06 | d e s e j o s a

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"Veja o que você fez
Estou ficando dormente
Eu estou ficando entorpecida, querido"
— Numb To The Feeling, Chase Atlantic.

"Veja o que você fez Estou ficando dormente Eu estou ficando entorpecida, querido"— Numb To The Feeling, Chase Atlantic

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É claro que ele agiria como alguém com amnésia. Como se nada fosse... nada.

Não é segredo que Caleb Hughes é um tremendo galinha. Faz poucos dias desde que eu entrei na faculdade, mas eu já ouvi um milhão de histórias diferentes referentes a ele.

Ele se ofereceu para me levar para casa, e é óbvio que, chegando lá, eu o convidei para entrar.

A melhor transa da minha vida, sem dúvidas.

Ele faz mágica com a língua. Ah, e os dedos...

Mas não, ele não me ligou no dia seguinte. Não, ele não me procurou depois, nem mesmo para um repeteco.

Não, Caleb Hughes não se envolve emocionalmente com ninguém.

Então é óbvio que ele fingiria que nunca havia tentado me beijar no outro dia. A sua reputação o precede, no fim das contas.

E isso me irritou. Me deixou furiosa.

Mas então eu notei. Assim que eu repousei meus olhos em sua cicatriz e o seu desconforto se tornou paupável, eu soube. O seu comportamento despretensioso nada mais é do que um escudo para esconder toda a sua insegurança interior, assim como a atitude de tentar me intimidar após notar em que lugar da sua face meus olhos estavam focados. No fim, eu não consegui ficar irritada com ele nem por mais um segundo.

E eu queria. Muito. Nutrir qualquer tipo de sentimento ruim por ele espantaria todas as borboletas insuportáveis que surgem na boca do meu estômago toda vez que eu o vejo.

Mas lá estava ela. A cicatriz que eu sei que representa tudo o que ele perdeu. A cicatriz que, assim como o vazio e a dor, ele aprendeu a conviver com, mas que certamente nunca superou.

Talvez, se eu fechar os olhos e me concentrar bem, eu consiga sentir o relevo sob as pontas do meus dedos. Lembro-me de estar deitada ao seu lado, traçando toda a extensão do corte cicatrizado enquanto pensávamos em histórias alternativas para justificar seu machucado; um duelo de espadas com um brutamontes, uma queda de avião onde ele havia sido o responsável por salvar todos os passageiros e, até mesmo, uma luta com um dragão feroz que aprisionava uma linda donzela em uma torre.

Suspiro, sentindo a saudade me consumir por inteira.

Mesmo ele estando sentado ao meu lado nesse exato momento, eu ainda sinto falta dele. Não do Caleb de quem todos falam, mas do meu Caleb. Do menino que eu conheci anos atrás.

Me levanto assim que a aula acabada, jogando a mochila sobre os ombros e andando em disparada até a saída. Não sou rápida o bastante, no entanto. Não preciso sequer olhar para trás para saber que seu corpo está colado no meu, seus passos me seguindo.

Two Souls Where stories live. Discover now