— Não é impressão, é verdade. — Dei de ombros. — É a mais distante da civilização e eu vinha muito aqui tempos atrás.
Abri a porta e logo tirei a bota que calçava, dobrei a barra da calça e peguei um casaco no banco de trás e o amarrei na cintura. Tudo sob o olhar curioso dele.
— Espero que você tenha fôlego, porque você vai ter que me alcançar. — Foi o que eu disse antes de bater a porta do carro e sair correndo para areia.
Comecei a sorrir assim que ouvi seus gritos de reclamação logo atrás de mim. Não demorou muito e logo Luke tentava me alcançar e só conseguiu porque eu parei para amarrar o casaco na cintura novamente.
Ele veio até mim suspirando. Os olhos focados nos meus, a pele branca destacada contra a luz da lua crescente. Vinha ao meu encontro. Antes que ele pudesse me abraçar, eu corri de novo.
— Mike pare de fugir de mim!
— Você vai ter que começar a correr mais rápido! — Gritei de volta.
Corremos como dois idiotas um atrás do outro. Ora jogando areia no outro com os pés, ora roubando beijos cada vez que nos alcançamos. O vento batia contra o corpo e o fato de o sangue correr quente nas veias não nos fazia sentir frio.
Poderíamos congelar esse momento e vive-lo em looping.
Seria uma boa lembrança, por outro lado. A forma como duas pessoas sorriam, a luz da lua na praia sem mais nada para serem felizes. Como a maresia trazia o ar salgado para nossas peles e como a noite brilhava em estrelas que iluminavam a escuridão do céu com certeza poderiam fazer parte de algum romance por aí.
Ficamos nessa até que estarmos cansados demais para correr. Tirei o casaco da cintura e ajudei Luke a subir em cima das mesmas pedras que sentamos a um ano atrás. As ondas quebravam contra elas e a água fria e salgada respingava em nossos pés. O vento era mais forte na praia a essa hora da noite. Já passava da meia noite e provavelmente ninguém se aventuraria em entrar no mar a essa hora.
Ficamos olhando para o nada, sentindo nossas respirações profundas, as ondas quebrando, o vento batendo em nosso rosto e nossos corpos abraçados. Sua cabeça apoiada no meu ombro, seu tronco coberto pelo meu casaco, as mãos escondidas nos bolsos.
— A primeira vez que viemos aqui, você me perguntou porque cursar música mesmo depois de desistir de tudo que eu fazia antes do acidente. — Eu quebrei o silêncio. Sabia que ele me ouvia, não precisei falar alto, a voz baixa mantinha o clima confortável. — A verdade era que a música era a única coisa que ainda me mantinha em pé. Era o meu elo com o que eu tinha de bom antes, como eu podia extrapolar depois. Música era tudo o que eu tinha. Sim, eu não cantava desde a noite do acidente, mas o fato de poder tocar já me era libertador, entende? Hoje eu fiquei com medo mesmo depois de me apresentar tantas outras vezes e não entendia o motivo, mas agora eu entendo. O tempo pode passar mas a forma que eu lido com a música é intimista, pessoal, é mais do que tocar para pessoas, sou eu ali, eu me exponho para pessoas que não sabem quem eu sou ou como sou e pensar que elas podem não gostar do meu eu da forma mais pessoal me deixa assustado, como também mostrar de mim a elas.
Luke puxou ar para os pulmões. A respiração era tranquila, assim como ele aparentava estar.
— Acho que faz sentido isso. — Ele disse. — As coisas não mudam da noite para o dia, você tem que ir se acostumando com a mudança, aprendendo a lidar com essas coisas. Você é incrível demais para se sentir assim, mas é incrível que possa sentir-se tão conectado com algo que ama. Eu me sinto orgulhoso de você por isso.
O puxei mais para perto de mim. Podia sentir o seu cheiro misturado com o sal da maresia.
— Com o tempo eu vou aprendendo. — Eu disse.
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How to Fix a Broken Heart ~ •Muke•
FanfictionMichael lida com a perda de seus pais em um acidente de carro enquanto tenta se reconstruir e seguir em frente. É então que ele conhece Luke, um garoto animado e sempre feliz, que esconde uma grande tristeza e dor por debaixo de toda positividade e...
