II

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    Camdem abriu os olhos, piscou pela baixa luminosidade acinzentada que entrava em suas pupilas, após a terceira piscada manteve o olho aberto, sentiu o corpo inteiro reclamar de dor quando tentou se sentar, trincou os dentes, sentia uma garoa leve caindo sobre sua pele e umedecendo suas roupas, tentou se sentar de novo, com o corpo doendo em múltiplos locais e soltando grunhidos ele conseguiu se sentar com um dos braços apoiando seu corpo, o braço doía igualmente como o resto mas suportaria bem, olhou em volta ainda vendo pontos luminosos em sua visão por conta da dor, sua cabeça latejou infernalmente quando tentou virar cabeça, baixou o olhar para baixo com as duas arcadas dentarias sendo flexionadas uma contra a outra, naquele momento as dores do resto do corpo não pareciam nada, sua cabeça pulsava como se fosse seu coração, fazendo o estranho barulho que só ele ouvia, barulho esse que pareciam pequenas bolhas estourando na superfície da água, sentia a água descer por sua testa enquanto a mesma latejava sem parecer ter fim, os pontos luminosos que antes estavam em sua visão agora a cobriram completamente e Camdem achou que fosse desmaiar novamente, mas após algum tempo que para ele fora segundos mas poderia ter sido minutos e visão dele voltou com os pontos se desfazendo a sua frente, a sua cabeça parou de latejar, e, timidamente, ele olhou em volta sentindo uma leve dor no pescoço.

    Ao seu redor o que se via eram os grandes carvalhos e pinheiros se erguendo da terra imponentes de altos, as folhagens e troncos estavam molhadas por conta da fina garoa que caia tímida dos céu, no chão a grama verde amarronzada acarpetava toda a floresta até onde a visão alcançava, a nevoa azulada ainda pairava mas desta vez limitando o campo de visão em uns 30 metros, olhando para cima Camdem conseguiu ver o desfiladeiro acima, e nele havia uma grande e notável cicatriz produzida provavelmente pela queda do ônibus, com um grande risco feito nas paredes do desfiladeiro tirando a terra dura de cima e revelando a terra mais escura e com pedras por dentro da montanha, por onde o risco passava havia árvores danificadas com galhos quebrados, troncos com marcas e algumas apenas o toco não foi levado pela fúria do acontecimento. Camdem olhou melhor em torno de si, estava num local onde a terra voltava a ser plana, então deduziu que havia chegado no fim do desfiladeiro ou que havia parado em algum platô em cima do mesmo, pedaços de metal do ônibus como a grade de uma janela e um pedaço da lataria do veículo se encontravam próximos ao presidiário, mas nenhum vestígio do ônibus, o risco terminava quando chegava no possível platô em que Camdem se localizava, mas não havia marcas do incidente naquele chão nem nas árvores ao redor.

    Confuso e sem conseguir processar muito bem a informação o detento se levantou, sentiu centenas de ossos e músculos gritarem de dor quando fez os movimentos para se colocar de pé, se apoiou nos próprios joelhos com a cabeça abaixada, achando que iria vomitar, mas não o fez, ficou ereto de forma meio vacilante por conta da dor, olhou em volta novamente, procurando pistas de onde o ônibus poderia ter ido caso tivesse capotado por mais algum tempo, mas não encontrou nada exceto pedaços da lataria espalhados por vários lados. Respirou profundamente sentindo uma dor no peito lhe atingir, e moveu uma das pernas para frente na tentativa de andar, apesar das dores nos músculos que pareciam completamente atrofiados ele conseguiu realizar o movimento sem reclamar de dor, repetiu com a outra perna e o resultado fora o mesmo, então lentamente começou a andar, mesmo com toda dor que sentia ao realizar os movimentos ele achou que aquilo era quase uma vitória, as dores eram possíveis de serem ignoradas até o momento e estava conseguindo andar, já era alguma coisa. No décimo quinto passo ele vomitou.

    Sentiu todo o seu corpo se contrair como se fosse ser esmagado de fora para dentro e sentiu aquele liquido nojento subindo por sua garganta até chegar na boca, ao mesmo tempo que sentiu o regorjeio vindo ele baixou a cabeça e abriu a boca, sentiu todo aquele liquido quente e pastoso passar por sua língua deixando aquele gosto de cabelo sujo, o vomito caiu na grama na forma de uma cachoeira fulminante fazendo muito do seu conteúdo respingar nas calças e nos sapatos de Camdem, quando parou de vomitar o cheiro horrível subiu as suas narinas e ele se afastou cuspindo o pouco vomito ainda presente em sua boca, olhou para a coisa que saiu de seu corpo vendo apenas um liquido pastoso esverdeado no chão alguns pontos que lembravam feijões, mas não eram, aquele vomito era apenas líquidos gástricos do seu estomago, não havia nada de comida ali a não ser algum pedaço de bolacha que era praticamente da mesma consistência do resto do liquido. Olhando para o seu próprio feito no chão da floresta Camdem segurou a vontade de vomitar uma segunda vez, passou a manga camiseta laranja pela boca tirando qualquer tipo de resquício ainda presente em seus lábios, e cuspiu novamente tentando tirar aquele gosto horrível da boca.

Pedras Não Temem a Noite (CANCELADA)Where stories live. Discover now