Capítulo 8

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Eu tinha quatorze anos quando aquilo aconteceu.

Ninguém nunca havia me entendido.

E daí que eu havia matado o gato da vizinha? Eu não gostava dele.

E daí que eu havia empurrado um dos meus colegas da escada? Ver sua expressão de dor e o sangue jorrando de sua perna foi incrível! E ele merecia aquilo!

E daí que eu tinha vontade de matar as pessoas quando estava com raiva? Elas me irritaram, me machucaram!

Mas meus pais não pensavam daquela forma.

Por que??

Eu só queria que eles me entendessem, entendessem meus pensamentos, meus motivos! Minha dor!

Mas eles nunca me ouviam.

"— Você é doente."

"— Maluco."

"— O que as pessoas vão achar de você tendo esse tipo de pensamento?"

"— Deveria ser internado."

"— Louco."

"— Doente."

"— Doente!!"

"— DOENTE!!"

Era só isso que eu escutava. "Doente", eles me chamavam, meus colegas, meus pais, minha família.

Decidiram me levar até um psiquiatra. Foi divertido, a forma como ele se assustava cada vez mais comigo, eu apenas sorria enquanto falava. Ele chegou ao ponto de sair correndo do consultório, eu apenas ri de sua reação.

E então meus pais surtaram, decidiram que, para que eu mudasse, eu precisaria de uma "lição".

Foi a primeira vez em que eu senti medo.

Me debatia enquanto meu pai me segurava com força, o líquido fulminante escorria pelo meu rosto, acompanhado de uma dor descomunal. Eu gritava e pedia para eles pararem, mas o que eles poderiam fazer?

Eu precisava de uma lição, certo?

Eles cuidaram de minha queimadura depois, disseram que eu merecia aquilo, que era para meu próprio bem.

E eu que era o doente.

Será que realmente era eu quem precisava ser punido?

Me senti incrivelmente leve ao ver os corpos jogados no chão, eu estava livre agora, eu poderia ser feliz. Era o que eu pensava enquanto segurava a arma de meu pai.

Não, aquele homem não era meu pai, muito menos aquela mulher era minha mãe, não mais. Agora, eles eram dois belos corpos banhado no mais puro carmesim.

E então eu fugi. Peguei todos os meus pertences, dinheiro, e fugi.

Depois disso, me ocupei em me sustentar, entrei para um grupo, que realizava pequenos tráficos de armas e assassinatos. Eu era muito útil, já que ninguém desconfiaria que um garoto tão pequeno estaria fazendo algo de errado.

Ao completar dezesseis anos, eu já demonstrava grande potencial no tiro ao alvo, então me colocaram como um de seus mercenários.

Os anos se passaram, o líder daquele grupo se tornou o mais próximo que eu teria de um amigo, para logo ser morto em uma estúpida troca de tiros com a polícia de certa cidade. Seu desejo era que a liderança fosse passada para mim – mesmo que aquele grupo possuísse pessoas mais velhas e experientes que eu –, e assim aconteceu. Mas, com isso, também "herdei" suas pendências financeiras. Eu tinha apenas vinte e três anos quando assumi o grupo, suas dívidas levaram três anos para serem pagas, e somente agora eu estava conseguindo finalizar todas elas.

Sequestro de VerãoWhere stories live. Discover now