29: O passado que deveria estar trancado nunca foi tão amedrontador quanto agora

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— Seojun, no início, era um príncipe. Sempre sorria para mim, comprava ou fazia o café da manhã, dormia no meu apartamento, era amigo dos meus melhores amigos — engoli em seco. Parecia que havia virado um pequeno copo da bebida mais amarga possível — mas, como nem tudo são flores, com o passar do tempo, Seojun tornou-se outra pessoa.

— Ele te agrediu quantas vezes? — perguntou Changkyun. Seus punhos estavam cerrados, contudo, ele não poderia demonstrar ódio ou simpatia a mim. Contorci os lábios.

— Não sei o número exato, mas foi um tanto considerável.

— Se importa de nos dizer o motivo por trás das agressões?

Encarei minhas mãos ao abaixar a cabeça. Realmente, aquelas perguntas desencadeavam uma parte minha que eu tentei esconder por um bom tempo.

— A primeira vez foi porque, segundo ele, eu não o dei atenção o suficiente. Estava participando de séries, saindo com colegas do trabalho e dando entrevistas, parecia o ápice da minha carreira. Nas vezes seguintes, eram motivos bobos, como, por exemplo, que eu ria de forma escandalosa, que eu chegava tarde em casa, sendo que era por causa do trabalho. Depois, passou a não ter motivo nenhum.

— Por que você não o denunciou?

— Porque eu tive medo — meus olhos encheram-se de lágrimas. Eu já não conseguia enxergar, nem controlar a altura dos soluços — eu tinha medo de chegar no meu apartamento e Seojun estivesse lá, me esperando. Nunca tive coragem — com as costas das mãos, limpei o rosto, que estava quente, e funguei — mas, ao ver Jeonghan machucado no dia que ele foi para a firma, foi como se eu recebesse um empurrão do mundo. Eu precisava fazer isso. Não só por mim, mas por todos aqueles que Seojun maltratou e agrediu.

Changkyun assentiu, absorvendo toda aquela informação. Em seguida, virou-se para o juiz e reverenciou-se ao dizer:

— Isso é tudo, senhor.

Com a escolta de um dos policiais, fui guiado para o lado de fora, para me acalmar. Sem sombra de dúvidas, havia deixado Changkyun preocupado. Agachei-me no chão, abraçando os joelhos, e, da maneira mais silenciosa que pude, tornei a chorar novamente. Aquela sensação em meu peito era ardente, consternada e afligida, expandia por minhas veias, fazia com que minha cabeça latejasse em dor.

Foram longos minutos de angústia. De medo, do lado de fora do julgamento. Eu me sentia dentro de um cubo de vidro, que diminuía consideravelmente segundo após segundo, cingindo-me dentro de seu interior.

Assim que respirei fundo ao erguer o corpo novamente, ajeitei o terno que trajava e, ainda com o policial ao meu lado, entrei novamente. Changkyun tomou a palavra no momento em que adentrei e sentei-me na primeira fileira de cadeiras, com ninguém ao meu lado. E assim a audiência se seguiu, argumentos para cá, argumentos para lá. Seojun, por sua vez, tinha inúmeros relatos e provas que apontavam devassamente que ele era, de fato, culpado. Por isso, quando a decisão foi proferida, apesar de já saber que ele era culpado e seria preso por seus delitos, uma onda de alívio me percorreu. Ver Jeoghan sorrir fraternalmente para mim e para Changkyun, após sibilar "muito obrigado", deixou-me feliz, havíamos conseguido. E, apesar dos pesares, eu estava, tecnicamente, livre de meu passado.

Depois de tanto tempo, confrontei Seojun. Engoli meu medo para enfrentar quem fez meus meses tornarem-se tão doloridos quanto estar no inferno. Merecidamente, Seojun foi punido, e, pagaria, indubitavelmente, por todo o mal que ele causou a todos que ele mentiu amar.

[...]

— Changkyun, o que houve? — questionei-o quando chegamos em casa. Jeoghan havia nos dado uma carona e, durante o caminho, disse que não imaginava que haviam pessoas com coragem o suficiente para fazer com que Seojun fosse, em carne e osso, ao tribunal e, no final do julgamento, recebesse a pena máxima. Para uns, parece extremamente fácil adentrar a audiência e dizer palavras pomposas e enunciar a lei; porém, foi algo que Changkyun trabalhou incessantemente, até mesmo ficou noites sem dormir. E eu, no meio da madrugada, acordava para ver se o Lim ainda lia seus grossos livros ou se pegara no sono, e, se a opção fosse a última, eu o cobria gentilmente para não o acordar. Changkyun dormia como uma criança — você não falou nada o caminho inteiro e não para de me olhar desde que chegamos.

Changkyun desabotoou o terno e jogou-o em cima do braço do sofá, para que então levasse os dedos até a gravata, tecido o qual ele afastou de seu pescoço sem cerimônias.

— Eu passei a volta toda lembrando de como você chorou na minha frente e eu não pude te abraçar. Você não sabe o quanto me doeu vê-lo daquele jeito — o advogado sussurrou a última frase. Com passos largos, aproximei-me dele.

— Eu imagino que deva ter doído. Mas agora já passou, Chang. Está tudo bem — sorri docemente para Changkyun, o envolvendo em um abraço quentinho, acalmando mais a ele do que a mim. Seus braços apertaram minha cintura e ele enterrou seu rosto na curvatura de meu pescoço — está tudo bem — repeti, afagando seus fios com minha canhota, enquanto que a destra abraçava seu quadril, o aproximando de mim.

— Eu não entendo como alguém machucaria você, Kihyun — ele ergueu o rosto, me encarando. Em seguida, tocou minha bochecha e, com o polegar acariciou-a, os orbes transbordando tristeza — eu realmente não entendo.

— Chang — coloquei minha mão sobre a sua e fechei os olhos, sentindo-o, sorrindo — eu só tenho a te agradecer por ter feito o que fez. Não sei se outra pessoa andaria tão longe ao meu lado.

Changkyun beijou o topo de minha cabeça.

— É o mínimo que eu poderia fazer por quem eu tanto gosto — sorriu de maneira terna. Ao que abri os olhos novamente, diante da frase que ele disse com tanta facilidade, enrubesci.

O silêncio que veio junto com nossos entreolhares não nos incomodou, pelo contrário, estávamos confortáveis. Eu amava olhar para Changkyun. Ele nunca falhava em me surpreender com seus orbes brilhantes e sorrisos bobos.

— Eu percebi uma coisa — disse ele. Inclinei a cabeça para a direita, curioso — eu quero te proteger, Kihyun. De todos aqueles que te ferirem. Quero te ver sorrindo, porque você não faz ideia do quanto fica lindo quando sorri — sua canhota encontrou seu caminho em meus fios, arrepiando os pelos de minha nuca, além de eu sentir borboletas em meu estômago — quero poder te ver dormindo no meu sofá, porque adormeceu enquanto lia um de meus livros — Changkyun abraçou minha cintura e colou nossas testas em um movimento lento, degustando do que estava sendo eu me entregando, completa e perdidamente àquelas palavras e seus singelos toques — quero te ver vestindo minhas roupas e você reclamar das cores porque meu guarda-roupa é uma escala de tons escuros — ri, envergonhado — e, se possível, quero poder realizar meus desejos sujos com você.

Entreabri os lábios, perdendo a fala, olhando-o. Passeei meus orbes por seu rosto, alternando a atenção entre seus lábios e os olhos acastanhados dele. Em seguida, e, como se lesse minha mente, Changkyun beijou-me. Com a destra abraçando fortemente minha cintura e a canhota em meu pescoço, o Lim beijava-me com lentidão, mas eu podia sentir sua necessidade. Meus braços envolveram seu pescoço e eu sorri no momento em que Changkyun pegou-me no colo e mordeu meu lábio inferior. Abracei seu quadril com as pernas, para facilitar enquanto o advogado andava pela sala, milagrosamente sem tropeçar e sem quebrar o ósculo, até que parasse e prensasse-me contra a porta de seu quarto.

Changkyun aproveitou a chance para desabotoar, apressadamente, minha blusa social e jogou-a no chão, de maneira com que sorrisse, todo cafajeste, e abriu a porta, fechando-a com o pé. Ao que senti meus pulmões doerem, afastei-me, minimamente, de Changkyun, o qual deitou-me no colchão macio de sua cama e sobrepôs seu corpo ao meu, com a perna direita entre as minhas, fazendo com que entrasse em contato com meu membro, que, diga-se de passagem, estava, aos poucos, acordando.

O Lim deu-me um selinho demorado para dispôr beijos por meu pescoço e meu abdômen — cujo estava exposto e pronto para que Changkyun deleitasse-se em minha pele com seus chupões e a língua, que traçava um caminho padronizado, a qual ia desde minha clavícula até acima de meu umbigo, de forma lenta. A cada movimento, Changkyun tinha seus orbes, felinos, em mim e minhas expressões, as quais estavam sendo mais difíceis de controlar.

Changkyun umedeceu os lábios e me beijou, com carinho, mas mais parecia que ele havia abandonado a ideia de continuar. Por isso, ao que ele se afastou para me olhar, rapidamente, alterei nossas posições, o girando pela cama e, dessa vez, com meu corpo por cima do seu, o surpreendendo.

Pensei que quisesse realizar seus desejos sujos comigo — falei, o provocando. Changkyun sorriu, travesso.

A LEI DO AMOR「 Changki 」Where stories live. Discover now