Cap 11

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Assim que descemos do trem somos levados para o centro de remodelagem. Pessoas com roupas extravagantes e cabelos coloridos, vem em minha direção sorrindo e falando várias coisas que não consigo entender direito, devido ao sotaque e a altura que falam. Eles me levam até uma espécie de banheiro, onde tenho que ficar nu, enquanto três pessoas me esfregam de cima a baixo com escovas de cerdas que chegam a machucar, pela tamanha força usada. Visto um robe, para diminuir a vergonha que estou sentindo de ter que ficar nu na frente de pessoas totalmente desconhecidas, e eles passam a lixar minhas unhas, cortam meu cabelo, e depois de quase uma hora nisso, sou levado a uma sala, onde mais uma vez tenho que ficar nu, enquanto essas mesmas pessoas arrancam todos os pelos do meu corpo. É muita dor e humilhação, para um dia só. Minha pele está vermelha, e ardendo, mas ao meu ver o resultado está satisfatório, mesmo que minha agradável equipe de preparação ainda esteja me olhando como se eu estivesse encobrido de carvão. Eles ficam me olhando, me analisando, e então uma mulher começa a passar uma loção em meu corpo, que no começo provoca uma sensação desagradável, mas depois alivia toda a ardência e formigamento. Eles me olham mais uma vez e saem. Visto meu robe, e fico pensando se Katniss também teve de passar por tudo isso. É óbvio que sim, e isso me deixa furioso.

A porta se abre, e uma mulher de aparência jovem e pele morena entra na sala. Eu me assusto. Ela é diferente de todas as pessoas que vi aqui até agora. Ela veste um vestido preto, seu cabelo é castanho, e como maquiagem, ela usa apenas um batom rosa, ou seria roxo? Isso não importa. O interessante é que ela parece uma pessoa normal. Nada de cores cintilantes nas roupas, no cabelo, nada! E o mais impressionante ainda, é que ela não sorri quando me vê.

- Olá, meu nome é Portia - Ela diz, enquanto me estende a mão - E você é o Peeta Mellark, certo?
Só então ela esboça um pequeno sorriso. Aperto a sua mão, e involuntariamente sorrio também assentindo com a cabeça.

Ela se senta numa cadeira, e gesticula para que eu faça o mesmo. Só quando me sento, ela volta a falar.

- Esse ano Peeta, eu e meu parceiro Cinna, que é o estilista de sua companheira Katniss, vamos fazer algo completamente diferente. Para que vocês sejam sempre lembrados. Você sabe que somos obrigados a fazer trajes, que reflitam o seu distrito, que no caso de vocês é mineração. Mas nossa ideia é focar no carvão em si complementando esses trajes com certos elementos surpresa.

Eu a olho com certa curiosidade, esperando que ela prossiga, e me conte o que exatamente iremos vestir, mas ela simplesmente se levanta e sai.

Algum tempo depois estou vestido em um macacão preto, e colado, que cobre todo o meu corpo. Penso que se a ideia era fazer algo diferente, não deu certo. O que ela queria dizer com "focar no carvão"? Fazer com que eu parecesse um pedaço de carvão? Ah, isso sim deu certo. Para completar, me vestem uma capa com as cores do fogo, e a ideia se concretiza em minha cabeça. Sou um carvão pegando fogo.

Minha estilista reaparece.

- Vocês irão brilhar essa noite, vocês irão queimar.

Só então ela me explica que eu e Katniss iremos queimar literalmente, com o fogo sintético que ela e Cinna inventaram. A ideia de um carvão pegando fogo, parece bem mais exuberante agora, depois de saber qual o elemento surpresa dos trajes. Mas parece também, bem mais assustadora, porque, quem garante que nós não iremos nos machucar com esse "fogo de mentirinha"?

Nos encaminhamos então para uma sala, onde encontro Katniss, seu estilista e sua equipe de preparação. Ela está exatamente com a mesma roupa que eu, e com os cabelos trançados. Cinna, seu estilista, é tão normal quanto Portia, e tão bonito quanto ela também. Estaria mentindo se dissesse que isso não me incomoda.

Somos guiados até o andar de baixo, onde irá se iniciar o desfile dos tributos. Cada par de tributo está sendo colocados em carruagens puxadas por 4 cavalos. Os nossos são os únicos cavalos negros. Negros como carvão.

- O que você acha? - Katniss sussurra para mim - Do fogo?

- Eu arranco a sua capa se você arrancar a minha - eu respondo baixinho, totalmente surpreso por essa aproximação dela.

- Fechado - ela completa.

Como só as capas que iriam pegar fogo, se tirássemos elas a tempo, talvez o estrago seria menor. Aproveito a oportunidade, e tento puxar conversa:

- Eu sei que prometemos a Haymitch que faríamos exatamente o que eles dissessem, mas eu não acho que ele considerou esse ângulo.

- Onde está Haymitch, de qualquer jeito? Ele não deveria nos proteger desse tipo de coisa?

- Com todo aquele álcool nele, provavelmente não é aconselhável tê-lo por perto de chamas.

Katniss começa a rir, e isso me deixa aliviado. Talvez ela não estivesse me julgando, me odiando. Talvez seja apenas coisa da minha cabeça. Então eu começo a rir também. E ficamos os dois assim, rindo por um bom tempo. De repente paramos. Começa a música de abertura e, a tensão toma conta de nós dois. Portas enormes se abrem, revelando arquibancadas lotadas de pessoas, eufóricas.

O desfile começa, a carruagem do distrito 1 sai para a cidade, e dá para ouvir os gritos da multidão. Logo a carruagem do distrito 2 sai também, e quando vemos, estamos quase na porta. Quando a carruagem do distrito 11 está quase saindo, Cinna e Portia aparecem com tochas acesas, e tocam fogo em nossas capas. Eu não me movo, fico como uma estátua, esperando a sensação de estar pegando fogo, porém não sinto nada. Fico maravilhado. Portia parece radiante, afinal, funcionou mesmo. Cinna grita algo para Katniss em meio à música alta.

- O que ele está dizendo? - Katniss me pergunta.

Só então eu a olho, ela está ainda mais bela em meio as chamas.

- Acho que ele disse para segurarmos as mãos - arrisco.

Então eu agarro a sua mão, e ela olha para Cinna, como se pedisse uma confirmação. Ele assentiu, fazendo jóia.

Ela me olha mais uma vez, e aperta minha mão. Eu começo a suar, não devido ao fogo artificial, e sim por sentir o seu toque mais uma vez. Continuo olhando para ela, desejando poder nunca soltar a sua mão. Nossos cavalos começam a andar, entramos na cidade.

Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora