelmente queriam engana-lo com alguma mentira idiota e que seria impossível de acreditar ou estariam mal explicando a verdade, de qualquer forma aquilo não fazia de forma alguma Camdem concluir que aquelas eram pessoas normais, não eram, de forma alguma. E depois veio a ligação maluco para o tal JK, ele realmente não parecia uma pessoa comum falando daquela forma, Camdem nem iria tocar no fato de Walter estar falando com um pássaro, eram loucos, todos loucos. Ele preferia encontrar a saída sozinho, no escuro, a própria sorte do que voltar a ter qualquer um daqueles três como companheiros, especialmente JK, de alguma forma o velho parecia sentir que Camdem não era boa pessoa, e de certa forma ele estava certo, Camdem era um presidiário que agora deveria estar com status de fugitivo, e de certa forma JK parecia saber disso, mas não ter certeza, ele parecia sentir o cheiro de culpa que havia em Camdem, e isso assustava um pouco Camdem.

    Camdem foi tirado de seus pensamentos por um puxão para baixo, caiu no chão molhado sentindo as costas reclamarem ao bater contra o cimento, escorregou para a lado de forma como se tivesse em um escorregador de criança em um dia úmido, ele caiu deitado fazendo com que todo o seu corpo mergulhasse na água e o fazendo afundar um pouco. Nos segundos em que escorregava ele sentiu o cheiro pútrido da água, lembrando limões podres e carniça formando um único aroma, quando a cabeça submergiu ele estava de boca aberta e uma boa quantidade de água acabou entrando e ele sentiu o gosto que lembrava uma estranha mistura de adocicado, queimado e algo mais que Camdem não conseguiria definir, e era quente, estava quente, algo que o homem não pretendia descobrir daquela forma. Ele tentou ficar ereto dentro da água, inicialmente tudo que conseguiu foi se debater naquela água nojenta, seus pulmões estavam sem nenhum oxigênio e seu coração batia rápido por causa do desespero dele, mas após algumas batidas inúteis na água ele sentiu encostar em algo sólido, usou aquilo como apoio para ficar em pé dentro da água, se moveu puxando com o braço o corpo em direção ao sólido que Camdem já sabia que era a beira de onde ele havia caído, conseguiu ficar em pé e a água batia na altura do seu peitoral, ele sem se demorar colocou os dois braços na beira e subiu para cima, tentou não escorregar novamente no chão úmido e ainda mais molhado por conta dele que pingava como um nadador profissional que acabara seu treinamento, mesmo na escuridão ele conseguiu ficar em pé novamente e se apoiava na parede com a cabeça para baixo, vomitou mas saiu apenas um pequeno e grudento cuspe do que havia sobrado em seu estômago depois do primeiro vômito horas antes, ele respirava pesadamente e sabia que logo sentiria frio por conta de estar molhado. Tentou se acalmar mas não conseguiu, continuou durante um bom tempo parado naquela posição respirando pesado até o corpo se acalmar por si só. Ele se virou olhando em volta, pensando em tentar descobrir de onde tinha vindo para seguir o contrário, afinal na escuridão ele não tinha nada em questão de direção, olhou para um lado e para o outro como se aquilo adiantasse. Pensou em rir, mas não o fez, apenas abaixou a cabeça.

– Você merece cada uma dessas coisas que estão acontecendo – disse em voz baixa, praticamente sussurrando – cada uma, filha da puta.

    Ficou ali mais algum tempo, na mesma posição, pingando a água que agora já estava fria em seu corpo, só depois de algum tempo percebeu a luz que vinha de sua direita...

Pedras Não Temem a Noite (CANCELADA)Where stories live. Discover now