15 | p e s a d e l o s

ابدأ من البداية
                                    

Suas mãos frágeis agarram meus braços, seus olhos congelados de terror capturando os meus no exato momento em que um raio corta o céu.

Ela se agarra em mim e sussurra:

"Detesto tempestades."

Abro os olhos em um rompante, o suor deixando meus poros em abundância e melando minhas roupas de cama. Pestanejo, recobrando a consciência aos poucos.

Um pesadelo.

Minha mãe. Meu pai. Clare.

Um pesadelo, com toda certeza.

Ergo o tronco, jogando as pernas para fora da cama. Prestes a levantar, o aperto agonizante que sinto sob o peito me detém. É como se meus pulmões tivessem sido prensados. Esmagados. Até mesmo respirar dói.

As memórias do acidente me atormentaram durante muito tempo após o ocorrido, assolando minhas noites em imagens distorcidas e aterrorizantes; o rosto dos meus pais, vezes serenos e vezes dilacerados, o cheiro metálico do sangue, a lataria amassada ao meu redor e o cheiro de fuligem, sirenes, o grito agudo que rasgou a garganta da minha mãe antes da colisão.

E depois, Clare.

Seu rosto voltava para me assombrar todas as noites, se misturando com o caos que já habitava meus sonhos.

Eles nem sempre começavam iguais, mas sempre terminavam da mesma forma. Clare aparecia e seus grandes olhos me sugavam. Eu rodava, e rodava. O azul das suas íris se expandia, me engolindo. Eu sempre acabava embaixo d'água, meus pulmões sendo preenchidos pelo líquido gradativamente. Eu tossia, não conseguia respirar. E então, acordava.

Com o decorrer dos anos, os pesadelos cessaram e eu passei a ter noites tranquilas de sono. Olheiras? Só as de ficar até tarde em uma festa qualquer.

Até hoje.

Me levanto da cama, sem entender ao certo a volta repentina dos pesadelos e o fato de este, em particular, não ter terminado como todos os outros.

Há uma boa teoria de Nietzsche para os sonhos, na verdade. No sonho que temos durante o descanso, o sonho natural, todos os acasos se interligam, criando um sentido, trazendo-nos sensações – ora agradáveis e ora desagradáveis. Porém, esse sonho só existe com a carência do impulso casual, ou seja, da manifestação pela busca de razões, dos porquês.

Talvez seja isso.

Uma razão. Um porquê.

É tudo de que preciso. É isso que meu eu interior tenta alcançar todas as vezes que repassa o acidente em minha mente, durante o sono.

Uma explicação.

Por que eu? Por que comigo?

Bufo, disposto a esquecer o assunto. Mas quando me levanto, todo o meu corpo protesta, dando sinais de uma noite mal dormida.

Porra, xingo mentalmente. Pensei que já tivesse superado essa merda.

Tomo uma ducha rápida, me abastecendo com uma boa xícara de café preto e amargo antes de ir para a faculdade.

Aleluia, cafeína.

A aula discorre normalmente. Estamos estudando os filósofo pré-socráticos, cujas teorias são as mais faladas no ensino médio. Porém, tal assunto não é aprofundado na escola. Na faculdade, por outro lado, tudo é muito mais complexo.

Não que eu tenha alguma dificuldade em acompanhar, é claro.

— "Tudo flui e nada permanece" — a voz desgastado do Sr. Arnold ecoa pela sala de aula, vibrante e marcante. — De quem é essa citação?

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