Cap 25

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Cato do distrito 2, o garoto da espada é certamente o líder. Ele ordena para que todos peguem as armas que quiserem, e Glimmer, do distrito 1, pega um belíssimo arco, que penso que se encaixaria perfeitamente nas mãos de Katniss.  Quando vou pegar uma faca, Marvel, do distrito 1 dá um soco em meu rosto. Caio com a força do golpe, eles riem.

- Você acha mesmo que irá andar conosco armado? – dispara Clove, a garota que mirou uma faca em mim, enquanto me chuta nas pernas, e na costela.

- Eu só pensei que... – deixo a frase no ar, pois não tenho nenhuma explicação, nem folego.

Todos riem, e eu fico envergonhado.

- Vamos à caça agora ou amanhã? – Glimmer, a loira atraente do distrito 1 pergunta.

- Vamos comer um pouco, depois partimos, no rastro da garota do 12, com a ajuda no nosso amigo aqui – Cato fala, enquanto passa sua espada em meu braço, fazendo um corte que começa a sangrar instantaneamente.

Eu me levanto, e rasgo um pedaço de minha camiseta, para enfaixar meu braço. Todo o meu corpo dói, quase não consigo me apoiar em uma das minhas pernas.

Eles começam a pegar os alimentos, frutas, cereais, e há até algumas carnes ali. Eu não ouso tocar em nada a menos que me ofereçam. O que é claro, eles não fazem. Não estou com fome ainda, mas estou com sede. Depois que comeram um bocado, percebem que há tudo ali, menos agua.

- Vamos até o lago beber agua – sugere Marvel.

Seguimos em procissão, alertas, volta e meia, uma me dá um soco, ou um chute. Tudo que posso fazer, é tentar permanecer em pé. Enquanto todos bebem água, Cato me segura para dizer:

- Você não irá comer nem beber nada, enquanto não acharmos sua namoradinha.

Penso em dizer que ela não é minha namorada, mas isso iria soar infantil. Aceito o meu destino sabendo que o que eu posso fazer, é prolongar a vida de Katniss fazendo eles se manterem o mais afastado possível dela.

Já está anoitecendo, quando a música começa a tocar. Fotos dos tributos mortos aparecem no céu, aparece o brasão da capital em seguida e a música cessa. A última a aparecer foi a garota do distrito 10. Isso quer dizer que Katniss está viva. Penso que Rue, do D11 também. Isso me impressiona, pois por mais cruel que seja pensar nisso, achei que ela não iria durar o primeiro dia. Contei onze mortos no total. Provavelmente essas quatro pessoas ao meu lado mataram todos.

 - Vamos andando, vamos andando! – esbraveja Cato. – Temos muita coisa a fazer ainda!

Voltamos para a Cornucópia, aonde eles pegam agasalhos, sacos de dormir, lanternas, e tochas. Eu fico em um canto sem pegar nada. Quando está tudo pronto, adentramos a floresta caçando os tributos. Volta e meia ouço eles cochicharem que deveriam me matar logo. Mas Clove diz que seria mais divertido se eu morresse de frio, fome ou sede, ou ver eles matarem Katniss, para depois me matar. Todos concordam e depois caem na risada. Estou todo arrepiado, de frio, e de ouvir tais coisas. Andamos boa parte da floresta, sem nem sinal de algum tributo. Paramos para descansar um pouco e eu e Cato ficamos de vigia para os outros dormirem. Estou quase congelando, e está quase amanhecendo quando Cato acorda os outros para continuarmos nossa busca. Depois de andarmos mais um pouco, avisto uma fumaça. De uma fogueira, talvez. Quem seria estupido assim, para acender uma fogueira? Tento disfarçar, na esperança de que eles não tenham visto nada, mas é tarde demais. Clove já viu, e mostra aos outros que ficam demasiadamente entusiasmados com a hipótese de mais alguém para matar.

Corremos em direção à fumaça, e vemos que é mesmo uma fogueira. Os quatro chegam ao redor de uma garotinha, e começam a ameaça-la. Ela implora pela vida, o que só serve para deixá-los ainda mais entusiasmados. Glimmer, pega uma flecha e mira bem no coração dela, e atira. Estou em choque, com a expressão naquele olhar. Ela olhou diretamente para mim antes de ser acertada. E eu, covarde, impotente, não fiz nada, a não ser olhar. Estou enjoado. Quero sair logo dali.

 - Doze já foram, faltam onze! – grita Marvel, e todos assoviam e parabenizam Glimmer.

Eles checam os suprimentos da garotinha, e não acham nada útil. Fósforos, e uma corda.

— É melhor nos afastarmos para que eles possam pegar o corpo antes que ele comece a feder – Cato ordena, e todos nós o seguimos.

Estamos indo na direção oposta da que viemos, quando olho para cima e vejo Katniss. O pavor percorre minhas veias. Desvio o olhar, torcendo para que eles não tenham percebido nada, mas aí eles param de andar. Começo a suar, quero tira-los dali, mas como? E se eles também a viram, o que vou fazer para não a matarem?

— Não deveríamos ter ouvido já um canhão? – Clove comenta, para o meu alívio. Então eles não viram Katniss.

— Eu diria que sim. Nada para impedir que eles entrem imediatamente.

— A não ser que ela não esteja morta.

— Ela está morta. Eu mesmo a imobilizei.

— Então onde está o canhão?

— Alguém deveria voltar. Se certificar que o trabalho foi feito.

— É, não queremos ter que localizá-la duas vezes.

— Eu disse que ela está morta!

Eles começam aquela discussão, bem abaixo de Katniss. A ansiedade toma conta de mim. Se continuarem ali, vão ver ela, mais cedo ou mais tarde. E então para acabar com aquilo, tomo uma decisão.

— Estamos perdendo tempo! Eu vou terminar com ela e vamos nos mover – eu digo, tentando não demonstrar o pavor que corre em mim.

— Vá em frente, então, garoto do amor — diz Marvel. — Veja por si mesmo.

Cato me entrega uma faca e sua tocha. Ando, mancando um pouco na direção que estava a garota, e lá está, os olhos ainda abertos. Eles fixam em mim, e eu fecho os meus, enquanto corto sua garganta. Abro meus olhos e vejo sangue jorrar. Fecho seus olhos com as mãos, e sinto vontade de enfiar aquela faca em meu peito. Ainda não acredito que fiz isso.

Enquanto volto, dou uma rápida olhada na direção da arvore em que Katniss está. Ela ainda está lá, olhando para os carreiristas bem abaixo. Preciso tira-los logo daqui.

— Ela estava morta? — pergunta Marvel.

— Não. Mas agora está — digo, então o canhão dispara e eu estremeço. — Prontos para ir adiante?

Eles assentem em sinal de aprovação e começam a correr. Eu os sigo, e um alivio percorre em meu corpo, pois consegui salvar Katniss, pelo menos dessa vez. Com isso percebi que estou mesmo disposto a fazer qualquer coisa por ela, mesmo que para isso, eu me transforme em algo que eu não sou, fazendo ela me odiar ainda mais. Relembro os olhos daquela garota fixos em mim, pedindo clemencia. Sinto que não posso culpar Katniss, por odiar o monstro que me tornei ao fazer isto. O fato de ser por amor, não torna um assassinato mais nobre.


Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora