Cap 2

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Quando saio do banho, paro em frente ao espelho trincado que tenho em meu quarto. Me olho com bastante atenção, até porque existe a possibilidade de eu nunca mais ver meu reflexo ali. Hoje realmente é um dia de muitas possibilidades. Á tarde, após a colheita, muitas pessoas irão comemorar com o pouco que tem, o fato de seus filhos não terem sido sorteados. Outros irão chorar, pelo contrário ter acontecido a eles! Minha família? Ah, eles não iriam fazer nada independente de qual das hipóteses acontecesse. Talvez eu esteja sendo injusto, mas acho que só meu pai sofreria com isso. Volto a prestar atenção no meu eu refletido no espelho, e até compreendo o fato dela nunca ter me olhado. Pareço uma lombriga em comparação com aquele Gale, que por onde passa deixa as garotas aos suspiros. Mas esquecendo a comparação, não chego a ser tão recusável assim, pois tenho lá minhas qualidades. Infelizmente os poucos atributos que tenho como meus olhos azuis, meu cabelo loiro, e meu corpo que graças a horas carregando sacos enormes de farinha parece ter ganho algum músculo, parece não chamar a atenção dela! Claro que eu poderia namorar outra pessoa, mas do que adiantaria cometer o mesmo erro de meu pai? Desisto de ficar encarando essa minha pálida realidade, me visto e saio de casa, afinal já está quase na hora.

Decido pegar o caminho mais longo e passar pelo Prego, o mercado negro do distrito 12, onde os mais pobres conseguem comprar alguma coisa. Sempre vejo ela por lá, e esses momentos são os que me deixam realmente feliz. No dia da colheita o comércio costuma abrir mais tarde, mas o prego está sempre funcionando. Pra ser sincero acho que nunca fecha. Pra minha felicidade e tristeza eu vejo ela, acompanhada de Gale, negociando com a velha rabugenta Greasy Sae que apesar de eu nunca ter falado com ela, tem uma fama que fala por si só. Depois dessa cena, acho que já vi o suficiente, engulo em seco e vou para a praça, mais uma vez sem ser notado. No caminho encontro alguns amigos, todos com aquela cara de enterro! Converso com alguns, mas hoje diferente dos outros dias, não estou com vontade de conversar, não depois da cena no prego.

Estou a bastante tempo na praça, está cheio de pacificadores nas ruas e ao redor do palco montado para realizar o sorteio, no caso de alguma coisa sair do controle. As famílias estão todas lá! Começa então a ser formada uma fila para que possa ser feito o cadastro, um furo no dedo, e logo depois que saio da fila, vou para a área demarcada que é onde ficam os “tributos”. Crianças de doze á dezoito anos, mais velhos na frente e mais novos atrás. É quase uma hora, o espetáculo já vai começar! Câmeras e telões por todos os lados. Parece até que vai acontecer uma festa, mas o clima é de solenidade. Também pudera, esses jogos são cruéis. De repente vejo ela. Deixo escapar um –Nossa! ... Ela está linda, com um vestido azul, sapatos combinando e uma trança em seu cabelo negro. Por um segundo apenas tenho a sensação dela estar me olhando, mas quando olho pra trás vejo que é pra Gale que ela olha. Nesse momento, decido tentar esquecer esse sentimento platônico que sinto por ela, mesmo sabendo que o único jeito de isso acontecer seria eu indo para os Jogos Vorazes e morrer na Arena. Só assim esse amor iria morrer, mas comigo.

Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora