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Estavam esperando no sofá da minha casa, Luke, Calum e Mali (entediada demais para se importar com qualquer um de nós). Tia Joy estava sentada na poltrona que ficava na sala. Antigamente, meu pai que ficava lá. Descansava o corpo depois de um longo dia de trabalho, enquanto minha mãe se sentava no mesmo sofá que eu me sentava e passavam um bom tempo falando como fora o dia um do outro e logo depois, tinha o jantar. Minha mãe amava fazer torta pra sobremesa. Era o motivo de eu sempre comer toda a minha comida. Mesmo com dezoito anos, eu ainda tinha essa mania adquirida na infância.

A lembrança me fez soltar um suspiro pesado. Esse ato não foi despercebido por Luke, que sorriu sem jeito. Eu só assenti em resposta. Não sabia como reagir.

- Michael? - A mulher sentada na poltrona me chama. Sua voz fria e carregada de rancor. Droga. - Poderíamos conversar na cozinha?

Fiz que sim e me dirigi a cozinha. Penso ter ouvido Luke dizer algo parecido com "Faça o que tem que ser feito", mas acho que foi coisa da minha mente doente.

Bom, a cozinha era grande e mesmo tendo uma sala de jantar entre ela e a sala de estar, se ela falasse certas oitavas mais alto, poderia muito bem ser ouvido da sala. Eu estava rezando para que isso não acontecesse, mesmo sabendo ser meio impossível, ainda mais vindo da minha tia.

Sentei-me à mesa na cozinha e me preparava mentalmente para o que poderia acontecer. Sei que estou sendo dramático, mas as vezes aquela mulher me dava medo. Seus olhos semicerrados faziam minha pele congelar mesmo usando moleton.

- O que aconteceu com você essa semana? - Sua voz era controlada. A psicóloga estava falando a frente da mãe. - Você andou me ignorando, quando me atendia, era vago, eu não entendi. Eu mereço uma explicação. - Agora a mãe sobrepôs a psicóloga.

Eu suspirei alto. Não sei o que dizer. Sabia que falar a ela "eu só não estava com vontade de te atender porque eu sou rancoroso, e odeio a forma que acha que minha cura é me empanturrar de remédio e proteção como se fosse uma criança", era pedir pra sair da cozinha sem pelo menos um olho bom. Mas por outro lado, sabia que devia ser sincero.

Mas então eu fico pensando. Ela foi a única pessoa que realmente quis me tratar, me pôs embaixo da sua asa e decidiu praticamente me adotar como seu terceiro filho. Eu devia muito a aquela mulher. Devia minha vida. Mas não sabia ao certo se essa falta de delimitação de limites entra psicóloga/mãe era saudável pra mim.

- Eu sentia que precisava pôr em prática o plano de tentar me virar. - Minha voz não elevava o tom. Não ousava fazer isso também.

- Você não pode fazer isso por conta própria. - Joy deixava sua emoção a tomar, pois seu tom de voz já começou a elevar alguns níveis. - Você precisa ter acompanhamento, precisa de certa ajuda, um norte para guiar sua direção.

- Mas também preciso praticar poder me virar sozinho de novo. - Rebati.

- Michael, eu sei que você quer ser independente novamente, superar todos os seus traumas - Já me preparava para uma cena digna do Oscar. -, mas você sofreu uma situação traumática semanas atrás, precisa ir devagar, precisa respirar e descansar. Tem que trabalhar o pânico e sua maneira de lidar com situações assim.

- Eu estou bem.

- Não, não está.

- Certo, não estou. - Respirei fundo. - Mas não é por conta do que aconteceu semanas atrás, mas sim porque eu não sei o que fazer. Eu preciso seguir em frente, mas não aceito a perda, eu quero ser necessário. Eu ser necessário por mim e para mim mesmo. Não os outros serem necessários para mim.

How to Fix a Broken Heart ~ •Muke• Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon