Dezenove

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Quando vovó teve alta pensei que nós voltaríamos para a nossa casa e finalmente eu dormiria na minha cama de novo. Mas a passagem por lá foi breve: ela colocou algumas roupas em malas e disse que nós iriamos viajar. Achei estranho, pois era raro eu conseguir faltar na escola e agora estava decretando férias na semana de provas. Mas não reclamei, não ir à aula para viajar não é nada ruim.

Passamos três dias na praia, em uma colônia onde aposentados tinham desconto. Mais uma vez eu era a única criança e precisei me divertir sozinho. Quando voltamos, a nossa casa havia sido substituída por um apartamento pequeno do outro lado da cidade. Vovó disse que não queria mais ser vizinha de Osmar. Como não tínhamos como expulsa-lo, fomos nós que nos mudamos.

- Como a senhora conseguiu esse apartamento, vovó? O que aconteceu com a nossa casa?

- Não se preocupe com isso, meu amor.

- É que eu acho que eu preferia a casa, sabe?

- Eu prefiro um lugar onde você possa ser feliz e sem medo.

Meu aniversário de 12 anos aconteceu algumas semanas depois. Vovó fez um bolo gelado enorme, passou uma manhã enrolando brigadeiros e encomendou um cento de salgadinhos fritos. Enquanto isso, enchi o máximo de bexigas que meus pulmões aguentaram. Tudo isso porque as crianças do abrigo foram convidadas para ir brincar e comemorar meu aniversário. Depois de um pedido formal, feito por ela, os meus amigos de quarto foram liberados para passar a tarde no nosso apartamento. O carro que nos levava para escola transportou todos eles até lá no horário combinado. Nós brincamos muito, comemos docinhos e prometemos ser amigos para sempre.

Nessa época eu já tinha esquecido minhas brincadeiras com Daniel e não sentia falta de casa. dona Beth, pelo contrário, fingia estar bem para que eu não me preocupasse. Mas a verdade é que ela não gostava da vida no novo endereço e viver ali fazia mal para ela, fatos imperceptíveis para uma criança.

O Azul do Meu PassadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora