Cap 1

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Acordo com a luz do sol em meu rosto. Por Deus, será que perdi a hora? Hoje não seria um bom dia para isso acontecer, e minha mãe nem para me acordar! Mas também, devo ter pego no sono agora, pois lembro de passar a noite inteira acordado pensando em como o dia de hoje pode mudar minha vida para sempre. Ou simplesmente acabar com a minha vida. Hoje é o dia da colheita.
Levanto o mais rápido que posso, apesar do sono desperdiçado durante a noite, ter se depositado sobre mim como um soco, mas tenho muitas coisas a fazer, hoje não é um dia normal e triste como todos os outros dias da minha vida. Chego na cozinha, e meus dois irmãos mais velhos estão tomando o café, comendo tão desesperadamente como se passassem fome, e isso sempre me causa uma secreta revolta, pois em um distrito tão pobre como o nosso quase todas as pessoas passam fome sim, eu acho, mas esse não é o caso da nossa família. Como um pequeno pedaço de pão, que quase entala na minha garganta, enquanto penso em todas as pessoas que não tem o que comer no café, nem no almoço, nem em hora alguma... Penso nela.... Mas logo sou tirado dos meus pensamentos por minha mãe, que entra apressada na cozinha, gritando coisas pra mim, que não faço a mínima questão de entender, vejo que o melhor a fazer, é descer para a padaria.
Como padeiro da cidade, meu pai está sempre lá embaixo, e não é só pelo trabalho que ele passa a maior parte do tempo na padaria, também pudera, tendo uma esposa assim eu também iria preferir viver coberto de farinha. Estou adotando o seu hábito e na maioria dos dias, só subo pra casa à noite para jantar, ou nem isso, pois como ajudo meu pai a fazer pães e decorar bolos, estou sempre beliscando alguma coisa aqui, e ali. O que eu faço não é o trabalho dos sonhos, mas é bem melhor do que trabalhar nas minas, ou caçar ilegalmente na floresta.
Assim que meu pai me vê, ele me lança um olhar de tristeza, como se soubesse que eu iria ser sorteado, mas isso não me assusta mais, pois todos os anos ele me lança esse mesmo olhar no dia da colheita. Não trocamos uma só palavra, e eu prefiro assim, parece que o nosso silêncio diz tantas coisas. Fico ali a observa-lo, poderia fazer isso o dia todo, mas vejo que não tenho mais tempo. Subo, passo pela minha mãe ignorando-a mais uma vez, e vou tomar banho.
Pensamentos invadem minha mente mais uma vez.... Até que não seria tão ruim assim ser sorteado. É óbvio que eu jamais venceria, mas continuar a viver assim, ou morrer não daria quase no mesmo?

Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora