Eternizado em tinta

686 127 49
                                    

Dezembro de 2021

Jungkook estava decidido. Ia dar uma tatuagem de presente de aniversário para Taehyung. O primeiro ano de casados já havia passado e estavam perto de completar o segundo ano. Além disso, a Coréia do Sul havia finalmente legalizado os estúdios de tatuagens e, com isso, os desejos de todos os coreanos aumentaram no que tangia a decorar o próprio corpo.

Jungkook havia começado a fazer análise pessoal, para entender melhor a si mesmo, e Taehyung continuava em sua psicoterapia que lhe fazia tão bem. Jungkook trabalhava sua relação com seus pais e a raiva por ter sido destituído como filho. O casamento com um homem, ainda mais soropositivo, havia aberto em si diversos conflitos familiares. Além disso, havia se formado no curso básico de Direito e já se preparava para engatar em um mestrado.

Taehyung, por sua vez, trabalhava melhor a questão de seu diagnóstico e sua relação com Jungkook. Havia percebido que muitas vezes não se sentia suficientemente bom com o marido, mesmo que a fala do outro fosse diferente de seus pensamentos auto incriminatórios. No entanto, de modo geral, havia melhorado sua relação com sua doença, sentindo-se mais confortável em viver com ela e falar sobre ela quando questionado.

Jungkook via essa mudança na vida de Taehyung com o HIV. O mais velho já não pedia desculpa ou ficava cabisbaixo toda vez que o via tomar seus remédios e isso era ótimo.

Certo dia, enquanto conversavam na cama antes de dormir, o mais velho havia lhe segredado o desejo de fazer uma tatuagem, mas contara também todos os receios que tinha, já que carregava em seu sangue um inimigo mortal dos seres humanos.

E era por isso que Jungkook havia decidido lhe presentear com uma tatuagem. E para lhe apoiar, faria uma também. Inclusive havia escolhido a imagem e sabia que o companheiro não se oporia. Queria que ambos tatuassem o laço vermelho, símbolo do HIV, no pulso. Mas a tatuagem de Taehyung viria com um sinal de positivo ao lado, e a de Jungkook, o sinal negativo, que poderia virar positivo caso algo acontecesse.

A sua ideia inicial era poder mostrar ao mundo que eram um casal homoafetivo e sorodivergentes. Queria que o marido lidasse cada vez melhor com a situação e que se orgulhasse de ser um soropositivo tão saudável — mais do que muitos soronegativos por aí. Jungkook acreditava que não havia motivo para se envergonhar de carregar um vírus danado em seu sangue. Que aquilo não era escolha nem punição. Era apenas uma situação da qual não teve escolha.

— Adorei a ideia — Taehyung lhe disse com um sorriso largo quando ouviu a proposta de Jungkook, assim como ele previu que seria.

— Eu sabia que ia gostar.

Já estavam tempo o suficiente para entender os gostos e desgostos um do outro. Jungkook sabia que Taehyung estava em um processo de autoaceitação e que a ideia desta tatuagem faria sentido para o seu momento atual.

— Se fizer no pulso, um pouco mais para cima, dá para esconder com o jaleco e com a luva! — empolgou-se.

— Isso que eu pensei, e ao mesmo tempo, podemos mostrar quando estivermos juntos.

Jungkook já tinha preparado tudo, inclusive já tinha escolhido o estúdio e o artista que executaria a tatuagem. Havia até marcado a data que fariam a tatuagem, cinco dias antes do Natal.

— Mas já? — disse surpreso ao descobrir que a tatuagem seria feita dali quatro dias. — Mas nem me preparei psicologicamente para isso.

— Sim, não faz mal ser mais impulsivo de vez em quando — mentiu, visto que não tinha nada de impulsivo naquele agendamento programado há mais de um mês.

— Dizem que dói muito, será que vamos suportar?

— Acredito que sim, não deve ser mais dolorido do que a primeira vez que se faz sexo anal — concluiu, recebendo um tapa do marido acompanhado de um sorriso sincero.

Herança Imprudente VitalNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ