Resident Evil: Uma trasheira, mas com classe... (20/04/2011)

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NOTA: Artigo de 2011 sobre as influências do cinema em Resident Evil. Pode estar desatualizado quanto aos novos jogos - principalmente as inspirações de Resident Evil VII - mas ainda assim fornece um panorama das inspirações à saga.

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Uma trasheira, mas com classe...

You once again entered...

The world of survival horror.

Good luck!

Que jogador assíduo de Resident Evil nunca se sentiu realmente inserido na atmosfera dos games (ao menos dos primeiros deles) ao ler essa frase, com suas respectivas variantes, toda vez que um jogo salvo era carregado? Fora de cada save room havia monstros a serem mortos ou evitados, puzzles a serem resolvidos, uma maldita chave que parecia não estar em lugar algum...

Resident é, sem dúvidas, um marco na história dos videogames. Consolidou um estilo de jogo hoje considerado em extinção – salvo "Dead Spaces" da vida e similares – que por muito tempo intrigou e fascinou toda uma geração. No entanto (e eis que acredito, aqui, estar criando uma polêmica), tenho observado, ao longo dos anos, que muitos fãs da série exageram e, por que não, deturpam um pouco o conteúdo que os games da mesma apresentam...

É certo que RE possui méritos, que não são poucos; porém vários de seus admiradores muitas vezes criam em cima dos jogos uma imagem que não corresponde necessariamente à realidade. Com isso, a cada lançamento, tais fãs esperam dos novos títulos de RE um enredo digno de Oscar e personagens com tamanha profundidade que fariam Shakespeare ficar com inveja. Esbravejam contra roteiros pobres e personagens rasos, invocando informações muitas vezes contraditórias divulgadas pela própria Capcom (que mantém, até hoje, o enredo da série Resident mais esburacado que queijo suíço) e especulações elaboradas pelos próprios fãs, seja através de discussões ou até mesmo fanfiction (neste último caso eu, algumas vezes, me incluo). Dos games de RE são cobradas histórias impecáveis que fujam a clichês, idéias nunca antes pensadas e referências que agradem os fãs que desejam que os nós soltos da trama sejam atados... Mas, convenhamos, Resident algum dia já possuiu tais características?

Encaremos os fatos: Resident Evil é uma trasheira.

Antes que me apedrejem, cabe explicar meu uso do termo: Resident Evil, desde o primeiro jogo, é clichê, trash e raso. E não, isso não é uma coisa ruim: o charme da franquia, sua classe, está justamente em organizar os clichês e referências a filmes de terror das quais se utiliza de maneira instigante e que gere carisma ao jogador. Essa, para mim, é a real essência da série. E não por ela ser um primor de enredo, drama ou qualquer coisa parecida – coisa que ela jamais foi e que, acredito, jamais será.

Algumas pessoas criticam os diálogos de RE1. Mas você já prestou atenção nos outros da série, em sua maioria? Carlos com suas cantadas para cima da Jill, em RE3, é emblemático. Wesker, no Code: Veronica, também não me deixa mentir:

Come on, little fish, come see my hock!

Ou, pelo mesmo Wesker, alguns jogos mais tarde:

Complete global saturation!

Resident Evil nunca teve um enredo profundo ou bem-construído. Ele tem ótimas sacadas, mas é clichê e todo esburacado. Se você quer um game cheio de diálogos bem-elaborados, arquétipos complexos e jogadas filosóficas, recomendo a você Metal Gear Solid ou, mais ainda, Deus Ex (excelente franquia, infelizmente pouco conhecida). Mas nenhuma dessas características fez de RE grande. A série se sustenta justamente no trash, no clima do cinema de terror principalmente oitentista que acabou se mostrando ideal para a atmosfera de survival horror. Talvez o grande estranhamento da maior parte dos fãs com a série a partir de RE4 se deva devido à mudança na fonte de inspiração: saem os filmes de terror pouco críveis e entram os filmes de ação hollywoodianos cheios de façanhas e explosões – originando o survival action. Talvez essa seja a mudança na franquia à qual muitos não puderam se adaptar, e ainda não perceberam. Culpam história e personagens clichês – sem se darem conta que a série sempre foi assim, de modo geral.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now