Nove

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A segunda folha estava tomada por uma marca de sangue seco, impregnado na folha por inteiro, alguns respingos acabaram manchando também a folha anterior tornando tudo ainda mais assustador e surreal.

Como se alguém machucado tivesse deixado manchar, até tornar tudo uma folha tomada por sangue, passei os dedos pela folha e senti uma dor através dela.

Aaahhh
É um aroma maravilhoso, não é???

— Pare!— exclamei.

Sangue repleto de dor.

— Fique calada — esbravejei.

Meus olhos começaram a pesar novamente mas os forcei a se manterem abertos, passei a página.

Acabamos de chegar
As pessoas nos olham estranhos ainda
De certo os entendo
Novos vizinhos sempre são estranhos e difíceis de confiar.

Se descobrissem o que somos, nos temeriam ainda mais.

"O que somos?"

O que elas poderiam ser???

O que minha família poderia esconder que seria tão prejudicial para ambos???

O quê???

Passei a página lendo o verso mas notei que estava em branco, apenas a outra folha que tinha as letras outra vez.

Um mês se passou, um longo mês.
Todos ainda nos olham estranhos
Aquele olhar repleto de desprezo, nojo, ódio e talvez receio também.

Como se soubessem a verdade mas tivesse medo de lutar contra ela.

Minha mãe está cada vez mais triste com isso, triste de não conseguirmos termos uma vida normal.

Temos essa aura negativa que faz todos nos temerem e desprezarem.

Quando eu comprava a comida hoje no mercado, vi um rapaz, ele era lindo, era encantador.

Seus cabelos batiam na nuca, estavam molhados, cor castanho escuro, seus olhos eram verdes e vivos que me encantaram na primeira olhada, sua postura era intimidadora e sua presença cativante.

Ele era cativante.

Lembro bem da roupa que ele usava: Uma calça escura com botas de cowboys, em seu peitoral uma blusa quadriculada de cor preta e branca com os primeiros botões abertos revelando a pele naturalmente bronzeada e um pouco do peitoral definido e como que esculpido por um Deus Grego.

Embora, ele em si parecesse um Deus Grego.

Seus olhos verdes estudavam a prateleira, seu peito descia e subia devagar e ele piscava lentamente me fazendo admirar esse gesto humano, sua boca levemente carnuda perfeitamente desenhada era como que um convite para eu me jogar em seus braços e a beijar até o oxigênio abandonar meu corpo e o frio que existe dentro de mim se tornar brasa.

E sua barba, escura como os cabelos tão bem-feita que eu me perguntava como ele havia conseguido fazer isso, me imaginei tocando ela e sentindo ele a passar por meu pescoço e corpo.

Ele tinha um ar tão nobre, que parecia fazer todos, inclusive eu, ao seu redor, parecerem patéticos seres, eu praticamente amassava o plástico que tinha em minhas mãos enquanto ele sequer notava minha presença, ou se havia notado, fingiu não notar.

Pensei várias vezes em como chegar até ele, perguntar algo, falar ser nova na cidade, mas então ela chegou.

Longos cabelos loiros ondulados que batiam nos quadris, um belo corpo que mesmo escondido pelo pano grosso do vestido que ela usava eu poderia notar, seus olhos eram de um azul tão claro que poderiam ser brancos, seus lábios naturalmente avermelhados se moviam enquanto ela sorria passando o braço pela cintura do homem e o abraçava fazendo-o percerber sua presença, virando assim o rosto na sua direção e abrindo um sorriso enquanto suas pupilas dilatavam, seu coração acelerava e seus olhos brilhavam em admiração e amor.

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