22 | s o l t o

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"Então agora eu vejo você em meus pesadelos
Sozinha, me afogando em minhas lágrimas
[...]
Estou tendo pesadelos, pesadelos
E você é o culpado"
— Nightmares, Ellise.

Minhas pernas trabalham por conta própria, carregando o restante do meu corpo até o meu loft no modo automático

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Minhas pernas trabalham por conta própria, carregando o restante do meu corpo até o meu loft no modo automático.

A chuva, evoluída do pequeno chuvisco de mais cedo, embaça minha visão, obrigando-me a piscar mais vezes que o usual para tentar afastar as gotículas de água dos cílios.

Com os sentidos parcialmente entorpecidos, tudo o que sinto é o celular firmemente preso entre meus dedos. A tela já está escura a esse ponto, mas as letras antes exibidas nesta não saem da minha cabeça nem por um segundo sequer.

Toda vez que as minhas pálpebras descem, reduzindo as ruas de San Diego a nada, as letras ainda estão lá, brilhando fortemente.

Elas são tudo o que vejo. Tudo o que sinto.

O mundo ao meu redor é apenas um borrão enquanto, à passos apressados e instáveis, eu continuo a marchar até em casa.

Preciso ir para casa.

É o único lugar onde me sinto segura. Protegida.

O pavor corrói minhas veias, o ar parecendo não chegar em meus pulmões da maneira certa. Continuo a puxar o ar mesmo assim, o tórax subindo e descendo rápido demais.

Tudo parece rápido demais. As pessoas que esbarram em mim, tentando fugir da chuva. Os carros, derrapando no asfalto úmido enquanto buzinas ecoam pelas ruas. O trânsito, ainda que leve, empacado por conta da chuva que engrossa a cada segundo.

Então, já estou parada em frente a edificação que abriga, além do meu, mais três lofts, um sobreposto estavelmente sobre o outro. Olho ao redor por um instante, assimilado as demais construções. O bairro, bem situado, é seguro o bastante para acalmar meus nervos. Momentaneamente.

Pois logo um pensamento me invade. Só estou onde estou – em uma ótima faculdade, morando em um dos melhores bairros da cidade –, por causa deles. Phoebe e John são os responsáveis pela mudança drástica de vida que eu tive. E ao pensar neles, é inevitável não lembrar dele.

As lembranças, que luto para manter longe todos os dias, voltam com tudo, flashbacks desconexos explodindo em minha mente. É um campo minado. Pisco mais algumas vezes, levando ambas as mãos até as orelhas quando sua voz ressoa por todo o meu crânio, como se ele estivesse bem ali, em carne e osso, sussurrando suas ameaças rente ao meu pescoço.

Vá em frente, conte. Quem irá acreditar em um gato de rua?

A culpa é sua, ou acha que eu não vi que você estava tentando me seduzir?

Two Souls Where stories live. Discover now