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    A placa era de metal velho e enferrujado que algum dia já deve ter sido uma cor viva, a água descia pela placa como se fosse uma coisa viva, um iluminava de um jeito fraco e monótono o escrito em uma cor que um dia já foi dourado, ali dizia com grandes letras de forma: "Bem-Vindo a Chester's Hills". A névoa havia se intensificado e agora ele não via mais que 10 metros a sua frente, a placa era a única coisa que ele havia encontrado até o momento que quebrava a monotonia da estrada e da floresta em volta, andando um pouco mais ele percebeu que do lado direito da estrada o desfiladeiro se mostrava, o que indicava que mesmo sem perceber ele havia subido através da floresta e agora estava no alto novamente, a névoa não lhe permitia ver o fim da queda, e apenas as copas mais altas das árvores despontavam no azulado que pairava, já estava começando a escurecer e Camdem apressou o passo para chegar a qualquer lugar que estivesse a sua frente.

    Após algum tempo de caminhada, apenas ouvindo os pingos batendo no guarda-chuva e os pés fazendo sons úmidos no chão ele viu, aos poucos pois a névoa não permitia ver tudo de imediato e nem ver completamente, não era um morro natural ou uma árvore, possuía cantos quadrados, e então ele percebeu estar vendo um edifício, se aproximou vendo as paredes feitas de tijolos muito bem encaixados, uma calçada também despontava em torno do edifício com algumas árvores plantadas, ele foi para perto do edifício, procurou por alguma placa ou algo que identificasse o local, mas não encontrou nada, tentou olhar através da porta de vidro para dentro mas uma cortina negra estava na frente da porta, o mesmo acontecia com as janelas, tentou abrir a porta mas estava fortemente fechada. Camdem andando pela calçada, vendo outros edifícios surgirem, todos em condições parecidas, depois de um tempo entrou num local que era uma área residencial, com várias casas de madeiras iguais dividindo pátios com a grama muito bem cortada, Camdem bateu em algumas portas, mas em nenhuma foi atendido, até mesmo a casa dos cachorros se encontravam solitárias. Viu uma placa em uma esquina que virava para a esquerda, na placa dizia: "Howard St.".

    Virando a esquina para a esquerda Camdem ouviu o som alto que viajou por toda a cidade: "Atenção!!! Atenção!!!" falava a voz que parecia vir de um megafone cheio de chiados "São seis e cinquenta ainda!!! Lembre-se de fecharem bem as portas de suas casas e não saírem até as nove da manhã!!!! Boa sorte!!!!". Camdem olhou em volta, talvez a procura de onde vinha o som, ou talvez procurando outra alma viva a sua volta, alma viva que seria a quem o suposto aviso fosse dado, afinal de contas ele não passava por um forasteiro ali. Olhou novamente em volta a procura de algo no meio da neblina, alguma coisa que indicasse algo, mas nada se via além das ruas vazias e os prédios solitários. Camdem seguiu se sentindo estranho e pensado no acontecimento, pensado nas razões do porquê uma cidade precisaria de um aviso, pensou que aquele local poderia ter uma espécie de toque de recolher, ou talvez algum evento fosse feito aquela noite, ou um teste de desastres. Mas a coisa mais provável seria que aquilo estava sendo feito por conta do acidente, estavam procurando por sobreviventes do ocorrido. Então com esse pensamento começou a inventar uma história para contar se fosse abordado por alguém. Seu carro teria quebrado a uns dois quilômetros dali e estava em busca de ajuda para reboca-lo ou coisa do gênero.

    Ele olhou para a placa indicando uma nova rua: "Stephen St." Enquanto seguia pela calçada o mundo escurecia, com a tarde dando lugar a noite, teria que encontrar algum lugar para ficar se não ficaria no escuro e na chuva. Então contra a escuridão e a névoa ele notou ter chegado em um local mais amplo com o chão feito de asfalto, olhando para a esquerda até onde a névoa alcançava ele viu a estrutura alongada de um andar com grandes janelas de vidro, ele se aproximou e viu uma grande placa acima do local com um símbolo que lembrava um sete de ponta cabeça pintado em vermelho e verde, era um supermercado. Olhando em volta ele percebeu um carro mal estacionado com a porta do motorista aberta e o porta-malas também escancarado, se aproximou do veículo com calma, o som das gotas caindo no teto e capo do carro eram ouvidos, parou próximo ao veículo, se inclinando levemente para olhar dentro, olhou embaixo do volante vendo se as chaves não estavam na ignição, não estavam, ele soltou um palavrão baixinho se decepcionado, pensou em entrar e ver se as chaves não estavam lá dentro, mas foi interrompido. O som de vidro se quebrando vindo de dentro do supermercado foi ouvido, então o som de passos apressados vieram logo depois, e através do vidro Camdem viu uma luz se acender, a luz de cor amarelada se movia rápida e não constantemente, se movendo em direção a porta de vidro do local, após chegar lá ela foi aberta e luz apontada para o rosto de Camdem que cobriu este com a mão para evitar a claridade.

Pedras Não Temem a Noite (CANCELADA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora