Perfeito demais

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Março de 2017

Taehyung ofegava e suava compulsivamente. Tentava controlar a respiração pesada, inspirando e expirando de maneira controlada. Sentia os músculos contraírem de maneira involuntária, liberando endorfina quase de maneira contínua, o que gerava uma sensação extrema de prazer.

Diminuiu a velocidade de maneira gradativa, ao som de Creep — em uma versão deliciosa de Karen Souza — nos fones de ouvido do seu Ipod, sentindo o coração disparado e o ar lhe faltando. 10 km completados com sucesso, riu sozinho, completamente satisfeito.

Taehyung era corredor amador. Corria diariamente — e religiosamente — 10 km por dia. Sempre o mesmo percurso, no mesmo horário — das 7h às 7h40. Era o melhor horário para correr, primeiro porque a cidade ainda não fervia quando saía de casa; segundo porque lhe despertava para o restante do dia.

Apoiou-se nos próprios joelhos e viu uma gota de suor escorregar pela franja castanha. Sorriu enquanto tentava retomar o fôlego. Já estava na hora de se desafiar um pouco mais, talvez aumentando para 12 km na semana seguinte.

Esticou o corpo suado e cansado antes de adentrar a portaria do prédio. Cumprimentou o porteiro, que fez mais um comentário sobre ele ter coragem de sair todos os dias para correr. Chamou o elevador, enquanto mantinha uma conversa sobre o último jogo do Bayern Munich com o outro.

Gostava de futebol — até jogava às vezes —, mas preferia o basquete. Não perdia nenhum jogo da NBA, tendo o Boston Celtics como a equipe do coração. Interrompeu o assunto quando o elevador anunciou sua chegada, entrando e pressionando o quinto andar.

Já em casa — um apartamento moderno em tons claros —, foi direto à cozinha, começando a preparar um shake pós treino à base de ovos, banana e iogurte natural — tão natural que era feito em casa.

Enquanto a mistura batia dentro do liquidificador, retirou a roupa quase por completo, ficando apenas com a cueca boxer branca. Ostentava um corpo razoavelmente malhado por causa das corridas matinais. Colocou as roupas suadas na mini máquina de lavar roupas para 3 kg, iniciando o processo de lavagem.

Taehyung era cheio de rotinas rígidas e gostava delas. Acordava cedo para correr todos os dias — fins de semana também —, consumia um shake, tomava banho e ia organizar suas obrigações do dia na frente do computador, sempre tentando aprimorar seus estudos de Enfermagem, curso que escolheu para seguir, ainda que já exercesse a profissão.

Trabalhava como enfermeiro em dois locais e havia conseguido organizar sua carga horária de maneira a trabalhar todos os dias e sempre conciliar uma folga durante a semana. O primeiro emprego — no qual estava há mais tempo ― era em um hospital e sua atuação era no pronto socorro. Já o segundo emprego, trocado há pouco, era em uma casa de repouso. Mudou o local de atuação, pois carregar dois pronto atendimentos era pesado para sua saúde, algo que ele prezava mais do que qualquer coisa na vida.

Interrompeu o trabalho do liquidificador e em seguida despejou o líquido grosso em um copo de vidro. Tomou um gole da bebida que já era palatável para si e caminhou até o quarto. Pegou o celular que estava carregando em cima da escrivaninha e sorriu ao ver duas mensagens de Jungkook.

[JK] Bom dia, Tae.

[JK] Boa corrida.

Jungkook era um homem incrível — e bonito — que conhecera há quase dois meses no aplicativo MEEFF, um app de relacionamentos popular, que, porém, não era específico para o público gay, mas dava para o gasto.

O rapaz de 19 anos detinha cabelos escuros e uma aura gótica. Cursava o primeiro ano do curso de Direito, em uma boa universidade de Seul — a mesma em que se formara no finalzinho do ano anterior. Ele era tímido, porém muito engraçado quando conseguia se soltar. Tinha um beijo gostoso e acanhado que o encantava todas as vezes.

Herança Imprudente VitalWhere stories live. Discover now