Drácula - Seriado da Netflix (20/01/2020)

13 4 0
                                    

1º Episódio

Pensei em ignorar esse seriado, mas como fã da obra do Stoker, e alguém que passou anos pesquisando e escrevendo um livro com o personagem, acabei decidindo ver. Ainda que pela polêmica.


Primeiro episódio visto. Por enquanto é uma adaptação até interessante. Bem fiel ao livro no início, para depois fazer suas próprias mudanças, a maioria delas interessante. Boa atmosfera, cenas de terror e o ator que interpreta o Drácula está muito bem. Achei bacana também o humor, mesmo mal pontuado em uma ou outra cena.


Até agora o saldo é positivo - mas faço coro a todo mundo que assistiu e se decepcionou depois.Ver o que me espera nos dois próximos.


2º Episódio

Também gostei, talvez até um pouco mais que do primeiro.


A viagem do navio Deméter é reduzida no livro, e basicamente serve para explicar a chegada do Drácula à Inglaterra pelos relatos da tripulação (acredito ser uma das primeiras versões do "diário que vai mostrando o monstro eliminando todo mundo no lugar" tão comum aos filmes de terror e jogos de survival horror que vieram depois).


O seriado soube criativamente expandir esse trecho, colocando o Drácula pra viajar no meio da própria tripulação e criando interações legais de se ver. A falta de suspense em sabermos desde o início que é o vampiro fazendo vítimas ali (no começo achei que iriam criar um mistério sem sentido nisso, o que teria me irritado) é compensada pelo enigma da Cabine 9 e a revelação da situação da Van Helsing, o que cria uma reviravolta interessante na metade do episódio - assim como logo depois os personagens começarem a reagir ao vampiro tentando sobreviver.


Aliás, quase todos os personagens no navio têm personalidade e passado, além de algo que os liga a Drácula de alguma maneira - seja a dança no passado como no caso da duquesa, ou a experiência com mortos-vivos do doutor. O vampiro ter "recrutado" cada personagem ali e criado o palco onde tudo ocorre também amarra bem esses elementos.


A Van Helsing é uma personagem muito interessante e a relação estabelecida entre ela e o Drácula também - aliás, terem introduzido que o vampiro adquire traços de suas vítimas conforme suga seu sangue foi uma ótima sacada.


Gostei do final cliffhanger também, trazendo a trama ao presente.


Por enquanto esse seriado está sendo uma surpresa tão agradável que estou com medo de estragá-la vendo o terceiro episódio.


Mas vamos a ele.


3º Episódio

Acabou.


E eu curti, hauahauahau!


O terceiro episódio é, sim, o mais fraco dos três. E tem problemas de estrutura. Mas no geral o curti também.


Gostei bastante, no geral, da modernização da história - e tudo até a viagem do Deméter ocorrer no séc. XIX para então o clímax saltar aos dias atuais é uma proposta muito boa.


Curti a ideia da "Fundação Jonathan Harker" e de como eles despertaram o Drácula nos tempos atuais, e também adorei a trama da Lucy. Nela, em particular, todos os elementos do livro do Stoker estão lá, mas modernizados: a moça que tem a mão em casamento disputada na nobreza vitoriana torna-se a influencer das redes e baladas, o triângulo amoroso com o Morris e o Seward (faltou o Holmwood, mas ele é citado muito brevemente no primeiro capítulo como alguém do séc. XIX, então foi uma escolha consciente do roteiro), a entrega ao Drácula e por fim a morte - na série muito mais dramática e emotiva do que na história original. Pra mim foi um dos melhores arcos que a adaptação proporcionou.


Achei legal o Drácula descobrindo e se adaptando ao mundo moderno (embora com alguns exageros desnecessários, como o emoji de Drácula na mensagem), todo o arco da Van Helsing (e também como ele termina) e sua relação com o vampiro. Aliás, a maneira como a dinâmica dos dois torna-se central e impulsiona a trama foi bacana igualmente.


Problemas de estrutura: surgem em diversos pontos, mas o pior é a aparição do Mark Gatiss como o Renfield. É mais uma referência ao livro, mas a inserção é forçada (a organização tinha uma segurança e sigilo tão ruins assim? "Drácula" como senha do wi-fi? Mesmo?) e um dos momentos em que a trama menos convence. Eu entendi a intenção: fazer mais piadas com advogados e colocar um elemento do mundo moderno a favor do Drácula, mas não ficou bom - ainda mais quando todos aqueles mercenários armados poderiam simplesmente impedir os dois de saírem.


Além disso, notei furos e inconsistências em alguns pontos, como o corpo do Drácula ficar incorrupto na caixa afundada ao invés de envelhecer, como o primeiro episódio (e o livro) estabelecem, ou o problema da Lucy estar carbonizada poder ser resolvido com ela sugando sangue dos outros para se regenerar (o que eu entendi já ter sido sugerido quando ela morde o cara no crematório, aliás), e o Drácula simplesmente ficar quieto a respeito, deixando a Zoey e o John a convencerem.


Em tempo, e interessante: essa adaptação não foca nem um pouco o romance do Drácula com a Mina Harker, que não existe no livro e foi uma invenção do cinema (principalmente do filme do Coppola de 92, se não me engano) que as adaptações começaram a trazer como algo "canônico" depois.

Apesar de tudo, o saldo da série foi positivo pra mim. E é uma produção que vou passar a recomendar a quem quiser assistir a coisas novas com o personagem.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now