Interlude: Hyungsik e Taehyung

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Hyungsik não queria ter tido um irmão. O primogênito da família queria sempre ser o único filho e ter a atenção completa de seus pais. 

Quando tinha quatro anos de idade, sua mãe havia anunciado a chegada de um novo membro na família. 

Taehyung havia sido um bebê barulhento. Tinha a imunidade ruim e estava a todo tempo indo para o hospital, em particular pelos problemas que tinha no estômago. Taehyung chorava muito, o que fez com que a irritação de Hyungsik para com ele fosse imediata.

Hyungsik tinha apenas uma esperança: quando o irmão ficasse mais velho, ele teria um parceiro para brincadeiras.

Quando Taehyung cresceu, aprendeu a falar e a andar, não foi o que aconteceu.

Taehyung não brincava de nada com ele. Não gostava de esportes, não gostava de brincar de lutador, nem de astronauta ou de polícia e ladrão.

Taehyung gostava de ler. De brincar com o cabelo, usando as presilhas da mãe para fazer penteados. De ir na casa de uma prima distante que eles tinham e lá abrir um salão de beleza de faz-de-conta. 

A única coisa considerada de meninos – para Hyungsik – que ele fazia era jogar videogames, algo que Hyungsik não era bom e, por não ser bom, ele não jogava. Não gostava de perder.

Com o tempo, um outro incômodo para com o irmão se instalou em seu cérebro. 

Ele podia perceber o tratamento diferencial que sua mãe dava a Taehyung. Era perceptível na maneira com ela sorria para as atitudes excêntricas do irmão, na maneira com que ela o chamava de 'Taetae' mas não tinha um apelido para Hyungsik, na maneira em que ela acariciava o cabelo loiro – oposto ao negro como a noite de Hyungsik.

Apesar de não ficar muito em casa, sempre ocupado com o hospital, o pai deles ainda percebia algumas coisas que ele considerava esquisitas em Taehyung.  Seu olhar desaprovador para a forma com que Taehyung se vestia, ainda que criança, não passava despercebido. A mãe deles sempre intervinha, e sempre deixava que Taehyung usasse o que quisesse, o que causava conflitos entre a matriarca e o patriarca da casa.

Uma briga em particular havia sido feia: quando Taehyung pedira de aniversário uma blusa com uma estampa gritante de uma das princesas da Disney e sua mãe concedera. Ele havia usado a merda da camiseta, nas palavras de seu pai, durante toda a semana. Havia envergonhado a família em um jantar de interesse de seu pai, quando aparecera na mesa para comer trajando a blusa horrenda. Todos haviam perguntado o porquê de um menino estar usando uma roupa que era claramente da sessão feminina.

Hyungsik culpava o irmão por ser o motivo das brigas que ficavam mais constantes.

Hyungsik, assim, ainda era o favorito de seu pai. Por um tempo.

Taehyung tinha oito anos quando o pai fez o primeiro elogio que Hyungsik havia ouvido em toda sua pequena existência.

Hyungsik não gostava de estudar e odiava compromissos. O seu irmão era o oposto. A primeira vez que Taehyung se destacara havia sido na feira de ciências do primário.

O garoto tinha trabalhado durante semanas no projeto. Semanas para escolher um tema, pesquisar, criar uma hipótese e construir o projeto de fato.

Era alguma coisa sobre micróbios e plástico, algo que Hyungsik sequer lembrava. Taehyung chamara até mesmo a atenção da mídia local. Obviamente, ele havia ficado o primeiro lugar. 

O seu pai colocara a mão sobre os cabelos loiros de Taehyung, afagando-lhe as mechas, e dito que ele havia feito um bom trabalho.

A partir de então, o seu pai ignorava boa parte das diferenças de Taehyung. Afinal, a comunidade científica também tinha lá suas excentricidades.

Taehyung tinha apenas oito anos quando Hyungsik decidiu que o odiava, jurando que um dia o irmão teria retribuição por todo sofrimento que lhe causara.

Lie to Me (jjk + kth) - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora