Era mesmo bonita. Agora, dentro do quarto, os cabelos não pareciam tão dourados como lá fora na luz do sol. Tinha uma tonalidade mais escura. O rosto estava manchado da maquiagem que borrou, mas ainda assim tinha uma delicadeza hipnotizante.

Desci os olhos analisando seu pescoço fino, o decote do vestido que deixava aparecer a insinuação dos seios firmes, a cintura fina e não consegui me conter: peguei em sua mão. Era muito delicada e macia. As unhas bem-feitas, como Gioconda constatou; e no dedo anelar, um enorme anel de diamante. Soltei a mão no mesmo instante. A estranha nem sem mexeu. Continuava desacordada.

Olhei para meu próprio corpo. Eu estava um lixo. Por isso ela achou que eu fosse um funcionário. Abanei a cabeça e fui para o banheiro tomar um banho rápido e mudar de roupa, para estar mais apresentável e consequentemente, respeitável, quando fosse pressionar ela para saber quem era e de onde vinha.

Depois do banho, diante do espelho, encarei meu rosto. Eu, Thadeo Capello, um homem que nunca teve medo de nada, estava assombrado com essa situação. Parecia um sinal, um mal agouro que ia mudar minha vida e sinceramente, eu não queria mudança.

Sequei os cabelos, passei o pente jogando tudo para trás e saí do banheiro com a toalha em volta da cintura. A noiva estava sentando-se aparentemente tonta e quando me viu, tornou-se estática, olhos saltados e boca aberta.

Os segundos correram sem que nenhum de nós dois tomasse uma atitude. Eu também estava paralisado com os olhos cravados nela.

— O...onde eu... estou? — Gaguejou — Quem é o você, e o que fez comigo?

— Não daria para eu fazer muita coisa com esse tanto de pano interferindo. Apontei com o queixo para o vestido fazendo-a olhar a própria vestimenta.

— Ah, ela já acordou e você a está constrangendo. — Gioconda entrou no quarto. Entrei por uma porta, onde muitos chamariam de closet e eu não chamo de nada. É só um pequeno espaço que eu mesmo construí com prateleiras de madeira que eu mesmo fiz para guardar as roupas. Gioconda arruma fazendo parecer um armário decente.

Quando eu saí de lá, a mulher estava terminando de tomar o suco e em seguida engoliu um comprimido que Gioconda trouxe. Bebeu um copo inteiro de agua. Limpou os lábios com delicadeza e levantou os olhos para mim.

Eu tinha colocado um jeans escuro dos mais novos que tenho e uma camiseta gola polo; tinha tentado uma camisa de botão, mas ficou tinindo nos meus braços. Eu as odiava.

Cruzei os braços e elaborei uma expressão dura provocando desconforto na estranha. Ela enrugou a testa me encarando e depois virou-se para Gioconda.

— Então ele é o patrão?

— Sim eu sou. — Respondi antes de Gioconda abri a boca. — O que está fazendo na minha propriedade? Devo chamar a polícia?

— Oh, não. — agora havia pânico cru em seus olhos verdes. — Por favor, não...

Então puxei uma cadeira e sentei-me bem perto dela. — Me conte tudinho, quem é você e o que está fazendo aqui vestida assim.

— Eu... gostaria de um banho antes e se puder, arranje uma roupa para mim. Posso pagar depois.

— Não senhora. Nada de banho ou regalia aqui até me dizer quem é você — bati palma para ela — Anda, agiliza que eu não tenho muita paciência não.

— Ei, não bata palmas para mim. Você muda de roupa, toma um banho, mas continua o mesmo chucro.

— Eu que mando aqui, então posso falar do jeito que quero. Se você não der com a língua nos dentes, é pé na bunda agora.

Ela soltou o ar todo pela boca, mexeu no anel e pensou um pouco mordendo o lábio rosado. Esse gesto me deixou inesperadamente incomodado. Porque ela tinha uma boca bonita e certamente gostosa de beijar.

— Meu nome é Germânia, mas me chamam de Gema. Eu fugi do meu casamento...

— Fugiu? — Gioconda repetiu, perplexa.

— Sim, porque... eu não queria me casar. — A todo momento ela ficava de olhar baixo, dando a impressão que estava constrangida — Era um casamento arranjado, meu pai estava obrigando e eu não queria. Quero viajar, conhecer o mundo... estava sendo forçada. Por isso não quero que chame a polícia ou eles podem me levar de volta.

— Bom, casamento forçado não é uma novidade. Ano passado meu irmão mais velho foi obrigado a se casar por contrato. — Relatei.

— E o que aconteceu com ele?

— Separou da encapetada e casou-se com quem ele queria, ué. Hoje em dia ninguém manda mais em ninguém não.

— Mas ele me ameaçou... eu fiquei tão amedrontada... Por favor, me deixe ficar uns dias aqui? Só até encontrar um lugar para ir...

— De jeito nenhum. — Levantei da cadeira. — Tire a bunda dessa cama, e rua. — Fui saindo do quarto. eu tinha que ser radical. Não via com bons olhos essa mulher na mesma casa que eu.

— Meu Deus! Mas como a senhora pode morar debaixo do mesmo teto que um cavalo chucro desse? — Criticou para Gioconda. Eu voltei e a encarei.

— Aqui não é hotel e só fica comigo os empregados. Como eu já te disse, existe apenas uma regra para que uma mulher fique: e você não parece ser garota de programa.

Ela levantou-se da cama e segurando o vestido mancou, quase caindo, os olhos brilhando de bravura. Parou bem na minha frente. Tirou o anel do dedo e me entregou.

— É a única coisa que tenho. Fica com você como penhora, só para pagar minha estadia. Por favor.

Gargalhei na cara dela.

— Isso para mim não é nada. Dinheiro já tenho de sobra. Minha resposta é a mesma.

— Tudo bem — levantou o queixo — Eu não vou ficar aqui implorando e me humilhando. — Quase caiu quando deu um passo e eu a segurei.

— Por que está mancando? Se machucou?

Ela olhou para Gioconda e para mim e apertou o vestido contra as pernas.

— Er... sim. Me machuquei. Torci o tornozelo.

— Precisa de um médico?

— Por que finge que se importa? Não disse para eu sair de sua casa? — Foi andando para a porta arrastando o maldito vestido. Gioconda me encarava com uma puta cara de ódio.

. Fique essa noite. Gioconda prepare um banho para ela e o quarto de hospede. Vou ajeitar uma papelada no escritório. Nos vemos no jantar. — Virei-me para sair e Gema me chamou.

— Ei, não disse seu nome.

— Thadeo. — Respondi sem olhar para ela.

Eu precisava de uma boa dose de álcool. Um bom vinho. Como caralhos eu poderia deixar ela aqui por mais de um dia? Eu tinha libido descontrolado e meu pau já tinha se pronunciado que tinha desejo por aquela noiva. Peguei a garrafa de vinho do almoço e nem escolhi uma taça, virei na boca.

— Oi, tem alguém em casa?

Conheci a voz. Era Carmem, advogada que cuidava dos interesses da vinícola.

— Estou aqui Carmem. — Os saltos dela fizeram barulho e logo apareceu na cozinha. Morena, bonita, curvilínea. Eu sempre a quis comer e ela sempre me deu bolo.

— Parece agitado. — Recostou na mesa, me olhando. Eu, apoiado na geladeira.

— E estou. Vinho?

 Ela pegou a garrafa da minha mão e tomou no gargalo. Lambeu os lábios volumosos e sorriu como uma gata selvagem. — Seus vinhos são os melhores. Quer me contar o motivo de seu desconforto?

Pensei sobre o que Gema tinha me contado e como ela estava fugindo de uma obrigação ridícula, eu deveria preservar seu segredo.

— Não é nada. Trouxe novidades para mim?

— Sim. Há um comprador interessado. Vamos conversar? — Envolveu meu braço e seguimos para o escritório.

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[AMOSTRA] O BEIJO DA FERA | Dinastia Capello - 04حيث تعيش القصص. اكتشف الآن