trinta e oito

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  Pluguei meu celular ao carregador, e deixei o quarto.

Andei decidida pelos corredores.

Decidida a entrar de cabeça no meu estado. Decidida a aceitar meu outro lado. Decidida a procurar pela minha própria cura. Decidida a tentar me salvar e não esperar que Deus me olhasse lá de cima e pensasse "Puxa, vou ajuda-la!"

As coisas não iriam funcionar assim. Ninguém iria ter pena do que está me acontecendo e iria resolver tudo. Nenhum milagre iria acontecer se eu não fizesse nada para que ele acontecesse. Nenhuma besta iria embora se eu não soubesse como destruí-la. Nenhuma Isma iria voltar a ser ela mesma se eu mesma não me salvasse. Nenhuma maldição teria fim se eu não lutasse com todas as minhas forças para acabar com ela para todo o sempre. Nenhuma escuridão iriam embora se eu não lutasse para manter a luz e trazer a que se foi de volta.

Não tinha um príncipe montado em um cavalo branco com espada empunhada cavalgando para me salvar, não, o meu aparente Príncipe precisava de mim para salvar ele e seu povo e eu era a única que podia me salvar. Não havia nenhum beijo de amor verdadeiro capaz de mudar tudo.

Nenhum de nós aqui tinha real certeza do que iria acontecer comigo quando a neve chegasse, eu podia me perder na escuridão ou retornar para a luz, e independente de quais chances eram maiores e menores eu iria me garantir!

 
Empurrei a porta da biblioteca e respirei fundo, estava entrando quando uma voz no fim do corredor me chamou.

— Isma. —

Voltei em meio passo e olhei para lá encontrando Khaled. Ele estava com uma aparência péssima, além dos cabelos estarem uma bagunça, ele estava com uma expressão de quem não tinha pregado o olho, e quando ele parou na minha frente e eu percebi suas olheiras tive a certeza.

Ele estava usando uma regata fina deixando os braços, a extremidade do ombro e uma parte do peitoral forte e bronzeado à mostra, e uma calça moletom surrada preta. Encarei ele esperando por alguma explicação, com a cabeça levemente para o lado.

— Você está péssimo....—

Sem me conter, larguei a maçaneta e me aproximei mais dele tocando o rosto dele e passando delicadamente os dedos por toda a extensão das feições da sua face bonita mas cansada.

— Não consegui dormir. —

Ele sussurou com o olhar verde desanimado e triste. Sorri gentilmente deslizando os meus dedos para seu cabelo macio.

— Teve sonhos ruins? —

Ele negou.

— Então o que foi que tirou o seu sono?? —

As mãos grandes e quentes dele cobriram as minhas me fazendo parar de mexer elas. Olhei confusa para a expressão de dor e culpa no rosto dele. Não conseguia entender porque ele estava assim nem pensar em algo que pudesse causar isso justamente nele.

— Isma, eu sinto muito por ontem...não queria te fazer sofrer...não queria te causar nada disso, nem falar aquelas coisas.....—

Confessou com a voz aparentemente emocionada, ele parecia prestes a cair no choro com a dor em seus olhos. Eu suspirei surpresa que essa era a causa da falta de sono ele, e me lembramdo de como o próprio tinha agido no jantar. Apesar daquilo ter me consumido no momento, já tinha passado e eu não me importava. Eu não podia me prender a essas coisas, esses sentimentos, não havia tempo.

— Oh Khaled...não...—

— Eu me preocupo com você. Sei que parece que não mas me preocupo, que falei errado, não soube me expressar, mas a verdade é que eu não quero te ver sofrer ainda mais...—

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